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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

OUTROS LUGARES... O CAMPECHE EM CARTÃO-POSTAL

Raphaela de Toledo Desiderio 1
Ana Maria Hoepers Preve 1
(1. Departamento de Geografia, Faculdade de Educação,Universidade do Estado de Santa)
INTRODUÇÃO:

Nesse trabalho o entendimento da complexidade do espaço geográfico se dá a partir do estudo do lugar. Um estudo feito com o uso de estratégias em educação que auxiliam na invenção de práticas entre educação ambiental e a Geografia nas séries iniciais. O presente texto mostra um modo de fazer em educação que considera processos geográficos simultâneos que permeiam o lugar de estudo através da compreensão, por parte dos alunos de uma escola pública, do bairro Campeche, Florianópolis/SC.  A estratégia aqui apresentada trata da criação e confecção de cartões–postais do Campeche. O envolvimento de alunos de uma 4ª série de Ensino Fundamental em práticas de estudo do lugar se torna significativo para o entendimento das diversas percepções do bairro. É um convite para pensar a geografia dos lugares, problematizando-as a partir das imagens que são veiculadas na imprensa local e mais especificamente nos cartões-postais oficias do bairro. Com seus próprios cartões-postais os alunos puderam mostrar alguns locais do bairro que têm sentido para eles, bem como refletir sobre as diversas formas de representação dos lugares. Tudo isso relacionado ao seu bairro. O trabalho é relevante uma vez que problematiza possibilidades de estudo entre a educação ambiental e ensino de geografia nas séries iniciais, ao mesmo tempo em que investiga o lugar e sua relação com espaços maiores.

METODOLOGIA:

A criação e confecção dos cartões-postais foi utilizada como estratégia para uma reflexão sobre o modo como as crianças representam seu espaço, além de refletir os modelos de representação das cidades, que geralmente são característicos desses cartões. Para isso, utilizamos cartões-postais de várias localidades do Brasil e da cidade de Florianópolis para que os alunos refletissem sobre os sentidos de um cartão postal. Após essa parte as crianças, em grupo ou individualmente, escolheram como gostariam de mostrar seu bairro e, sobretudo o que gostariam de mostrar nesse espaço de papel. Os cartões-postais do Campeche foram confeccionados a partir de desenhos ilustrativos, reproduzindo o formato retangular dos cartões comercializados em diversos pontos turísticos da cidade e do próprio bairro. Este trabalho foi realizado com alunos da 4ª série da Escola de Educação Básica Januária Teixeira da Rocha, Campeche, Florianópolis/SC e está vinculado ao projeto de extensão intitulado: “Educação Ambiental e Ensino de Geografia: experimentações na Escola de Educação Básica Januária Teixeira da Rocha”, do Núcleo de Estudos Ambientais da UDESC. Durante o ano letivo de 2005 foram realizados com a turma encontros semanais que privilegiaram o estudo do bairro através de discussões em sala, entrevista com moradores visualização de fotografias aéreas e saídas de campo para o entendimento das transformações geográficas locais.

RESULTADOS:

As imagens retratadas nos cartões-postais oficiais da cidade de Florianópolis repetem pontos, lugares ou situações da vida cotidiana consideradas as mais reveladoras da cidade, como por exemplo: pescadores puxando uma rede de pesca artesanal, a ponte Hercílio Luz, a Lagoa da Conceição e com relação ao bairro em estudo, imagens aéreas com vista parcial, a praia ou a Ilha do Campeche. Esses cartões, em grande parte, apresentam imagens das formas geológicas e geomorfológicas dos lugares, ou ainda de monumentos construídos que nos remetem a uma determinada época histórica. Nos cartões–postais criados pelos alunos outras geografias circulam: além da área de praia vemos também o posto de saúde do bairro; o cemitério localizado atrás da igreja, próximo a escola e a praia; os espaços cotidianos de convivência e lazer como a escola onde estudam, a pista de skate onde brincam e que foi inventada pelos moradores, os campos de futebol local onde brincam os meninos, as ruas do bairro por onde se deslocam de bicicleta, de carro, ônibus ou mesmo a pé. A pista de skate foi transformada, poucos dias após este trabalho, de espaço de lazer em lugar de estacionamento adequado aos movimentos turísticos no bairro. As imagens apresentadas pelas crianças relacionam-se ao cotidiano do lugar: ao que lá fazem e vivem. Mostram outros lugares, outras geografias que estão diretamente relacionados ao espaço de vivência das pessoas e seus significados.

CONCLUSÕES:

Diferentemente da produção escrita o desenho é sempre bem recebido nesse grupo de alunos. Esse trabalho aguçou a percepção das crianças para além das imagens prontas, sendo também um momento para o professor olhar diferentemente para o bairro podendo inferir sobre o papel massificador destas imagens que dizem sobre os lugares. A partir da criação e confecção desses cartões-postais foi possível enxergar de que forma aqueles encontros semanais de investigações e andanças pelo bairro tinham provocado nas crianças outras maneiras de compreender seu espaço cotidiano. É importante destacar o uso dos cartões-postais como estratégia em educação que mobiliza o conhecimento de outros lugares, pontos e situações cotidianas do bairro e até mesmo da cidade em contraposição as imagens convencionadas dos lugares. Tais imagens foram escolhidas por um grupo que decide o que deve ser mostrado dos lugares. Os cartões funcionam como uma bela recordação dos lugares por nós conhecidos e levamos pra casa quando terminamos uma viagem ou enviamos pra alguém. Cabe aí uma longa reflexão porque o exercício proposto aciona outras geografias e por conseqüência outros modos de fazer geografia na escola aliada a uma educação ambiental nos lugares. Por último reforçar o aspecto múltiplo e diverso do Campeche que emergem dessas invenções. Estes cartões indicam afetividades com o lugar!

Instituição de fomento: Programa de Apoio a Extensão - PAEX/PROEX/UDESC
 
Palavras-chave: Educação ambiental; cartões-postais; ensino de geografia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006