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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
Prevalência de níveis pressóricos elevados em escolares de 7 a 10 anos da zona urbana de Cuiabá-MT em 2005
Luiz Marcos Pinheiro Borges 1
Marco Aurélio Peres 2
Bernardo Lessa Horta 3
(1. Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da UFSC, Florianópolis, SC, Brasil.; 2. Departamento de Saúde Pública da UFSC, Florianópolis, SC, Brasil.; 3. Departamento de Medicina, Faculdade de Medicina Social, UFPEL. Pelotas, Brasil)
INTRODUÇÃO:

As doenças cardiovasculares aparecem atualmente como a principal causa de morte entre adultos, sendo responsáveis por um terço das mortes no mundo. Alguns autores reconhecem a hipertensão arterial sistêmica como o mais poderoso e prevalente fator de risco no aparecimento de doenças do aparelho circulatório. A hipertensão constitui-se hoje o distúrbio clínico crônico mais comum no mundo, atingindo mais de 1 bilhão de indivíduos no mundo. Diversos estudos longitudinais têm revelado indícios fortes de que a hipertensão do adulto é uma doença que tem seu início já na infância. Alguns estudos de prevalência de HAS em crianças realizados no Brasil mostram taxas que variam entre 2,5% a 13,3%. Tais diferenças nas taxas de prevalência entre os estudos transversais realizados no Brasil, se dariam pelas diferentes técnicas e condutas adotadas pelos pesquisadores na execução de seus estudos. O presente estudo tem os seguintes objetivos: 1) Estimar a prevalência de níveis pressóricos elevados em escolares entre 7 e 10 anos do sistema público e privado da zona urbana de Cuiabá-MT; 2) Comparar as prevalências de níveis pressóricos elevados ao se considerar a primeira e a terceira medidas da pressão arterial realizadas no estudo. 3) Categorizar as crianças de acordo com os níveis pressóricos da 3ª medida da pressão arterial.

METODOLOGIA:

Estudo transversal, com escolares entre 7 e 10 anos, de escolas públicas e privadas da zona urbana de Cuiabá-MT, Brasil, em 2005. Para o cálculo amostral adotou-se um processo estratificado, de duplo estágio, com utilização de conglomerados. As 20 escolas e os 684 alunos foram sorteadas por meio de sorteio sistemático. A medida indireta da pressão arterial foi tomada com estetoscópio pediátrico, esfigmomanômetro de coluna de mercúrio graduado de 2 mmHg e braçadeiras com velcro, adequadas para manguitos de 4 tamanhos. A medida foi feita com o braço direito e a criança sentada, com as costas apoiadas e pés em contato com o chão ou plataforma de madeira. Determinou-se a PA sistólica em K1 e a PA diastólica no K5. Foram tomadas três medidas da pressão arterial a cada 10 minutos, em visita única. Foram consideradas com níveis pressóricos elevados as crianças que, segundo sexo, idade e percentil de estatura, atingiram pressão sistólicas e/ou diastólicas maiores ou iguais aos valores correspondentes ao percentil 95º da tabela de referência do estudo. Para o cálculo de prevalência, foram considerados separadamente os níveis pressóricos da primeira medida e da terceira medida da pressão arterial. Foram calculados os respectivos intervalos de confiança de 95%. Utilizou-se o teste qui-quadrado para comparar proporções. Análise de variância (ANOVA) e teste “t“ pareado foram utilizados para comparar médias (IC de 95%). Estabeleceu-se o nível de rejeição da hipótese de nulidade em 5%.

RESULTADOS:

As pressões sistólica e diastólica média na 3ª medida mostraram-se estatisticamente diferentes das pressões sistólica e diastólica média na 1ª medida (p<0,001 e p<0,001, respectivamente). O percentual médio de queda dos níveis pressóricos sistólicos e diastólicos entre a 1ª e 3ª medida foram de 4,25% (IC95%2,6-5,8) e 4,64% (IC95% 2,9-6,3) respectivamente. A prevalência de níveis pressóricos elevados foi de 8,6% (IC95% 6,4-10,9) na 1ª medida e 2,3% (IC95% 1,1-3,5) na 3ª medida (p< 0,001). Não houve diferença estatística, utilizando dados da 3ª medida, entre as prevalências de níveis pressóricos elevados com relação à idade (p=072), sexo (p=0,32), cor da pele (p=0,79), tipo de escola (p=0,90) e período de realização do exame (p=0,36). Categorizando as crianças de acordo com os níveis pressóricos da 3ª medida da pressão arterial, obteve-se 0,3% (IC95% 0,0-0,8) dos escolares classificados como hipertensos estágio II, 2,0% (IC95% 0,9-3,1) como hipertensos estágio I, 3,8% (IC95% 2,3-5,4) como pré-hipertensos e 93,9% (IC95% 91,9-95,8) como normotensos. Hipertensos sistólicos isolados totalizaram 1,0% (IC95% 0,2-1,8) enquanto que hipertensos diastólicos isolados foram 1,5% da amostra (IC95% 0,5-2,5).

CONCLUSÕES:

Houve diminuição significativa dos níveis pressóricos arteriais e conseqüentemente da prevalência de níveis pressóricos alterados quando realizadas medidas consecutivas da pressão arterial em escolares. Em estudos epidemiológicos de visita única, a última medida da pressão arterial revela níveis pressóricos mais próximos dos níveis pressóricos basais em escolares. A prevalência de 2,3% em escolares de 7 a 10 anos na zona urbana de Cuiabá é semelhante às taxas publicadas na literatura nacional e chama a atenção para que medidas preventivas sejam instituídas precocemente pelas autoridades de saúde. A medida rotineira da pressão arterial em crianças por parte dos profissionais de saúde pode contribuir substancialmente com o diagnóstico precoce.

 
Palavras-chave: Prevalência; Hipertensão; Crianças.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006