G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências |
|
O ENSINO DE CIÊNCIAS, A CULTURA CIENTÍFICA E A QUESTÃO DA INCLUSÃO SOCIAL : UM ESTUDO EM UMA COMUNIDADE ESCOLAR DO ENTORNO DE UM ANTIGO HOSPITAL COLÔNIA LIGADO À HANSENÍASE |
|
Danielle Grynszpan 1 |
Ivonete Cavalieri 1 |
|
(1. Setor de Alfabetização Científica, Dep Imunologia, IOC/ Fiocruz) |
|
|
INTRODUÇÃO: |
Dentre os problemas que afligem e desafiam nosso país neste início de século XXI, a exclusão social representa um dos mais graves. Este trabalho é parte integrante de uma pesquisa de mestrado em Ensino em Biociências e Saúde pelo Instituto Oswaldo Cruz - IOC/FIOCRUZ e teve por objetivo verificar, através da investigação realizada nas escolas localizadas próximas ao Hospital Estadual Tavares Macedo – HETM (referência em hanseníase), os conhecimentos e visões que a comunidade escolar possui sobre a hanseníase, já que esta doença pode significar um estigma, gerando discriminação contra enfermos, ex-portadores e seus familiares. Esta pesquisa pretende, com base nas informações coletadas por meio de abordagem qualitativa de pesquisa, contribuir para o enfrentamento de questões relacionadas ao preconceito, que a sociedade de Itaboraí, onde o hospital se encontra. Desta forma, conhecer as visões de educadores e educandos sobre uma enfermidade, que é endêmica na região, pode favorecer um trabalho que visa criar as condições necessárias para um processo educativo contextualizado, que leve à apropriação não só do conhecimento sobre a hanseníase, mas também à inclusão social e, mais ainda, sirva à melhoria das relações humanas no seio da comunidade escolar e, quiçá, na região do entorno do HETM.
|
|
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi realizada com uma amostra total de 53 entrevistados, sendo 22 alunos e 31 profissionais de ensino vinculados a uma das quatro escolas. Os alunos selecionados foram os maiores de 12 anos de idade, de cada unidade escolar, do Ensino Fundamental e Médio incluindo o Ensino para Jovens e Adultos (EJA). Todos os entrevistados foram codificados a fim de que fossem preservadas as suas identidades.
A pesquisa qualitativa, de cunho fenomenológico, onde o ator ocupa um lugar proeminente, mostrou-se mais apropriada ao nosso trabalho. Utilizamos, assim, de acordo com Trivinõs (1987), um processo de pesquisa no qual a dimensão subjetiva favorece a flexibilidade da análise dos dados. O trabalho de campo possibilitou registros derivados da observação bem como realizamos entrevistas semi-estruturadas, que foram gravadas. O roteiro das entrevistas procurou abarcar questões que pudessem facilitar a compreensão sobre as realidades escolares do entorno do HETM, buscando saber se havia enfrentamento da questão regional da hanseníase e como o faziam. Transcrevemos as fitas, levantando, na amostra estudada, qual a contribuição das escolas em relação ao conhecimento desta questão grave na região, bem como conhecer o grau de informação sobre hanseníase e as concepções, crenças e atitudes de estudantes e professores em relação à doença.
|
|
RESULTADOS: |
Os resultados mostraram que a comunidade escolar, inclusive os próprios portadores ou ex-portadores de hanseníase desconhecem o tratamento, não acreditam na cura da doença e possuem conceitos distorcidos, ou seja, o assunto da hanseníase continua sendo tabu nas escolas pesquisadas. Assim, percebemos que o conhecimento de educadores e educandos sobre hanseníase é precário. Também ocorre uma falta grave de trabalhos educativos que possam esclarecer a comunidade escolar sobre esta enfermidade endêmica na região. Nossos dados apontam que esta falta pode ser atribuída a preconceito, insegurança e medo de tratar do tema, sendo que esta dificuldade pode ser atribuída tanto aos alunos como aos profissionais do ensino.
|
|
CONCLUSÕES: |
A depreciação do portador de hanseníase, historicamente construída, parece ainda estar sendo cultivada pela sociedade, malgrado a perspectiva atual de cura. A ignorância a respeito de aspectos fundamentais e esclarecedores sobre a enfermidade repercutem na auto-estima e na auto-imagem dos portadores e ex-portadores da doença, bem como de suas famílias, prejudicando as relações humanas e impedindo a inclusão social. Urge estimular a comunidade escolar local para o desenvolvimento de atividades contextualizadas no processo educativo. Estas podem contribuir para fomentar a apropriação do conhecimento, integrando vivências e abrindo perspectivas de ação no cotidiano.
Uma comunidade escolar não possui conhecimento satisfatório sobre hanseníase não se justifica em uma região que é endêmica. A escola tem um papel social fundamental e deve poder selecionar determinados temas como prioritários em seu currículo, especialmente aqueles cujos conteúdos sejam relativos à problemática local. Acreditamos que as unidades escolares estudadas não devam deixar de enfocar a questão da hanseníase, com o risco de deixar escapar importantes oportunidades de crescimento pessoal dos alunos e desenvolvimento profissional dos professores, além de contribuir para a inclusão de pessoas que hoje ainda são estigmatizadas. Todo preconceito deriva da falta de um trabalho educativo, que vai muito além da simples divulgação das grandes descobertas da medicina.
|
|
Instituição de fomento: FAPERJ
|
|
|
|
Palavras-chave: Educação; Saúde; Hanseníase. |
|
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |
|