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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS PARA A LEGITIMAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA FERRO GUSA / CARVÃO VEGETAL NA REGIÃO DE CARAJÁS.
Rafael Moscoso Lobato Rêgo 1
Marcelo Domingos Sampaio Carneiro 2
(1. UFMA; 2. UFMA)
INTRODUÇÃO:

Estabelecido a partir de 1988, o complexo de produção de ferro-gusa situado ao longo da Estrada de Ferro Carajás (EFCarajás), atualmente, é responsável por cerca de 25% do total da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal no Brasil

Tal percentagem, se comparada historicamente à representatividade nacional da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal na região de Carajás, principalmente em relação ao começo dos anos 90, quando era de apenas 4%, demonstra um acentuado crescimento da produção siderúrgica de Carajás nos últimos anos. Esse fenômeno trouxe uma série de novas questões a serem investigadas e que estão principalmente relacionadas ao desenvolvimento e ampliação, na região de Carajás, da atividade de produção de carvão vegetal em larga escala, visto que essa tem sido, historicamente, marcada pelo descontrolado desmatamento de mata virgem no que se refere ao suprimento do carvão vegetal e pela mobilização de força de trabalho através de mecanismos de sub-contratação.

Assim, esse trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica das estratégias de legitimação da atividade siderúrgica acionadas pelas empresas do ramo da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal na região de Carajás face ao fenômeno, fortalecido recentemente, de crítica social e ambiental a essa atividade produtiva, principalmente no que diz respeito à reprodução do trabalho escravo e degradante em carvoarias.

METODOLOGIA:

A partir da proposta de pesquisa acima apresentada, a metodologia utilizada para tal investigação se deu a partir de duas vertentes que caminharam de maneira paralela.

A primeira foi o levantamento bibliográfico e de dados secundários, entendidos enquanto a consulta regular a jornais e revistas de instituições que fazem o acompanhamento do setor siderúrgico, o levantamento de estatísticas sobre as empresas, etc.

Já na segunda, voltada para as pesquisas de natureza qualitativa em Ciências Sociais, foi utilizado, enquanto recurso, entrevistas não-diretivas (Thiollent, 1987) com diretores das empresas siderúrgicas e agentes de intermediação da produção de carvão.

Dessa forma, tendo em vista a relação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva gusa-carvão, procurei dar ênfase e analisar a dinâmica das estratégias de legitimação da atividade siderúrgica acionadas pelas empresas do ramo da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal.

RESULTADOS:

O lance mais importante da disputa entre as empresas siderúrgicas e as entidades e órgãos que combatem a reprodução do trabalho escravo e degradante nas carvoarias ocorreu em agosto de 2004, com a assinatura de uma Carta-Compromisso pelo fim do trabalho escravo na produção de carvão vegetal e pela dignificação, formalização e modernização do trabalho na cadeia produtiva do setor siderúrgico.

A partir de então, alguns resultados já podem ser vislumbrados no que se refere à mudança da postura das empresas do ramo da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal na região de Carajás quanto às suas responsabilidades sociais e ambientais, tais como: a formação do Instituto Carvão Cidadão, que têm iniciado um projeto de fiscalização em carvoarias, além de ter participado de recente reunião de elaboração do Projeto “Trilhas da Liberdade”, que presa pelo fim do trabalho escravo no Maranhão; o inicio de investimentos em projetos de reflorestamento; a apresentação de relatórios de impactos ambientais das atividades realizadas pelas empresas; a participação do SINFEMA (Sindicado das Empresas de Ferro-Gusa do Maranhão) em Audiências Públicas sobre impactos ambientais e sociais da atividade carvoeira etc.

CONCLUSÕES:

Inicialmente, pode-se dizer que, mesmo frente às recentes e duras criticas à postura das Empresas de Ferro Gusa do Estado quanto às suas responsabilidades sociais e ambientais, essas, de uma forma geral, ainda não parecerem ter alterado de maneira significativa suas estratégias para a obtenção de carvão vegetal, inclui-se as relações trabalhistas empregadas em carvoarias. Uma das explicações mais plausíveis para a vagarosidade desse processo é que tais modificações implicam em medidas que, se efetivamente levadas a cabo, resultarão no encarecimento da força de trabalho utilizada nas carvoarias e, por conseguinte, nos custos de produção do componente mais importante na composição do preço do ferro gusa produzido em Carajás: o carvão vegetal.

Por outro lado, já são visualizadas atitudes que podem vir a transformar esse quadro, principalmente a partir dos grandes grupos empresarias, como o Grupo Gerdau. Assim, percebe-se que o capital econômico tem sido um fator preponderante no que se refere às diferentes estratégias adotadas pelas empresas do ramo da produção de ferro-gusa a base de carvão vegetal na região de Carajás para o enfrentamento das responsabilidades assumidas na Carta-Compromisso.

Instituição de fomento: CNPQ / PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cadeia Produtiva Ferro Gusa / Carvão Vegetal; Estratégias Empresariais; Crítica Social e Ambiental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006