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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 10. Psicologia Hospitalar e Psicossomática
COMPREENDENDO A DOENÇA RENAL CRÔNICA
Marcela Novais Medeiros  1
Gisele de Andrade Mendes  1
Adriana Barbosa de Freitas Capparelli 1
(1. Universidade Federal de Uberlândia)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa que aborda a compreensão das vivências dos indivíduos portadores de insuficiência renal crônica – irc. A IRC é uma doença crônica que resulta de sinais e sintomas decorrentes da incapacidade renal de manter a homeostasia interna do organismo, sendo necessário um tratamento contínuo. Os tratamentos médicos envolvem a diálise peritonial, hemodiálise e o transplante renal (RIELLA, 1996). No Brasil há aproximadamente 25.000.000 pessoas com doenças crônicas, entre as quais pode-se citar a IRC (RICARDO E SANTOS, 2001). Esses doentes crônicos deparam-se com a tarefa de compreender e aceitar essa doença para conseguir viver sendo portador dela (SANTOS e SEBASTIANI, 2001). A IRC tem impacto negativo sobre níveis de energia e vitalidade, pode reduzir as interações sociais e causar problemas relacionados à saúde mental (TAMBURINI, 2000). Devido a estas questões e a necessidade do portador de IRC adaptar-se ao tratamento, o psicólogo hospitalar, vem se deparando com a tarefa de participar da equipe de saúde que realiza o atendimento de portadores de doenças crônicas. Este estudo visa compreender como é ser portador de uma doença renal crônica, quais as vivências, dificuldades e adaptação à doença e ao tratamento.
METODOLOGIA:
Foi utilizada a investigação fenomenológica, a qual envolve o olhar para o fenômeno e o estudo sistemático desse para que se possa compreender o objeto em sua essência e não apenas em sua representação (Martins e Bicudo, 1989). A pesquisa foi realizada em um hospital da rede privada de uma cidade do interior de Minas Gerais. Foram entrevistados treze doentes renais crônicos que fazem hemodiálise nesse hospital, sendo oito homens e cinco mulheres. As idades dos entrevistados variaram entre vinte e dois e setenta e três anos, e o tempo de hemodiálise, entre um ano e meio e quinze anos. A escolha dos sujeitos foi por amostragem não-probabilística e acidental. As entrevistas foram realizadas no momento em que eles estavam sendo submetidos à hemodiálise, e em duplas, para que houvesse uma pessoa somente anotando as falas. Após cada entrevista, a dupla releu as anotações e fez as devidas complementações. A questão norteadora das entrevistas foi: como é para o sr. (sra )vivenciar uma doença renal crônica? O que significa para o sr. Srª fazer a hemodiálise? A análise foi feita segundo a metodologia fenomenológica: ler a descrição para familiarizar e entrar em contato com a experiência vivida como um todo. Num segundo momento, ler novamente as entrevistas, na busca de identificar unidades de significado e categorias de analise. Depois, buscar o significado contido em todas as unidades identificadas e por último fazer a síntese a fim de chegar à estrutura do fenômeno.
RESULTADOS:
As falas das pessoas entrevistadas foram agrupadas nas seguintes categorias: reação frente ao diagnóstico e da necessidade de fazer hemodiálise; motivos para inicio da hemodiálise; sentimentos; religiosidade; relação com a família; restrições decorrentes da doença; lazer e sociabilidade; transplante; vínculos com a equipe. Nas entrevistas observou-se que os pacientes apresentavam resistência quanto à se submeterem à hemodiálise, pois se sentiam impotentes quanto à eficácia dessa. Foi notado certo grau de submissão e conformismo em relação ao processo de hemodiálise no decorrer do tratamento, bem como humor deprimido quanto ao fato de vivenciar à doença. Tristeza angústia e desconforto foram percebidos diante das restrições impostas pela doença, entretanto, alguns pacientes demonstraram autonomia e atitude e enfrentamento. O fato de terem que se aposentar foi relatado como difícil, suscitando raiva e tristeza: “Minha maior tristeza é em não poder trabalhar mais do jeito que eu trabalhava”. O apoio da família em todos os casos foi relatado como importante para o enfrentamento da doença. O transplante é visto como maneira de “voltar a viver normalmente”. Ao receber o diagnóstico estão presentes medo da morte, desespero e choro: “Fiquei muito abalada psicologicamente, chorando muito, foi pavoroso, sem saber do amanhã”. O desconhecimento sobre a doença e hemodiálise, dificultam a adesão a essa, sendo a considerada um procedimento invasivo, e “deixa dependente”.
CONCLUSÕES:
Ao entrar em contato com as experiências do doente crônico renal, foi possível compreender como é para esses doentes viver enquanto ser doente, chegando assim no fenômeno interrogado. As considerações feitas no presente trabalho são relevantes para o entendimento das especificidades das vivências do doente crônico renal. Assim, espera-se que tais reflexões contribuam para o atendimento médico e psicológico oferecido a tais indivíduos.
 
Palavras-chave: Psicologia Hospitalar ; Fenomenologia; IRC.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006