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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
ATIVIDADES ESCOLARES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA EM UMA ESCOLA INFANTIL DE RIO BRANCO-AC

 

Elisabete Carvalho de Melo 1
Aura Lima Sekiguchi  1
Leide Daiana da Silva Marques  1
Luci Pastor Manzoli 2
(1. Universidade Federal do Acre / UFAC ; 2. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” / UNESP - Araraquara )
INTRODUÇÃO:

O presente resumo trata de uma pesquisa realizada no ano de 2004, em uma escola pública infantil do Sistema Estadual de Ensino do Acre, localizada no município de Rio Branco. Teve por objetivo analisar atividades de leitura e escrita de turmas de pré I, pré II e pré III, do turno da tarde, da escola pesquisada, visando responder o seguinte problema: Em que medida as atividades de leitura e escrita, propostas às crianças de educação infantil, as ajudam a avançar em seus conhecimentos sobre a língua escrita? Neste sentido foram traçadas três questões de estudo: Quais as atividades de leitura e escrita propostas às crianças? Como as professoras orientam às crianças para a realização das atividades? Como as crianças se comportam no momento da realização das atividades propostas? A partir destas questões de estudo a pesquisa trouxe informações importantes quanto ao ensino da língua escrita, na educação infantil, na escola pesquisada, se constituindo em um trabalho científico de relevância para a Universidade Federal do Acre, que oferece curso de Pedagogia, mas ainda carece de estudos que tratem de análise de atividades escolares, em especial de atividades realizadas na educação infantil. Também se mostrou relevante para o Sistema Público de Ensino do Acre, na medida em que, a pesquisa concita reflexões sobre a prática docente do ensino da língua escrita, nesse segmento educacional.

METODOLOGIA:

Fundamentada em André (1999), Goldenberg (1999), Lüdke (1996) e Mirian (1999) a opção metodológica para a pesquisa foi a de um estudo de natureza qualitativo, especificamente, um estudo de caso. A primeira etapa consistiu no estudo de obras de Ferreiro (1992,1995), Mortatti (2000), Teberosky (1995,1996) e Weisz (2000), com vistas à apropriação de conhecimentos para a fundamentação teórica da pesquisa. Em seguida foi realizada a pesquisa de campo propriamente dita. A escolha da escola em que o estudo foi realizado deu-se por está localizada no Centro da cidade, facilitando o acesso das pesquisadoras. Quanto à seleção das quatro professoras participantes: uma de pré I, outra de Pré II e duas de Pré III, justifica-se por trabalharem nas turmas do turno da tarde, horário disponível para a realização do estudo. Para a coleta dos dados foram realizadas entrevista semi-estruturada com as professoras e observação de suas salas de aula, considerando as atividades desenvolvidas. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, para que nenhuma informação fosse perdida e, as observações, registradas em um diário de campo. Para análise, foram escolhidas oito atividades que representavam a proposta das demais atividades realizadas pelas professoras, no período em que foi realizada a pesquisa. Os dados coletados foram organizados em categorias, de forma a responderem as questões de estudo propostas, analisados em seguida, à luz do referencial teórico adotado.

 

RESULTADOS:

As atividades analisadas consistiam em leitura de músicas e poemas, com fins de identificação de letras e sílabas, resolução de cruzadinhas com as palavras anexas, identificação de letras, cópia de palavras, formação de palavras, auto-ditado, completar palavras com letras que faltam e completar frases, conforme o modelo anexo. Os dados obtidos no estudo evidenciaram uma contradição entre o que disseram as professoras e as suas práticas de elaboração de atividades, no sentido de avaliarem as atividades como desafiadoras, no entanto, as crianças não precisavam pensar para resolvê-las: não comparavam, não estabeleciam relações, não arriscavam. O estudo mostrou ainda que as orientações das professoras, aos alunos, para a realização das atividades, se resumiam à leitura dos enunciados e explicação de como deveriam proceder, o que deveriam fazer. Não foram presenciadas intervenções que levassem o grupo de crianças a testar suas hipóteses, arriscar, confrontar opiniões. As crianças por sua vez, se comportavam sob o direcionamento das professoras, que tinham no silêncio, o sinônimo para disciplina e concentração. Contudo se comportavam inquietas, mesmo diante das “ordens” das professoras, para que o silêncio reinasse. Em síntese, as atividades elaboradas pelas professoras, poucos contribuíram para que as crianças avançassem em seus conhecimentos sobre a leitura e a escrita, na medida em que as atividades não apresentavam propostas de reflexão, e sim de repetição.

 

CONCLUSÕES:

O estudo chama a atenção para o fato de que, planejar e elaborar atividades escolares não é algo fácil, mesmo quando o professor tem boa vontade e se coloca a disposição para um trabalho mais eficiente, pois isso envolve ter claro os objetivos e selecionar conteúdos pertinentes e, que ao não fazer uso da cartilha ou qualquer outro livro didático, para ensinar a ler e escrever, o professor tem que dispor de tempo para elaborar e analisar as atividades que propõe, a partir do que as crianças já sabem sobre a língua escrita. Destaca ainda que isso prescinda um bom planejamento e boas situações de aprendizagem, para que as crianças se apropriem do sistema de escrita alfabético. Contudo, boas situações de aprendizagem exigem tempo, mas principalmente exigem mudanças de concepção tanto de ensino, quanto de aprendizagem, o que não se dá de uma hora para outra. Neste sentido, muito mais do que julgar as atividades elaboradas/realizadas pela professoras, o estudo indica que se deve respeitá-las, pois se o professor precisa compreender o processo de aquisição de conhecimento de seus alunos, é necessário que se entenda também o seu próprio processo de aquisição de novas práticas. O estudo ressalta ainda a importância de grupos de estudo no interior das escolas. Não grupos que se reúnam rapidamente para fazer roteiros de planejamento e/ou indicar bibliografias, mas grupos que discutam a própria prática dos professores que o compõem, no contexto de sua formação e da escola.

 

 
Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem; Alfabetização; Educação Infantil.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006