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F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Direito - 10. Filosofia do Direito
ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL DE MICROEMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS
Marcel Stenner dos Reis 1
Miracy Barbosa de Sousa Gustin 1
Deivisson Oliveira Silva 1
Leonardo Balbino Mascarenhas 1
Rafael Castro de Paula Machado 1
Renata Versiani Scott Varella 1
(1. Programa Pólos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG)
INTRODUÇÃO:
O Projeto Incubadora de Cooperativas do Programa Pólos de Cidadania desenvolve, em comunidades com histórico de violência e exclusão social, atividades relacionadas à geração de renda por meio da constituição de cooperativas populares. No processo de incubação, faz-se necessário, para a escolha da atividade a ser desenvolvida, um estudo no intuito de verificar a viabilidade econômica do empreendimento. As alternativas comumente empregadas são instrumentos de análise econômica de projetos que contemplam apenas os princípios de eficiência econômica, desconsiderando o ótimo social desejado, que diz respeito às condições de bem estar dos cooperados. Surgiu, portanto, a necessidade de desenvolver uma nova abordagem na análise da viabilidade econômica das unidades produtivas populares, buscando adequá-la às peculiaridades dos empreendimentos solidários e aos princípios do cooperativismo. Este novo padrão, o qual se denomina Análise Multidimensional de Microempreendimentos Solidários, para perquirir a viabilidade econômica desses empreendimentos considera também aspectos qualitativos como o bem estar social, interesse comunitário e afinidade com a atividade. Acredita-se atingir, concomitantemente, a maximização de resultados econômicos, de ordem quantitativa, e de resultados socais, de ordem qualitativa.
METODOLOGIA:
Buscou-se alcançar uma nova forma de pensar as possibilidades de sucesso de um microempreendimento solidário, a partir da hipótese de que a inclusão da variável bem estar social é mais apropriada como forma de maximizar não só as eficiências econômicas e produtivas, mas também conduzir a resultados em que se obtenha o máximo de bem estar desejado. Entende-se por bem estar social as preferências e expectativas dos cooperados em relação às possibilidades de arranjos produtivos, considerando as limitações ponderadas pelos grupos produtivos solidários em relação ao trabalho. A coleta de dados referentes à estrutura de custos e engenharia de produção foi mantida conforme os métodos tradicionais de planejamento. A diferença encontra-se na variável de bem estar social, obtida por meio da Pesquisa-Ação, metodologia fundamentada nas teorias de Michel Thiollent que tem como pontos marcantes a ampla interação entre pesquisadores e comunidade e entre conhecimento e ação social, tendo a comunidade como sujeito ativo no decorrer da pesquisa. Procedeu-se à delimitação do produto pela comunidade a partir de uma pesquisa de mercado preliminar dentro dos setores demandados, quais sejam corte e costura, culinária e bijuteria. Realizou-se entrevistas semidiretivas com técnicos, profissionais e representantes de associações ou cooperativas dos setores e/ou produtos. Com isso, fez-se pesquisa de mercado, detalhamento da engenharia, estrutura de custos e conseqüente estimação de receita provável.
RESULTADOS:
Ao longo das atividades desenvolvidas, constatou-se certa dificuldade no dimensionamento da variável bem estar social, tendo em vista que esta depende do contexto em que o grupo está inserido no momento e devido à própria diversidade dos envolvidos, sendo, portanto, eminentemente mutável. Dessa forma, só se tornou mensurável a partir de uma análise qualitativa, para a qual se fez necessário um convívio e uma interação intensa dos pesquisadores com os grupos interessados. Percebeu-se que a consideração da variável bem estar social na análise do empreendimento trouxe resultados diversos daqueles adquiridos por uma análise puramente técnica, isto é, por uma metodologia tradicional de pesquisa para empresas. No entanto, a inclusão de uma variável qualitativa não tornou possível um resultado exato ou determinado, por seu caráter impreciso, mas tão-somente ocasionou a construção de quadros de possibilidades, que tentaram traduzir e transportar as limitações qualitativas estabelecidas pela comunidade para o estudo econômico quantitativo. Os resultados determinados nestes quadros podem ou não ser assumidos pela unidade de produção solidária, a qual caberá a discussão e posterior tomada de decisão.
CONCLUSÕES:
Mediante os resultados obtidos, notou-se que a análise multidimensional conduz a resultados mais adequados à realidade dos microempreendimentos solidários, acarretando conclusões socialmente sustentáveis para o grupo envolvido, com menor possibilidade de abandono das diretrizes alcançadas pelo estudo e do próprio empreendimento. Com isso, a análise multidimensional revela-se um avanço para a construção de um caminho com maiores probabilidades de sucesso para as unidades produtivas solidárias. Na análise multidimensional, a viabilidade econômica só é plenamente alcançada levando-se em conta as condições determinadas pelos cooperados na dinâmica do trabalho, tornando-se obrigatória a observação da perspectiva de realização profissional e pessoal esperada pelo grupo. Dessa forma, uma atividade pode se tornar economicamente inviável mediante uma análise qualitativa que conclua ser necessário para o sucesso do empreendimento um trabalho excessivo e penoso. Cumpre salientar que a análise multidimensional se adequa aos princípios cooperativistas, na medida em que todo o processo é compartilhado com a comunidade, de forma democrática, no intuito de construir um plano de negócios, cuja base é a solidariedade e a ajuda mútua entre os cooperados.
Instituição de fomento: Pro Reitoria de Pesquisa e Extensão da UFMG
 
Palavras-chave: pesquisa-ação; microempreendimentos solidários; estudo de viabilidade econômica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006