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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
UNIVERSIDADE E EXTENSÃO RURAL: CAMINHOS E DESCAMINHOS
Altino Bomfim de Oliveira Junior 1
(1. Departamento Sociologia, Faculdade Filosofia, UFBA)
INTRODUÇÃO:

O Projeto Tecnologias Apropriadas para Agricultores Familiares em Biomas do Estado da Bahia/ECOFAMILIA, é um projeto financiado pelo CNPq/MDA com duração de um ano. Trata-se de uma proposta interdisciplinar de extensão integrada com ações de pesquisa e ensino com o objetivo de assessorar agricultores familiares reunidos em comunidades rurais, buscando apoiá-los em um processo de transição da forma tradicional de trabalhar na agricultura para o paradigma agroecológico. Entre os objetivos consta a criação de um grupo de extensão universitária para fortalecer a agricultura familiar, criar um banco de dados, uma rede e um site.

O Projeto atua em áreas de Fundo de Pasto do município de Monte Santo, na região da Caatinga e em cinco municípios do Vale do Jiquiriçá, no bioma da Mata Atlântica. Conta com uma equipe constituída por cinco professores diretamente envolvidos e vinte bolsistas das áreas de agronomia, biologia, educação, sociologia e veterinária.

METODOLOGIA:

Adotou-se uma pluralidade de métodos dado o Projeto envolver pesquisadores de áreas tecnológicas e das ciências humanas e sociais, com experiências e métodos diferenciados. O projeto conta com parcerias, no bioma Caatinga, do Projeto SEMEAR e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar/FETRAF. No bioma Caatinga o parceiro é a Escola Família Agrícola de Monte Santo/EFASE, que atuaram como mediadores para o contato da universidade com as comunidades rurais.

Quanto a estratégia, no Vale do Jiquiriçá, o Pólo Sindical de Amargosa junto com os sindicatos locais escolheu comunidades nos municípios de Ubaíra, Jiquiriçá, Mutuípe, Lage e Tancredo Neves. Com essa mediação, o projeto manteve contatos, realizou observações e entrevistas e aplicou o método do Diagnóstico Rural Participativo/DRP utilizando as técnicas da caminhada, mapa, da história da comunidade e o levantamento de problemas e soluções. Nos Fundos de Pasto de Monte Santo, a EFASE indicou quatro comunidades. Realizou-se visitas, observações e entrevistas, com base em roteiro prévio, para levantamento de informações sócioconômicas, políticas, culturais e ambientais e realizou-se DRP em duas comunidades e na EFASE. Para o diagnóstico dos sistemas de produção agropecuário realizou-se observações e entrevistas e, no Vale do Jiquiriçá, aplicou-se questionários.

A estratégia geral compunha-se de dois momentos fundamentais: o diagnóstico das situações locais e a definição e realização de ações.

RESULTADOS:

Em termos socioeconömicos, identificou-se problemas de falta de abastecimento d’água, inexistëncia de sistemas de esgotamento, deposição de lixo nos fundos das casas e nas estradas; falta de energia e postos de saúde; escolas insuficientes; renda familiar pequena, endividamento; estradas precárias. Em termos culturais, verificou-se o abandono de manifestações culturais locais e adesão de valores externos. O lazer dos jovens, tanto homens quanto mulheres, é o jogo de futebol, namorar, baladas e beber. Identificou-se também o uso de drogas. Referente ao meio ambiente, há problemas de saneamento básico, de utilização de agrotóxicos, queimadas, erosão, contaminação de rios, assoreamento de nascentes. Em termos políticos, as associações comunitárias enfrentam problemas diretivos e organizativos.

Prioriza-se equacionar questões relativas a agropecuária, tendo sido realizado um levantamento florístico da Caatinga objetivando reflorestar e recompor as áreas de fundo de pasto degradadas pela criação de caprinos e pelo desmatamento. Programou-se curso de agroecologia, visitas a unidades agroecológicas e estágios em ONGs para técnicos e agricultores de Monte Santo para treiná-los no manejo das áreas onde produzem a agricultura de subsistëncia baseada no plantio de feijão, milho, mandioca e culturas complementares como a batata doce, melancia entre outras. Na parte social priorizou-se ações com os jovens patrocinando-se a ação de especialistas para trabalhos de arte-educação.

CONCLUSÕES:

Restando trës meses para o encerramento do projeto a conclusão elementar é que não se atingiu o objetivo central, a mudança de paradigma. A exiguidade de tempo (um ano) é importante fator limitante para se desenvolver trabalho educativo de mudança de consciëncia e, em decorrëncia, de paradigma, processo que exige tempo mais longo. Quanto a criação de um grupo de extensão universitária, a dificuldade é a contradição entre a dinämica dos trabalhos de campo e aquela própria da academia. Foi criado um site, o projeto participa da rede Articulação Pró Agroecologia e não se conseguiu estruturar um banco de dados.

Como dificuldades destaca-se: primeiro, a dificuldade da equipe entender e incorporar os objetivos, a idéia e o modelo de interdisciplinariedade proposto para o projeto. Segundo, o grande número de bolsistas determina elevado custo tanto do transporte para as áreas de trabalho quanto de alimentação. Terceiro, conflitos entre as atividades do projeto e a dos professores e bolsistas e entre a equipe e a coordenação. Quarto, a distância do campus da UFBA, localizado em Salvador em relação às áreas de atuação. As atividades eram planejadas para os fins de semana mas, só de viagem para uma das áreas leva-se em torno de 14 horas. Tal situação reduz o tempo de trabalho e encarece o custo de deslocamento dado o grande número de bolsistas.

Por fim ressalta-se que a experiëncia foi extremamente rica mas, infelizmente, devido aos problemas, pouco aproveitada pela equipe.

Instituição de fomento: CNPq/MDA
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Agroecologia; agricultura familiar; extensão universitária.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006