IMPRIMIR VOLTAR
F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo

PROJETOS ARQUITETÔNICOS NA CONSTRUÇÃO DA CIDADE DE BELÉM: EDIFÍCIOS, MUTAÇÕES, METODOLOGIA DE BUSCA E ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES DA IMAGEM.

Fabiano Homobono Paes de Andrade  1
(1. Departamento de Arquitetura e Urbanismo – DAU - UFPA)
INTRODUÇÃO:

Alguns edifícios importantes que hoje fazem parte da história da Arquitetura da cidade de Belém, em especial a partir do Século XVIII, não foram oriundos de projetos específicos implantados em terrenos vazios, ou seja, livres de outras construções, ou antes nunca ocupados, mas sim do aproveitamento no novo projeto, de construções existentes, em percentuais que podiam chegar a quase totalidade das mesmas, próximos aos 90%  do total da sua área construída, complementadas por novos pavimentos ou alongadas no sentido horizontal. Constituíam, em verdade, reformas ou ampliações, que muitas vezes além de descaracterizar um projeto original de valor, as soluções não contribuíam para o desenvolvimento de novas tecnologias ou aparecimento de soluções arquitetônicas inovadoras.

Essas transformações morfológicas na arquitetura e no urbanismo podem ser mostradas através da iconografia (gravuras, pinturas, mapas, fotos e vídeos) existente da cidade, com o apoio da informática, utilizando programas que trabalhem com a imagem. Isto tem possibilitado novas descobertas, através da análise apurada dessa iconografia, em conjunto com as informações históricas, arqueológicas e antropológicas utilizadas pelos pesquisadores, e a recuperação com fidedignidade, de pormenores dessas descobertas, os quais poderão influenciar de uma maneira eficaz nos resultados que pretendem com os seus respectivos trabalhos.

METODOLOGIA:

Três edifícios foram escolhidos para servir de objeto de estudo. Todos foram selecionados pela importância que cada um deles tem para a população de Belém, quer pelo significado arquitetônico, histórico e cultural, quer pelo funcionamento enraizado ainda no projeto original e ainda pelo respeito carinhoso devotado à eles. O primeiro foi o edifício do Cinema Olímpia, que faltando 6 anos para completar um século de existência e apresentações sem interrupções e sem mudar de função, foi desativado há apenas alguns dias, cuja história acompanha as gerações do Século XX em Belém. O segundo edifício foi o Hospital da Real Beneficente Portuguesa que até hoje funciona no atendimento a toda população, tendo iniciado suas atividades em 1877 com exclusividade para os portugueses residentes na capital paraense. A terceira escolha recaiu sobre o edifício onde funcionou durante muitos anos o Hotel América desde o final do Século XIX até meados do Século XX, cedendo lugar as Casas Pernambucanas, e recentemente para a loja “O manolito”.

O procedimento de análise foi feito com auxilio da documentação, bibliografia e iconografia existente, da cronologia de suas existências, das alterações funcionais decorrentes de suas utilizações, alterações estruturais (fundações e superestrutura), das alterações de suas formas e estilos (mutações), imposições da legislação e de épocas, além da análise urbanística em relação à perda de escala.

RESULTADOS:

O edifício do Cinema Olímpia que do jornal local “ A Folha do Norte”recebeu o seguinte elogio na sua inauguração”Marcou um verdadeiro acontecimento nas rodas elegantes desta capital (...) realizada ontem no luxuoso edifício construído para esse fim à Praça da República, esquina da rua Macapá.” , citado no livro Cinema no Tucupi do escritor e cinéfilo Pedro Veriano. Diferente do que parecia, o edifício não teve a sua origem em um projeto arquitetônico especifico para Cinema, mas de reforma em edifício residencial, colonial, com cobertura em quatro águas, estrutura em madeira e coberta com telhas de barro, divisões internas em taipa, platibanda, grandes janelas e portas voltadas para um jardim na parte da frente e que prosseguia pela lateral direita de maneira afunilada.

O edifício da Beneficente Portuguesa ganhou mais um pavimento com aproveitamento  total da planta do então pavimento térreo (havia porão, que também foi mantido), tão discretamente realizado que só um cartão postal traz de volta o projeto inicial.

O edifício do Hotel América que ficou na memória da população do Século XX se originou da casa colonial de Feliciano Jozé Gonçalves que já existia em 1784, apenas acrescentaram mais um pavimento, aproveitando a solução de telhado em quatro águas. Este edifício foi considerado moderno e elogiado como um dos melhores de Belém no Século XVIII, na “Miscelânea Histórica para servir de explicação ao Prospecto da Cidade do Pará” de Alexandre Rodrigues Ferreira.

CONCLUSÕES:

A recuperação de acontecimentos importantes da memória das cidades através da história dos seus edifícios não são fatos novos, mas a observação atenta da iconografia existente relacionada a elas, através de programas para computadores que sirvam de eficientes auxiliares para ajudar no estudo dessas imagens, poderão não só enriquecer de informações a história da Arquitetura e do Urbanismo, mas esclarecer pontos até então sem explicações ou enevoados tanto da própria área pesquisada como também das áreas afins.

Através dos três edifícios analisados, com destaque para a análise do Cinema Olímpia, que possui razoável material para estudo e variedade de fotografias do local e do edifício, tivemos exemplos do potencial existente nesta maneira de buscar novas informações a respeito de objetos de pesquisa sobre os quais nos propusemos a trabalhar. A identificação de acontecimentos passados em edifícios ou cidades, que tiveram suas formas e funções mostradas integral ou parcialmente através de imagens se mostrou perfeitamente possível.

Os resultados obtidos confirmam a possibilidade da Arquitetura e do Urbanismo no seu inter-relacionamento com as outras ciências, como foi o caso no desenvolvimento deste trabalho, contribuir com novas metodologias aplicadas em pesquisas com caráter multidisciplinar.  

 
Palavras-chave: Edificios; Imagem; Cidades.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006