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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
REORGANIZAÇÃO ESPACIAL DAS TRÊS MAIORES REDES BANCÁRIAS PRIVADAS NACIONAIS, ENTRE 1996 E 2003
Maria Helena Lenzi 1
(1. Departamento de Geociências, Centro de Filosofia e Ciências Humanas/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho insere-se em um projeto de pesquisa denominado “Redes financeiras e dinâmica territorial brasileira”, coordenado pela Professora Leila Christina Dias. A relevância deste estudo deve-se à relativa ausência de pesquisas sobre a espacialização do sistema bancário no atual período histórico, no Brasil. Estudamos, nesta pesquisa, a reorganização espacial das três maiores redes bancárias privadas nacionais – Bradesco, Itaú e Unibanco – entre 1996 e 2003, com o objetivo de analisar a recomposição territorial de suas redes de agências, através da evolução do padrão locacional. Nossa hipótese é que quanto mais o Brasil inseriu-se no sistema financeiro global, mais seletivos tornaram-se os bancos com relação à localização das redes de agências.

METODOLOGIA:

Realizamos pesquisa bibliográfica acadêmica internacional e nacional na Biblioteca da UFSC; assim como em jornais e revistas especializadas (Gazeta Mercantil, Valor Econômico, Conjuntura Econômica, Revista Bancária Brasileira). As normas e resoluções foram pesquisadas no sítio do Banco Central do Brasil (http://www.bcb.gov.br), e incluem tanto aquelas editadas pelo Banco Central do Brasil, como as do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia. Para esta pesquisa, selecionamos os três maiores bancos privados nacionais – Bradesco, Itaú e Unibanco – pela importância que eles assumem no Sistema Financeiro Nacional: eles representam 29,05% dos ativos totais, 28,31% do lucro líquido, e 36,91% das agências dos 50 maiores bancos do SFN (Revista Bancária Brasileira, abril/2004). Para a construção dos mapas utilizamos a base cartográfica do IBGE. Escolhemos mapear a localização das agências por mesorregião. Estamos cientes das implicações dessa escolha, ou seja, da conseqüente generalização das informações, mas entendemos que o resultado do trabalho não foi prejudicado, porque possuímos, tabelados, todos os dados classificados por municípios. Elaboramos duas categorias de mapas distintos. Categoria I: Localização das três maiores redes privadas nacionais. Categoria II: Localização das redes de agências, por bancos selecionados.

RESULTADOS:

Podemos reconhecer alguns processos em curso na reorganização espacial das três maiores redes bancárias privadas nacionais no país: a) expansão em direção às capitais e regiões metropolitanas; b) expansão em direção às áreas mais dinâmicas economicamente; c) crescimento devido à privatização dos bancos públicos estaduais; d) redução do número de agências. Observamos que o crescimento das agências bancárias ocorreu nas regiões metropolitanas e capitais, havendo também, através da compra dos bancos estaduais, uma recomposição dessas redes de forma não homogênea no território nacional, configurando, portanto, diferentes padrões locacionais. O Unibanco, único entre os três bancos estudados que não adquiriu nenhum banco público estadual, tem o menor número de agências. Bradesco e Itaú recompõem suas redes de agências através da aquisição de bancos públicos estaduais nos leilões da privatização, entre 1997 e 2002. Enquanto o Bradesco comprou o Banco de Crédito Real de Minas Gerais, o Banco do Estado da Bahia e o Banco do Estado do Amazonas, o Itaú adquiriu, no mesmo período, o Banco do Estado do Rio de Janeiro, o Banco do Estado de Minas Gerais, o Banco do Estado do Paraná e o Banco do Estado de Goiás. Esse período já não se caracteriza tanto pela redução do número de agências, como no período estudado anteriormente – 1986 e 1996 – mas por uma maior seletividade espacial. Notamos que os três bancos estudados adotam estratégias distintas para os mesmos lugares.

CONCLUSÕES:

O estudo da evolução do padrão locacional das agências dos maiores bancos privados nacionais, entre 1996 e 2003, confirma nossa hipótese de pesquisa: a crescente inserção do país no sistema financeiro global é paralela à concentração de agências em pontos selecionados do território nacional, especialmente nas regiões metropolitanas. A comparação da evolução das redes, entre 1996 e 2003, mostra lugares em que o Bradesco expandiu sua rede e o Unibanco retraiu. A compra dos bancos públicos estaduais foi uma importante forma de recomposição das redes. Por isso, Bradesco e Itaú passaram a possuir uma grande rede onde antes tinham presença insignificante. Porém, esse fato não explica por completo a reorganização espacial das agências. Os estados que concentram poder, atividade produtiva e serviços possuem uma rede bancária mais densa. As capitais desses estados constituem centros de decisão da atividade financeira que exercem controle simultaneamente econômico e territorial sobre suas áreas de influência através da captação de depósitos em poupança, empréstimos e respectivos juros, investimentos diretos e participação acionária em empresas, desconto e cobrança relativos às operações comerciais e demais serviços. O estudo dos bancos pela evolução de suas redes de agências possibilitou-nos o entendimento da relação entre as estratégias e as mudanças desses bancos e os rumos das políticas econômicas nacionais e internacionais.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: redes; território; sistema financeiro.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006