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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

A CONTRIBUIÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIA DA MEDIAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DO ALUNO

Kleber Klos 1
(1. Pontifícia Universidade Católica do Paraná / PUC/PR)
INTRODUÇÃO:

A ênfase deste trabalho foi conferida específicamente à Educação Física, que apresenta sérias crises de identidade no campo educacional. Esse resultado é devido aos limitados conceitos responsáveis pela nossa prática, resumindo as aulas em reproduções de movimento, abdicando das oportunidades de os alunos manifestarem opiniões, críticas e raciocínios. Utilizando como referência de observação os Projetos Pedagógico e de Educação Física do Colégio Medianeira, onde a concepção de ensino é centrada no Pensamento Complexo, deseja-se que a Educação Física auxilie na construção da autonomia dos alunos, encorajando-os a buscar decisões próprias, para que haja uma maior construção de conhecimentos, deixando de lado o ensino tradicional de respostas prontas, de uma obediência centrada em valores que enfatizam a ausência de autonomia, isto é, de heteronomia.

A questão da formação da autonomia dos alunos ainda merece ser investigada em sua eficácia. Embora surgido há já um século atrás, não se pode dizer hoje que o movimento pedagógico de defesa da autonomia do indivíduo tenha vingado. Na verdade, infelizmente, e por motivos vários, a escola atual não tem sido uma instituição que privilegie e promova, de fato, a autonomia dos seus participantes (alunos e professores). Sem medo de cometer equívoco ao generalizar, pode-se afirmar com Paulo Freire que na esmagadora maioria das escolas: “o professor ensina, os alunos são ensinados; o professor pensa, e alguém pensa pelos estudantes; (...) o professor estabelece uma disciplina, os alunos são disciplinados; (...) o professor escolhe, impõe a sua opção, os alunos submetem-se; (...) o professor confunde a autoridade do conhecimento com a sua própria autoridade profissional, que o opõe à liberdade dos alunos; (...) o professor é o sujeito do processo de formação, enquanto os alunos são simples objetos dele” (Freire, 1971:95).

Para superar esta constatação  apontada por Freire, a mediação do professor se torna fundamental para que o processo de formação cidadã e de desenvolvimento da autonomia nas aulas aconteça, auxiliando na formação de cidadãos críticos, participativos e conscientes de suas ações. Dentro deste contexto, o presente estudo esteve centrado nas interações pedagógicas que terão como objetivo a autonomia do aluno enquanto agente da sua própria aprendizagem e futuro cidadão, passando certamente pela autonomia do professor enquanto pessoa e profissional.

 

METODOLOGIA:

Por tratar-se de um estudo que busca compreender questões de natureza social, a fim de eventualmente contribuir para sua solução, a pesquisa é aplicada. Como se trata de uma pesquisa que almeja tratar com o real humano, na tentativa de conhecer suas motivações, representações e valores, deixando a realidade falar a seu modo para ser escutada, a pesquisa é considerada qualitativa.  Sendo um levantamento bibliográfico que busca revisar todos os trabalhos disponíveis, objetivando selecionar tudo o que possa servir em sua pesquisa, ela é considerada exploratória.

Os instrumentos de coleta foram a observação não-estruturada e entrevistas semi-estruturadas. A observação não-estruturada foi realizada através da observação não-participante, em que o pesquisador esteve inserido nos grupos de observação, fazendo sua presença tão discreta quanto possível. Tal observação se fundamentou em três instrumentos: um quadro operacional da pesquisa contendo o conjunto dos indicadores que estabelecem o vínculo entre os conceitos empregados pela hipótese e as observações empíricas necessárias à verificação dessa hipótese; um registro diário a ser feito pelos educadores das séries pesquisadas, em que se descreverá de forma pessoal o seu dia de trabalho; um diário de campo para o registro das observações do pesquisador. Com relação às entrevistas semi-estruturadas, foram elaboradas a partir de um relato autobiográfico dos educadores envolvidos na pesquisa, procurando registrar informações sobre sua formação humana e acadêmica. A observação e as entrevistas foram individuais e realizadas pelo próprio pesquisador através de procedimentos adequados de registro físico.

Dois procedimentos técnicos foram utilizados: pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de material já publicado e que auxiliará a revisão de literatura sobre estudos da autonomia, pensamento complexo e Educação Física e a abordagem antropológica, imprescindível para este tipo de investigação.

RESULTADOS:

Esta investigação visou analisar em que medida a educação escolar ainda está centrada em um poder docente anacronicamente arbitrário, que considera os alunos apenas seguidores de ordens sem nenhuma capacidade de decisão e escolha, situação que nos remeteria à conclusão pessimista de que a escola ainda não está formando os alunos para o exercício pleno da cidadania, finalidade tão insistentemente enfatizada na educação. Nessa condição estar-se-á formando pessoas sem iniciativa própria isto é, sem autonomia.

Pesquisando várias obras que estudam o pensamento complexo, a autonomia, a Educação Física, bem como estabelecendo diálogos com professores, mostramos que a união destes temas é bem-sucedida e possui grande relevância nos aspectos educacionais da cultura corporal de movimento. Apesar desta relevância, muitos profissionais concentram sua prática pedagógica numa visão empirista, onde seu conhecimento é inatingível, sendo ele o centro do processo e não o educando, afastando cada vez mais os objetivos da escola.

              O resultado do trabalho é o nítido reflexo positivo nas aulas, onde trabalhando-se a autonomia com os alunos na disciplina de Educação Física, existe o resgate de conhecimentos prévios dos alunos, o respeito às suas opiniões e a valorização de sua realidade. Deste modo forma-se uma sociedade mais crítica, participativa e consciente de suas atuações, contribuindo diretamente para o desenvolvimento do país.

CONCLUSÕES:

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997) apontaram como objetivos do Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política, além de ser um exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito, desenvolvendo o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania, o que coloca a autonomia no centro de nossa reflexão.

A escola é o espaço institucional no qual as diferenças devem ser consideradas e respeitadas de maneira a permitir a construção da identidade de cada aluno para o desenvolvimento de sua autonomia. As diferenças que definem a singularidade e a identidade forçam, obrigatoriamente, um respeito à diversidade no momento do processo de ensino e aprendizagem. Como apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais, a experiência social, cultural, afetiva e cognitiva dos educandos deve se constituir na referência fundamental a partir da qual o conhecimento será construído.

Esta pesquisa têm a intenção de contribuir para uma ação mais reflexiva e qualitativa dos professores de Educação Física Escolar, auxiliando para um melhor entendimento das questões relacionadas à autonomia e suas implicações no desenvolvimento dos alunos.

Instituição de fomento: Colégio Nossa Senhora Medianeira
 
Palavras-chave: Autonomia; Educação Física; Pensamento Complexo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006