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C. Ciências Biológicas - 9. Imunologia - 1. Imunologia Aplicada

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA HEMÓCITOS DE Litopenaeus vannamei.

Caroline Heidrich Seibert  1
Aguinaldo Roberto Pinto  1
Carlos Roberto Zanetti  1
Rogério Gargioni  2
Margherita A.A.M. Barracco  2
(1. Laboratório de Imunologia Aplicada/MIP/CCB/UFSC.; 2. Laboratório de Imunologia Aplicada à Aqüicultura/BEG/CCB/UFSC)
INTRODUÇÃO:

O Litopenaeus vannamei, também conhecido como ‘camarão branco’, é a espécie de camarão mais cultivada no Brasil. Este crustáceo não apresenta um sistema imune adaptativo, somente inato ou natural, sendo, portanto, incapaz de produzir anticorpos e células de memória, o que impossibilita o desenvolvimento de vacinas para prevenir infecções no cultivo. Nos camarões, o seu sistema imune está intimamente relacionado à hemolinfa, que se subdivide em uma fração líquida e uma fração celular, composta por hemócitos.

Os hemócitos podem se dividir em três subpopulações que se distinguem pela característica de grânulos citoplasmáticos: hemócitos hialinos, hemócitos semigranulares e hemócitos granulares. Contudo, apesar de haver essa classificação citológica, ela não é uniforme e universalmente aceita, devido a essas células serem muito instáveis in vitro, fazendo do seu estudo uma atividade árdua. Atualmente há muitos avanços tecnológicos que permitem estudos minuciosos, por exemplo, a produção de anticorpos monoclonais (AcMo). Essa técnica foi primeiramente descrita por Köhler e Milstein em 1975, e possibilitou a propagação de linfócitos B in vitro e a produção desses anticorpos específicos.

Portanto, este estudo visa à produção e caracterização de anticorpos monoclonais contra os hemócitos de L. vannamei, para auxiliar estudos da biologia celular dessas células, permitindo um maior entendimento dos mecanismos de defesa destes camarões tão importantes à carcinicultura brasileira.

METODOLOGIA:

A hemolinfa de L. vannamei foi retirada com anticoagulante da porção ventral do primeiro segmento abdominal, sendo que quando os hemócitos não eram utilizados imediatamente, eles foram fixados com 10% de paraformaldeído e estocados a 4ºC.

Para a fusão, cinco camundongos BALB/c foram imunizados quatro vezes com 2x106 hemócitos fixados (uma imunização subcutânea e três intraperitoneais), com uma semana de intervalo entre as doses. Na 4a imunização, uma sorotipagem foi feita por imunofluorescência indireta (IFI), fazendo um reforço endovenoso nos animais que apresentaram maior título. Após dois dias, os animais foram sacrificados, embebidos em álcool 70% e levados a um ambiente estéril. Esplenócitos do baço foram misturados às células de mieloma NS1 (proporção 7:1). A fusão entre células foi feita com polietilenoglicol 50% e, após lavagens, elas foram ressuspendidas em meio RPMI-1640, sendo que 2,5x105 células foram colocadas em cada uma das 96 cavidades das placas de cultura. A seleção dos hibridomas foi feita utilizando meio HAT por 13 dias e meio HT por 4 dias. Quando os hibridomas ocuparam 2/3 da cavidade, o sobrenadante foi recolhido para detecção de anticorpos por IFI.

Isotipagem com kit Sigma foi feita para se caracterizar os anticorpos produzidos, assim como esta sendo padronizada a técnica de Western Blotting (WB).

RESULTADOS:

A sorotipagem realizada após a 4a imunização fez-nos escolher dois camundongos para a fusão (títulos 1/80 e 1/160). Após a fusão conseguiu-se obter 6 placas de cultura de 96 cavidades.

Após 25 dias da fusão, apenas 9 poços apresentaram crescimento de 2/3 de hibridomas. Através de IFI, verificou-se que 4 poços eram positivos, sendo que apenas um poço se manteve estável.

Para se obter anticorpos monoclonais foram feitas duas diluições limitantes (DL). Na primeira, ocorreu crescimento até a diluição de 0,325 células por cavidade. Três poços foram escolhidos para serem propagados e utilizados, separadamente, para uma 2aDL. Nessas placas ocorreu um crescimento rápido por toda placa, inclusive nas partes mais diluídas. Assim, coletou-se os sobrenadantes de 10 poços das placas da 2aDL para fazer uma isotipagem dos anticorpos, verificando que todos apresentavam uma presença significante de IgG do tipo 1.

Para verificar onde e em que tipo de hemócito o AcMo produzido se liga, foi feita IFI em lâmina, com leitura em microscópio de luz confocal e de fluorescência. Verificou-se que o AcMo se liga a uma proteína citosólica não granular, presente, mas nem sempre, tanto em hemócitos hialinos como granulares, sendo que neste há uma forte fluorescência próxima à membrana.

CONCLUSÕES:

Apesar de termos conseguido um número reduzido de poços com crescimento de hibridomas, houve a presença de um poço com células bastante estáveis, onde o sobrenadante se apresentou positivo contra hemócitos de L. vannamei. Após a clonagem dessas células, verificou-se que o AcMo se liga a uma proteína citosólica não granular bastante presente nos HG, podendo ser uma proteína vinculada ao sistema de defesa das células imunocompetentes do camarão, já que ela é provavelmente exocitada, devido à sua localização próxima à membrana.

Estudos ainda precisam ser feitos para assegurar a monoclonalidade. Técnicas como WB estão sendo padronizadas para avaliar a que proteína o anticorpo se liga e se esta está presente só nos hemócitos ou também na hemolinfa.

Assim, conclui-se que através da fusão de dois camundongos, obteve-se um AcMo específico a hemócitos do camarão mais cultivado do país, sendo que a proteína que ele se liga pode estar relacionada com os mecanismos de defesa desse crustáceo.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Litopenaeus vannamei; hemócitos; anticorpo monoclonal.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006