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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 7. Gestão Pública

A SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA DO SISTEMA URBANO DE FLORIANÓPOLIS: UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO DA PEGADA ECOLÓGICA (PE).

Beatriz Bittencourt Andrade  1
Thaís Ikuhara Santos  1
Hans Michael van Bellen  1
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA / UFSC)
INTRODUÇÃO:
As cidades são o produto da reunião de uma série de atividades e indivíduos, que em conjunto promovem a dinâmica da produção, consumo e geração de resíduos.  Tal dinâmica demanda recursos naturais, por exemplo, água, energia, alimentos, e combustível fóssil; bem como, necessita do ecossistema para a assimilação dos resíduos decorrentes da dinâmica urbana. No entanto, os sistemas urbanos parecem estar requerendo além da capacidade que o ecossistema tem em atendê-los. Isso tem promovido um desequilíbrio ecológico que pode estar acarretando conseqüências como, a poluição, redução das reservas de água doce e de combustíveis fósseis e o aquecimento da Terra. Diversas ferramentas de capacidade de carga têm sido utilizadas para analisar os impactos das atividades humanas sobre os ecossistemas, dentre elas, está a Pegada Ecológica. A ferramenta consiste “em contabilizar os fluxos de matéria e energia existentes em um determinado sistema (um país, por ex.), convertendo-os, de maneira correspondente, em áreas de terra ou água produtivas” (WAKERNAGEL & REES, 1998). Isso significa que os impactos decorrentes da relação de dependência entre as atividades humanas e o meio ambiente podem ser mensurados pela área bioprodutiva necessária para assimilar o gás carbônico emitido como resíduo das atividades e produção de recursos (alimentos, combustível, etc). Assim, esta pesquisa tem como objetivo analisar o grau de sustentabilidade ecológica de Florianópolis, em 2004, através do método da PE.
METODOLOGIA:

Para alcançar o objetivo estabelecido foi aplicada a metodologia da Pegada Ecológica no município de Florianópolis. Primeiramente, foi considerado que, em 2004, a cidade possuía uma população de 386.913 habitantes, sendo que nos meses de janeiro e fevereiro esse número cresceu para  677.634 habitantes; e  ocupa uma área de 44.230 ha, na qual são desenvolvidas diversas atividades, em especial, o turismo e a prestação de serviços públicos. O cálculo da PE consistiu basicamente em quatro etapas: 1) foram definidos os itens que exerciam maior pressão sobre o ecossistema, os quais foram, o consumo de água, de energia elétrica e de gasolina automotiva, e a geração de resíduos; 2) Foram coletados os dados, referente ao consumo de cada item e a geração de resíduos pela população,  em fontes primárias e secundárias, nos órgãos públicos (Companhia de Água e Saneamento de SC – CASAN, Centrais Elétricas de Santa Catarina AS - CELESC, Agência Nacional do Petróleo - ANP, Companhia de Melhoramentos da Capital - COMCAP,  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Departamento Estadual de Trânsito - DETRAN, etc) e nas organizações privadas (Locadoras de Veículos); 3) Através do uso de fatores de conversão, por exemplo, a relação de que para assimilar 1,0 tonelada de gás carbônico emitida é necessário 1,0 ha de terra bioprodutiva, foram calculados a PE por item de consumo e da geração de resíduos; 4) Por fim, o somatório da PE por item resultou na PE total anual do sistema.

RESULTADOS:

A Pegada Ecológica total do município de Florianópolis, em 2004, foi de 496.552,60 ha. Desse total, 30.735,58 ha corresponde ao consumo de energia elétrica, 80.622 ha refere-se à geração de resíduos, 7.956,91 ha significa o consumo de água pela população e 377.238,11 ha corresponde ao consumo de gasolina automotiva. De acordo com  o DETRAN, a cidade possui uma frota de  186.422 veículos, sendo que na época turista esse número cresce acima dos 5%. Isso são fatores que podem justificar a alta PE da população referente ao consumo de gasolina automotiva. A alta PE referente à geração de resíduos decorre do duplo impacto ambiental produzido pela geração de lixo, que emite gás carbônico na atmosfera, bem como, o gás metano, que é tão poluente quanto o primeiro. A PE referente ao consumo de energia elétrica indica alta demanda por energia pela população,  em especial, no verão, quando a população aumenta devido ao turismo e pela utilização de ar refrigerado nos locais. A PE resultante da demanda da população pela água foi uma surpresa, pois apresentou o menor índice, e muito abaixo dos outros valores encontrados. Esse fato tentou ser explicado através de entrevista com funcionários da CASAN que informaram ter havido em 2004 estiagens, o que prejudicou a captação e distribuição. Além disso, a organização não atende 100% do município, isto é, em várias localidades há significativo consumo de água através da captação em poços artesianos, uso de ponteiras ou em sistemas privados.

CONCLUSÕES:

Ao compararmos a área de Florianópolis de 44.230 ha com a PE anual obtida de 496.552,60 ha, observa-se que montante de recursos naturais consumidos para a manutenção das atividades humanas realizadas em Florianópolis é 11 vezes maior do que o ecossistema da região pode prover. Essa diferença sugere que alguns recursos demandados podem estar sendo  importados de outras regiões e/ou os recursos naturais da região estão sendo usados intensamente, o que pode trazer sérias conseqüências no longo prazo. Nesse contexto, observa-se que os impactos gerados pela extrapolação da capacidade do meio ambiente natural em suportar o modo de vida da população podem ter alcance local e global, ou seja, atinge a região de Florianópolis (poluição do ar, degradação da paisagem), bem como, polui e colabora para a exaustão dos recursos naturais nas regiões exportadoras (por exemplo, a cidade Capivari de Baixo que produz a energia elétrica através da extração do seu carvão mineral); além disso, o gás carbônico lançado na atmosfera colabora para o efeito estufa, que tem trazido conseqüências para todo o planeta, como as mudanças climáticas. Os valores obtidos com as PE revelam quais atividades podem estar exercendo maior pressão sobre o ecossistema e o grau de sustentabilidade do município. Os resultados podem auxiliar nas tomadas de decisões e formulações de políticas públicas, que colaborem para a minimização dos impactos ambientais, a preservação do ecossistema e a melhoria na qualidade de vida.

 
Palavras-chave: sustentabilidade ecológica; impacto ambiental; pegada ecológica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006