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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
Análise das práticas educativas em saúde do PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO DISTRITO sANITÁRIO II DA CIDADE DE João Pessoa, PARAÍBA
Fernanda Isabela Daniel Gondim  1
Aline Barreto de Almeida  2
Pedro José Santos Carneiro Cruz  3
José da Paz Oliveira Alvarenga 4, 5, 6
(1. Acadêmica de Medicina na Universidade Federal da Paraíba (UFPB); 2. Acadêmica de Fisioterapia na UFPB; 3. Acadêmico de Nutrição na UFPB; 4. Prof. do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica e Administração da UFPB; 5. Mestre em Ciências da Nutrição pela UFPB; 6. Orientador)
INTRODUÇÃO:

Torna-se essencial compreender a educação como uma atividade humana universal com o intuito de formar indivíduos para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social, e a saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social. Assim, a interseção entre estes dois campos mostra-se fundamental como propostas pedagógicas das práticas educativas em saúde. Nesse sentido, a Educação em Saúde deixa de ser uma atividade a mais realizada nos serviços para ser algo que atinge e reorienta a diversidade de práticas aí realizadas, tornando-se um instrumento de construção da participação popular nos serviços de saúde e de aprofundamento da intervenção da ciência na vida cotidiana das famílias e da sociedade. A aproximação à realidade dessa perspectiva configurou-se no Programa Saúde da Família (PSF). Entretanto, é necessário compreender a relação entre educação em saúde e atenção básica como fundamental para a promoção da saúde e perceber o quão importante é o conhecimento da aplicabilidade dessa relação no PSF e suas ações. A partir desta pesquisa, objetiva-se analisar a real situação em que se encontra a realização de práticas educativas no contexto da atenção básica do Distrito Sanitário II do município de João Pessoa (PB). Nesse ínterim acreditamos levar esta análise crítica à discussão, contribuindo para maior reflexão e amadurecimento dos profissionais quanto à promoção dessas ações educativas nas comunidades.

METODOLOGIA:

Em um primeiro momento, realizou-se uma pesquisa documental e quantitativa, com abordagem indutiva e técnica estatística descritiva, a partir da análise de registros do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIASUS) em relação às práticas educativas em saúde desenvolvidas em Unidades de Saúde da Família (USF) durante os últimos seis meses do ano de 2005. Do universo de 35 USF que constituem o Distrito Sanitário II da cidade de João Pessoa -PB, foram selecionadas aleatoriamente uma amostra de 8 Unidades (22,86%). As variáveis avaliadas incluíram: freqüência mensal e constância, observando-se tanto as atividades realizadas na comunidade quanto nas USF. Como os enfermeiros são, na prática, os principais responsáveis pela realização e registro das ações educativas, ocorreu, em uma segunda etapa da pesquisa, a realização de entrevista com esses profissionais. Para tanto, foi utilizada uma abordagem indutiva, por documentação direta através de questionário qualitativo, avaliando os seguintes aspectos: concepção sobre atividade educativa em saúde, suas metodologias e formas de selecionar temáticas, dificuldades para suas práticas, motivações e avaliação dessas atividades. A análise dos resultados constituiu em considerar os relatos escritos, depreendendo deles significações para cada idéia central. Os entrevistados assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução nº 196/96 do Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS:

Os registros do SIASUS demonstraram uma baixa freqüência de atividades educativas nas unidades pesquisadas (média aritmética de 2,98 atividades/semestre). Além disso, muitas unidades realizaram as ações de maneira inconstante, com oito atividades em um mês e nenhuma nos demais meses, conforme apresentado em uma das unidades. Quando questionados, os profissionais levantaram como principal dificuldade a falta de apoio material e incentivo político da gestão. Diante deste quadro, a avaliação dos profissionais sobre a qualidade das atividades se remete à carência de apoio e falta de prioridade na educação. Quando as atividades aconteceram, revelaram-se improvisadas e pouco articuladas às reais necessidades da população. Outro fator que pode interagir nessa complexidade de relações é a concepção de educação dos profissionais. Em sua maioria, perceberam as atividades educativas em saúde como uma estratégia para prevenção de doenças; outros como uma transmissão de conhecimentos que ajuda a resolver problemas vividos no local. Apenas dois conceituaram educação como um mecanismo capaz de mudar o painel de saúde/doença vivido no contexto da atenção básica. Contraditoriamente, este quadro se desenhou em um programa que encontra na educação um importante pilar de sustentação; afinal, o PSF foi idealizado como um modelo de atenção mais próximo dos problemas sociais, possibilitando um acompanhamento não só do adoecimento, mas dos fatores inerentes ao chamado "processo saúde/doença”.

CONCLUSÕES:

O espaço criado pelo PSF no contexto de atenção à saúde privilegia justamente a prática de ações mais pedagógicas e formadoras, capazes de contribuir para a transformação do quadro de saúde de algumas populações. Os significados e representações sobre a educação no contexto do PSF apreendidos neste estudo depreendem, no entanto, a enorme complexidade que o envolve. É uma estratégia de atenção que permite, em sua essência, o envolvimento de profissionais de saúde, membros e organizações comunitárias e demais instituições da sociedade, como a Universidade. Essa interação entre atores socialmente tão distintos confere ao Programa diversas interfaces com as quais se precisa dialogar, no sentido de transformar a lógica dominante e/ou imprimir uma nova dinâmica em sua realidade. A este pensamento também está remetido o fazer de educação em saúde; ou seja, não basta lutar pela educação no PSF porque ela é um eixo importante do programa, mas devem-se avaliar as dificuldades e desafios existentes, apontados significativamente neste estudo. Faz-se necessário trabalhar a importância e as virtudes destas práticas, junto com as pessoas que fazem saúde, ou seja, os profissionais, os usuários e os gestores. Ao abordar as concepções, metodologias e motivações que envolvem as ações educativas em saúde, se poderá pautar uma discussão efetiva, que objetive descobrir caminhos para implantação processual desta perspectiva na realidade do PSF.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Programa Saúde da Família (PSF); Saúde Coletiva; Educação em Saúde.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006