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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
O DISCURSO DA CRISE SINDICAL E A MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES NA REALIDADE LOCAL
Maria Aparecida Bridi 1
(1. Universidade Federal do Paraná-UFPR)
INTRODUÇÃO:

A redução do número de greves, no plano nacional nos anos 1990 e, internacional nos anos 1980 e também o declínio do número de filiados são apontados como sinais de crise no sindicalismo. Uma das interpretações é de que houve redução da ação e desmobilização dos trabalhadores e, que, os temas ligados ao trabalho já não mobilizariam como nas décadas anteriores. A literatura sociológica, com base em dados empíricos como o decréscimo da sindicalização e a redução das greves, sinaliza para o desinteresse do trabalhador em participar do sindicato e de ações coletivas num cenário de crescimento do individualismo.

METODOLOGIA:

O caminho metodológico para a pesquisa consistiu na avaliação bibliográfica acerca da crise sindical no Brasil e no mundo. Também, a leitura deteve-se na indústria automobilística e na análise do movimento sindical local dos metalúrgicos junto a essa indústria. As ações do sindicato estão consubstanciadas nos Acordos Coletivos, nas lutas e conquistas da categoria, na relação que o sindicato estabelece com os trabalhadores, na forma como interage com as comissões de representação interna, na forma como capta e mantém os filiados, na participação em eventos que extrapolam as fronteiras do mesmo. A partir de entrevistas realizadas com dirigentes sindicais representantes das três montadoras Renault, Volvo e Volkswagen-Audi, com membros das comissões de fábrica e da análise dos Acordos Coletivos, dos boletins e de pesquisas de dados em órgãos como o DIEESE e o IBGE, buscou-se caracterizar as ações desenvolvidas pelo sindicato frente aos processos de trabalho adotados no setor automobilístico, as formas de contratação, as estratégias utilizadas pelo sindicato para captação e manutenção dos filiados, as conquistas e as perdas da categoria e as manifestações de crise sindical, vistas por diversos ângulos dos atores sociais envolvidos, sindicalistas e trabalhadores, assessores e estudiosos do fenômeno sindical.

RESULTADOS:

A real ou aparente desmobilização dos trabalhadores é apontada como uma das tantas manifestações de crise no sindicalismo. Porém, a compreensão das limitações das teorias generalizantes e que se pretendem universais para o sindicalismo nos remete a uma perspectiva de que a crise ou as crises precisam ser contextualizadas empiricamente por não se ter uma realidade única e homogênea. Além disso, a crise ou as crises, por tantas vezes anunciadas e que afligem os trabalhadores dificultando a ação coletiva, não são permanentes, tampouco as suas soluções também o são As diferentes interpretações sobre as mudanças no mundo do trabalho e reflexos nas organizações sindicais, portanto, instigaram o presente estudo. Propõe-se, assim, a discutir com base na realidade local, a ação sindical  e a mobilização dos trabalhadores nos anos 2000. A definição do foco da pesquisa na crise sindical e da ação do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), no contexto de produção flexível e enxuta intensificado com a indústria automobilística e sua relação com o mundo do trabalho em transformação, envolveu diversos aspectos que ajudaram a caracterizar as ações e estratégias sindicais que, quando não contrapõem de forma absoluta visões correntes de crise, exigem que sejam recolocadas de outro modo.

CONCLUSÕES:

A realidade local pesquisada contradiz a versão de crise de mobilização dos trabalhadores em vista das ações desenvolvidas por estes, tanto no chão-de-fábrica quanto no plano da instituição sindical. Também suscita a necessidade de redimensionamento do conceito de crise e de uma forma de pensar  mais complexa, capaz de perceber realidades ambivalentes, contraditórias e em transição.

 

 

 
Palavras-chave: Sindicalismo; Crise; produção enxuta e flexível.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006