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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 4. Planejamento Urbano e Regional
A INFLUÊNCIA DO CAPITAL AGROINDUSTRIAL NA LÓGICA DE ESTRUTURAÇÃO URBANA NOS MUNICÍPIOS DO OESTE DE SANTA CATARINA
Daniella Reche 1
Lino Fernando Bragança Peres 2
(1. Mestranda do Programa PGAU - Cidade / Universidade Federal de Santa Catarina; 2. Prof. Dr. / Departamento de Arquitetura e Urbanismo / UFSC)
INTRODUÇÃO:
O trabalho analisa o processo histórico de ocupação do solo dos municípios do oeste de Santa Catarina a partir da implantação e fortalecimento do capital agroindustrial na região, transformando-a no maior pólo do setor no Brasil. Portanto, relaciona o processo econômico-regional da agroindústria com os impactos na estruturação intraurbana, identificando, por exemplo, a resultante diferenciação sócio-espacial. Toma-se como estudo de caso o processo de urbanização de Chapecó que sofreu, na década de 70, um crescimento demográfica urbana sem precedentes (11% de taxa de crescimento) devido a processos migratórios provocados, principalmente, pela instalação das agroindústrias Sadia e Aurora, resultando em significativas transformações na estrutura urbana do município. Estima-se que, de acordo com projeções do IBGE, atualmente o município possua aproximadamente 173.000 habitantes, sendo que 93% dessa população vive no perímetro urbano, apesar de a economia do município estar baseada principalmente em atividades rurais que dão suporte às atividades agroindustriais. Essa etapa de pesquisa é resultado do trabalho de conclusão de graduação e, atualmente em objeto de estudo de Mestrado de Reche, além de ser objeto de reflexão de Peres.
METODOLOGIA:
O método de pesquisa adotado articula estudos de fonte secundária (estatística, documental e teórica) com trabalho observação direta do fenômeno estudado, visando identificar a lógica de estruturação urbana do município. Baseia-se, principalmente, na evidência e análise de dados urbanos, através de espacialização de informações censitárias, geográficas e de levantamento de campo, resultando em mapeamentos de evolução urbana, renda, acessibilidade, atividades econômicas, densidade populacional, localização de áreas de preservação ambiental, situação habitacional, localização dos vazios urbanos, etc., como forma de identificar espacialmente os impactos da atividade agroindustrial na malha urbana, que tem se expressado de forma dominante.
RESULTADOS:
A análise de dados constatou que Chapecó, desde sua formação, teve no incentivo à industrialização a base de seu desenvolvimento. Verificou-se que o capital agroindustrial, que começou a surgir no município partir de 1950, com a instalação da agroindústria Chapecó, foi resultado da acumulação do capital proveniente do excedente das atividades agrícolas. Mas foi a partir da década de 70, através de uma política estatal, promovida no regime militar, de forte incentivo à industrialização, particularmente agrícola, que a atividade ganhou força através da implantação da Sadia e Aurora, tornando-se o município em um dos maiores exportadores de carne suína e de aves do país. A pesquisa mostrou que esse êxito agroindustrial promoveu, além da demanda por uma rede de suporte para suas atividades (comércio, serviços, rede bancária), um aumento populacional acelerado resultado de processos migratórios e êxodo rural. Esse processo, associado à ausência de política habitacional e urbana adequada para absorver o excedente migratório, ocasionou o aparecimento, principalmente nas regiões onde estão instaladas as indústrias, das diversas problemáticas urbanas conseqüentes. Dentre elas observou-se o surgimento de favelas e loteamentos irregulares (principalmente em torno das instalações agroindustriais), contrapondo-se com regiões de alta renda; problemas de acessibilidade; distribuição desigual de investimentos públicos e equipamentos; ausência de espaços públicos adequados. Enfim, um quadro de segregação intra-urbana bastante avançado.
CONCLUSÕES:
Através dos resultados obtidos, conclui-se que o espaço urbano torna-se meio de reprodução do desenvolvimento econômico desigual no campo e da segregação sócio-espacial na cidade, onde a agroindústria é ser determinante tanto no desequilíbrio econômico-regional, migratório e fator de reprodução da segregação sócio-espacial. Como resultado desse processo, Chapecó, nos últimos 30 anos, teve sua zona urbanizada alargada acompanhada da expansão urbano-industrial e do surgimento de aglomerados habitacionais ilegais ou impróprios de trabalhadores ao redor das indústrias. O modelo altamente concentrador das agroindústrias acaba, portanto, superando a própria capacidade de planejamento do Estado. O resultado dessa pesquisa pretende contribuir para a elaboração de políticas urbanas acertadas diante da realidade segregativa do município. Além de sistematizar dados inéditos sobre o município, apresentou uma análise estrutural de sua formação, identificando seus principais problemas e agentes. Percebeu-se que o estudo da complexidade da dinâmica urbana em questão, mostrou diversas lacunas, abrindo frentes para que outros estudos sejam realizados, em relação ao meio ambiente, à questão fundiária e imobiliária e outras. Sendo assim, o município continua sendo objeto de análise do Mestrado de Reche que procura identificar, a partir do quadro urbano apresentado por essa pesquisa, a influência do Estado e da legislação urbana nessa estruturação urbana do município como passo seguinte da pesquisa.
 
Palavras-chave: Agroindústria; Estruturação Urbana; Chapecó-SC.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006