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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

VARIAÇÃO DE MICRO-HABITATS EM DUAS ALTITUDES NA ENCOSTA DA SERRA GERAL DE SANTA MARIA - RS

Bethânia Oliveira Azambuja 1
Daniela Oliveira de Lima  1
Vagner Luis Camilotti  2
Nilton Carlos Cáceres 3
(1. Universidade Federal de Santa Maria - Bolsistas PET/SESu/MEC; 2. Universidade Federal de Santa Maria - Bolsista FAPERGS; 3. Universidade Federal de Santa Maria - Professor Adjunto do Dep. de Biologia)
INTRODUÇÃO:

Variações altitudinais influenciam diversos fatores do complexo ambiental, como temperatura, topografia, umidade, fitofisionomia e velocidade dos ventos. Essas variações podem influenciar a formação dos micro-habitats que, através das particularidades de um local específico, diferenciam-no dentro de uma área maior (habitat). Esses micro-habitats são de fundamental importância para a distribuição e ocorrência das espécies da fauna e da flora. O objetivo desse estudo é analisar se existem diferenças em alguns parâmetros de micro-habitats entre duas áreas com diferença altitudinal de 200 m em uma encosta do planalto meridional (Morro do Elefante), município de Santa Maria, RS.

METODOLOGIA:

Os parâmetros analisados foram altura e cobertura do dossel, abundância de samambaias e bambus, número de plântulas, arbustos e árvores com Perímetro na Altura do Peito (PAP) >10 cm, inclinação do terreno e quantidade de rochas (comprimento>50 cm) e troncos caídos (diâmetro>10cm). Cada parâmetro foi amostrado em 70 parcela na base do morro e 70 parcelas no topo. As parcelas foram distribuídas em sete transectos separados em 25 m um do outro e dentro destes distavam 10 m uma da outra. A altura do dossel foi estimada comparando-se com uma haste de altura conhecida. A cobertura do dossel foi quantificada através de um densiômetro de espelho plano. A abundância de samambaias e bambus foi distribuída em três classes: ausente (classe 0), poucos indivíduos (classe 1) ou abundante (classe 2). A inclinação também foi quantificada por classes: de 0 a 5º (classe 0), de 5 a 30º (classe 1) e maior que 30º (classe 2). As árvores com PAP>10 cm foram amostradas em um raio de 3m do centro de cada parcela, sendo divididas em 4 classes de PAP: de 10 a 20 cm, de 21 a 30 cm, de 31 a 50 cm e > 50 cm. Já as plântulas e arbustos foram amostrados em um trajeto de 6 x 2 m posicionado no centro da parcela (sentido leste-oeste). As rochas expostas e bambus foram medidos e os comprimentos individuais somados. Todos os parâmetros foram submetidos à análise estatística pelo teste t e pela análise de correlação de Pearson.

RESULTADOS:

As variáveis com diferença significativa (p£0,01) foram (média no topo e média na base para todos os parâmetros): inclinação (0,4 e 1,3), altura do dossel (10,4 e 12,2), cobertura do dossel (34,3 e 30,7), árvores com PAP entre 10 e 20 cm (4,0 e 2,2), árvores com PAP entre 20 e 30 cm (1,8 e 1,1), árvores com PAP entre 30 e 50 cm (1,4 e 0,9), abundância de arbustos (1,2 e 3,6), abundância de bambus (1,6 e 0,8) e quantidade de rochas (327,2 e 30,8). Árvores com mais de 50 cm, número de plântulas, abundância de samambaias e número de troncos caídos não apresentaram diferenças significativas. Os resultados de correlação (p£0,05 e -0,2³r£0,2) apontaram a variável inclinação como a que mais se relacionou com as demais. No topo, relacionou-se apenas com abundância de bambus, porém, na base (onde foi mais expressiva), relacionou-se com as seguintes variáveis: cobertura de dossel, árvores de 10 a 20 cm de PAP, de 30 a 50 cm e maiores que 50 cm, arbustos, plântulas, bambus, samambaias, troncos caídos e rochas (apenas para bambus e samambaias a correlação foi positiva). No topo, bambus se correlacionaram negativamente com árvores de 10 a 20 cm de PAP e arbustos, e a cobertura do dossel se relacionou positivamente com árvores de 30 a 50 cm de PAP. Na base, samambaias e bambus se correlacionaram negativamente com a cobertura do dossel e com árvores de 10 a 20 cm de PAP, e entre si apresentaram correlação positiva, sendo que samambaias também apresentaram correlação negativa com plântulas.

CONCLUSÕES:

 A principal diferença entre as duas áreas amostradas é a inclinação: o topo é uma área plana e a base bastante inclinada. Essa característica influencia nos resultados de diversas variáveis. Tanto no topo quanto na base, dossel mais fechado e maior abundância de árvores e arbustos estiveram bem relacionados com topografia mais plana. O fato das árvores da base serem mais altas pode estar relacionado com a menor incidência de ventos, menor insolação e maior profundidade do solo, com menor afloramento de rochas. No entanto, o dossel mais fechado e a maior densidade de árvores no topo do morro podem estar relacionados, em parte, a um certo grau de perturbação na base da floresta, que sofre maior ação do efeito de borda. A maior abertura de dossel e maior inclinação se relacionaram positivamente com o número de samambaias e bambus que, por ocuparem nichos semelhantes, se separaram espacialmente: bambus predominaram no topo e samambaias na base. Essa segregação espacial devido à sobreposição de nicho também se mostrou nas correlações negativas entre bambus e arbustos no topo e entre samambaias e plântulas na base. As diferenças encontradas entre muitos dos parâmetros de micro-habitats analisados parecem não ter a altitude como o principal fator responsável e, sim, as diferenças de inclinação e de perturbação entre as duas áreas.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Micro-habitat; Diferença altitudinal; Mata Atlântica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006