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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
PREVENÇÃO E CONTROLE DA DENGUE NO DOMICÍLIO: AVALIAÇÃO DE CAPA DE TELA PROTETORA PARA PRATOS COLETORES DE ÁGUA DE VASOS DE PLANTAS
Virgínia Torres Schall 1
Héliton da Silva Barros 1
Nágila Francinete Costa Secundino 2
Paulo Filemon Paulucci Pimenta 2
(1. Laboratório de Educação em Saúde - Centro de Pesquisas René Rachou - Fiocruz; 2. Laboratório de Entomologia Médica - Centro de Pesquisas René Rachou - Fiocruz)
INTRODUÇÃO:
A expansão da dengue e disseminação do Aedes aegypti têm sido amplamente documentada desde a década de 70. No Brasil, ocorre uma evolução constante dos casos de dengue desde 1986. Além da expansão da doença, tem aumentado o número de casos de dengue hemorrágica, com conseqüentes óbitos. A principal estratégia de combate à doença nos mais variados países tem sido o controle químico do vetor,  o qual é insuficiente. Observa-se também a busca de alternativas que incluem programas informativos/educativos com participação da população, controle biológico, ações ambientais, vigilância epidemiológica e entomológica, valorizando-se o uso de medidas integradas. Dados da literatura demonstram que os pratos coletores de água de vasos de plantas no interior das casas, em algumas regiões do país, sobretudo em Minas Gerais, são um dos habitats preferenciais para as lavas de Aedes aegypti. Em paralelo às medidas de controle já preconizadas, torna-se importante agregar alternativas específicas que possam auxiliar a luta pelo combate à doença nos diferentes ambientes.
METODOLOGIA:
O recurso de proteção aqui proposto compõe-se de capas feitas em tela mosquiteiro de polyester, com trama igual ou inferior a 2x1mm. O fechamento é feito através de duas tiras do mesmo material, amarradas em volta do vaso, e de um elástico  inserido na parte interior, que permitem o fechamento e ajuste das mesmas ao recipiente, vedando completamente a possibilidade de entrada de mosquitos fêmeas para a ovipostura nas paredes logo acima  da superfície de água. Para avaliar a capacidade protetora das capas no controle da evasão de mosquitos adultos e ovipostura de A. aegyti, foram realizados experimentos utilizando fêmeas adultas do vetor. Dois vasos (A e B) com violetas receberam cada um 220 ml de água desclorada em seus reservatórios. O recipiente do vaso “A” foi coberto pela capa de tela, ficando o vaso “B” sem esta proteção. Dentro de uma gaiola entomológica, foram colocados o vaso “A” e 20 exemplares de fêmeas adultas de A. aegypti, submetidas a repasto sangüíneo 4 dias antes. A gaiola foi tampada e lacrada com fita adesiva. Como controle foram colocados em outra gaiola do mesmo modelo, o vaso “B”, sem proteção, e 20 exemplares de fêmeas adultas de A. aegypti  também submetidas a repasto sangüíneo 4 dias antes.
RESULTADOS:
O experimento foi realizado com réplica e teve duração de 08 dias, tendo sido feito registro diário do comportamento das fêmeas. Nenhuma fêmea conseguiu atravessar a trama para realizar a ovipostura, demonstrando 100% de proteção. No controle, após o oitavo dia, muitos ovos foram encontrados junto à borda, verificando-se ainda a presença de 04 larvas de primeiro estádio que estavam vivas e nadando ativamente. Até o quinto dia de experimento, apenas 05 (25%) exemplares na gaiola “A” e 02 (10%) na gaiola “B” estavam mortos, mas este número atingiu 18 (90%) e 15 (75%) exemplares respectivamente no oitavo dia. Com metodologia semelhante só que utilizando pupas e larvas, foi realizado ainda, um experimento com finalidade inversa. Vasos com plantas ornamentais, e protegidos pelas capas,  receberam em seus  reservatórios trinta larvas (de 4 estádio ) ou pupas de A. aegypti. Verificou-se que as larvas e pupas colocadas no interior dos pratos fechados pelas capas, ao eclodirem, apresentam dificuldade em sair do ambiente, tendo sido registrado uma percentagem de 16,6% de evasão, machos em sua maioria.
CONCLUSÕES:
Os experimentos demonstraram a eficácia das capas de tela para pratos coletores de água de vasos de plantas no controle da ovipostura. A capa, quando usada corretamente, impede completamente a entrada das fêmeas, prevenindo a sua reprodução nos pratos coletores de água, oferecendo proteção total à ovipostura, não havendo risco de proliferação de larvas no interior dos recipientes protegidos. Considerando a insuficiência do controle químico e a baixa adesão da população às práticas de controle dos recipientes aquáticos no domicílio e peridomicílio, mesmo quando se evidenciam bons conhecimentos sobre o vetor e sua relação com a doença, a alternativa aqui apresentada pode complementar as ações de controle. A proteção física dos recipientes pelas capas, além de prevenir a ovipostura, pode provocar na memória dos habitantes da casa uma associação permanente com o risco da presença do mosquito e motivar maior cuidado. As capas podem ser coloridas, apresentar fechamentos ornamentais, ampliando a adesão dos moradores e, das mulheres, sobretudo, ao seu uso permanente dentro de casa, nas varandas e jardins. As capas apresentam alta durabilidade, resistência a fogo e umidade, potencializando ainda mais a proteção. Se fabricadas em grande volume, podem ser de baixo custo e fartamente distribuídas por floras, casas de jardinagem e supermercados. Em sua faixa de vedação podem ser acoplados adesivos com mensagens preventivas e desenhos, alusivos a medidas de controle, o que ainda amplia a sua utilidade.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig e CNPq
 
Palavras-chave: Dengue; controle de vetor; Aedes Aegypti.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006