Na Grécia Antiga destacam-se dois grandes períodos históricos, o período Arcaico e o período conhecido como Clássico. Este trabalho teve por objetivo estudar, de uma perspectiva histórica e filosófica, a maneira pela qual o homem modifica as formas de entendimento que tem de si mesmo e de seu corpo em função do modo como luta pela vida. Para realizar tal intento, buscou-se um período específico da Grécia Antiga, o período Arcaico (séc. IX ao VI a. C.). Na expressão de seu maior poeta, Homero, é possível entrever transformações naquela forma de organização social e no modo como tais transformações são combatidas e ensinadas como normas culturais ora a serem negadas, ora a serem repassadas às gerações mais jovens. Os valores considerados tradicionais do herói grego são paulatinamente combatidos, enquanto que valores mais ligados à diplomacia, ao individualismo e à ganância ganham espaço naquela sociedade.

O estudo foi realizado tendo como base as duas obras mais conhecidas atribuídas a Homero, quais sejam, a Ilíada e a Odisséia. Procedeu-se a análise de tais obras e destacou-se os principais personagens de cada uma. Na Ilíada, Agamêmnon, Aquiles e Heitor; na Odisséia, Telêmaco e Ulisses. A análise dos principais personagens permitiu observar atitudes, valores e costumes importantes para os gregos em processo de transformação de um épico para outro. Houve também a necessidade de se recorrer a autores clássicos que comentam tais obras, a fim de apreender o máximo possível do conhecimento produzido a respeito dos dois grandes épicos da Antigüidade.

Em Homero foi possível compreender que as transformações no modo de vida da Grécia Arcaica expressam-se nas obras literárias, onde os antigos costumes, provenientes da tradição e representados por certos personagens embatem-se com novas atitudes, representadas por outros personagens. Na Ilíada, por exemplo, enquanto Agamêmnon representa um novo modo de encaminhar-se no mundo, é combatido por Aquiles e Heitor, que são representantes da tradição. As tranformações expressas nos épicos correspondem às transformações em curso naquele período histórico, possibilitando uma melhor compreensão sobre o modo como valores, cultura, costumes e hábitos podem ser transmitidos de geração em geração.

Todo esse processo leva à compreensão de que a apreensão que se tem do corpo em uma dada sociedade e em um dado momento histórico específico derivam, inevitavelmente, do modo como o homem entende a si mesmo e das soluções que desenvolve para garantir sua existência. Inevitavelmente também, valores são construídos nesta luta pela existência e são transmitidos às gerações futuras, que os apreendem, dominam e modificam, transformando assim a civilização em que vivem. Os valores chamados de novos neste estudo representam justamente a transformação e são, também, dirigidos às funções sociais do corpo humano.