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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
UM ESTUDO SOBRE AS POLÍTICAS DE APRENDIZAGEM/COGNIÇÃO QUE SE MATERIALIZAM NAS ATIVIDADES EDUCATIVAS ESCOLARES
Luciane Infantini da Rosa Almeida 1, 2, 3
(1. Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); 2. Faculdade Estácio de Sá de Vitória (FESV); 3. Faculdade de Vila Velha (UNIVILA))
INTRODUÇÃO:
Diante das inúmeras transformações vividas na atualidade, dadas a partir de uma nova forma de organização do capitalismo, novas demandas se colocam à educação. Proliferam-se discursos sobre a qualidade na educação, a formação de indivíduos capazes de aprender a aprender, competências, habilidades, criatividade, inteligência emocional, inteligências múltiplas, entre outros. Nesse contexto, é urgente compreender que políticas educacionais estão sendo implementadas na atualidade e a que tipo de formação humana eles têm atendido. Com o intuito de adentrar nesse cenário, objetivamos investigar as práticas que se atualizam numa realidade escolar concreta e histórica de Vitória-ES, buscando analisar as políticas de aprendizagem/cognição que se materializam nas atividades educativas escolares. O termo política é empregado devido ao pressuposto de que nossas faculdades cognitivas são inseparáveis de nossas ações no mundo e de que essas formas de agir afirmam determinadas posturas ou posições éticas. As políticas de aprendizagem/cognição referem-se, portanto, ao modo de entender e de conduzir os processos de aprender e de conhecer que, por sua vez, produzem formas de ser e estar no mundo. Assim, frente ao processo de reestruturação da economia capitalista, buscamos verificar em que medida as práticas educativas atuam na produção de subjetividades compatíveis com as exigências impostas pelo modo capitalista de produção ou atuam como formas de recusa.
METODOLOGIA:
O campo de investigação foi uma escola do Ensino Fundamental da rede pública do município de Vitória/ES que atende a mil e duzentos alunos nos três turnos de funcionamento (matutino, vespertino e noturno). A escolha dessa instituição deu-se por ser considerada uma escola modelo, que além de fornecer aos profissionais e alunos instalações adequadas (salas de aula, laboratórios de ciências, laboratório de informática, biblioteca, salas de artes, sala de vídeo, quadras de esportes, refeitório, cozinha, cantina, laboratórios de aprendizagem, brinquedoteca, etc.), conta com um programa de atenção aos alunos portadores de necessidades especiais de aprendizagem. A população investigada foi professores/as, alunos/as, e funcionários/as dessa instituição e o material de análise foi constituído de práticas educativas, ou seja, o que é dito, escrito e feito no cotidiano de uma escola. Como estratégias de coleta de dados, utilizamos as entrevistas semi-estruturadas e a observação participante. As entrevistas forma sempre agendadas previamente com os atores educacionais, ora sendo feitas individualmente, ora coletivamente. As observações foram realizadas ao longo do nosso convívio com a escola durante um ano letivo, dando-se não apenas nas aulas, mas nos outros espaços da instituição. Além da pesquisa de campo, fizemos uma análise de dois documentos: Plano decenal de Educação para Todos, Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a educação Brasileira.
RESULTADOS:
A pesquisa documental revela que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a Educação Brasileira, sancionada por Fernando Henrique Cardoso, e o Plano Decenal de Educação Brasileira estão afinados com as resoluções da Conferência Mundial de Educação para Todos que postulam o aprender a aprender e a capacidade de continuar aprendendo como objetivos básicos da educação. Nosso estudo revela que "continuar aprendendo", na perspectiva desses documentos, refere-se a uma capacidade que atenda à demanda de um indivíduo que se adapte com flexibilidade às constantes transformações da sociedade capitalista. Na pesquisa de campo também foi possível observar que há momentos, no cotidiano escolar, que as políticas de cognição/aprendizagem atuam na formação de indivíduos flexíveis, adaptados ao modo capitalista de produção e, para tanto, utiliza-se de concepções de aprendizagem que afirmam essas práticas (aprender a aprender, criatividade, etc). Em outros momentos, vemos que essas políticas forjam alunos disciplinados, caracterizadas pela mecanização de procedimentos de ensino-aprendizagem e pela ênfase no cumprimento de normas e de regras. Isso nos remete ao fato de que a perspectiva das competências e da flexibilidade e o modelo taylorista de disciplinarização estão presentes no cotidiano da escola. Além disso, há políticas de cognição/aprendizagem caracterizadas por uma resistência a essa produção de subjetividade, que priorizam a formação de alunos que pensem, critiquem e inventem.
CONCLUSÕES:
Voltando à nossa questão principal "Em que medida as práticas educativas atuam na produção de subjetividades compatíveis com as exigências impostas pelo modo capitalista de produção ou atuam como formas de recusa?", temos duas análises a considerar. Em relação às propostas oficiais para a educação é possível afirmar que se delineia um tipo de aprendizagem que atende a demanda do modelo atual de acumulação, ou seja, os “novos” conceitos educacionais acabam por afirmar uma lógica bem conhecida: a do capitalismo. Entretanto, em relação à análise do cotidiano escolar podemos afirmar que diferentes perspectivas éticas se materializam nas políticas de cognição/aprendizagem, há aquelas que afirmam a produção de sujeitos flexíveis e adaptados ao sistema e há, ainda, políticas que priorizam a formação de sujeitos críticos e reflexivos. Dessa forma, o espaço educativo pode ser entendido como um campo permanente de lutas, em que políticas de modelização se defrontam com políticas inventivas que afirmam formas de existências que recusam a modelização capitalista, o que permite afirmar que as condições para a transformação social estão presentes nesse espaço. Ou seja, é possível, no espaço educativo, recusar a lógica do capital que se gesta nas práticas pedagógicas, não reduzindo os processos educacionais à produção e a reprodução dos valores sociais dominantes.
 
Palavras-chave: políticas de aprendizagem; políticas da cognição; práticas educativas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006