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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
ASPECTOS DAS AÇÕES DO CUIDADOR DE UM USUÁRIO DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL-II DE DOURADOS
Adalberto Vital dos Santos Júnior  1
Zaira de Andrade Lopes  2
(1. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE DOURADOS - MS ; 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é fruto da monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Psicologia Social e Intervenções Psicossociais da UNAES – Faculdade de Campo Grande - MS. Partimos do pressuposto de que as ações da cuidadora são resultantes de conhecimentos socialmente elaborados, orientando-a no pensamento e na ação a respeito do usuário, da loucura e do processo saúde-doença mental. As representações da cuidadora determinam a suas ações e podem refletir as Representações Sociais dos grupos onde participa, as suas representações podem dar origem ou ter origem em Representações Sociais destes grupos. Os objetivos da pesquisa procuraram identificar as representações da cuidadora sobre o CAPS II e sobre a sua própria prática de cuidado. Abordamos a temática da saúde e da doença mental utilizando uma conceituação de transtorno mental aliada aos aspectos adaptativos do sujeito. Na conceituação de transtorno mental está destacado o ponto de vista médico, que aponta para a vulnerabilidade e para os sintomas. Os aspectos adaptativos alicerçam-se no conceito adotado pela enfermagem, referindo-se a adaptação às condições de resposta partindo do contínuo saúde-doença. Conceituamos saúde e doença abrangendo aspectos que dizem respeito ao sujeito da saúde-doença e ao seu contexto histórico, espacial e político. A elaboração desta pesquisa justificou-se em razão da necessidade da produção de conhecimentos sobre cuidadores de pessoas com transtorno mental.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa teve abordagem qualitativa, sendo um Estudo de Caso, que pretendeu investigar uma cuidadora, em um processo exploratório. Todos os dados desta pesquisa baseiam-se em informações colhidas na entrevista semi-estruturada com a cuidadora, que foi gravada em fita cassete; nas reuniões de familiares, nas visitas domiciliares e observações participantes. Para  analisarmos o conteúdo, elaboramos unidades de conteúdos correspondentes às categorias pré-estabelecidas. Na fase exploratória surgiu a necessidade de juntar as informações, organizá-las e colocá-las disponíveis ao informante para que manifestasse suas reações sobre a relevância e a acuidade do que foi relatado, sempre tentando fazer o confronto teoria – empiria. A transcrição da fala da cuidadora foi recortada e foram constituídos agrupamentos que consolidaram as categorias. a) Processo Saúde – Doença: Em torno desta categoria agrupamos todo o conteúdo que caracterizou a construção da representação sobre a doença mental. A partir deste agrupamento buscamos identificar a forma como a doença mental entrou na vida da Sra. Maria e como se deu a construção do seu conhecimento sobre a doença mental. b)            Sistema de Saúde: Neste agrupamento estão os conteúdos relativos ao CAPS II, ao serviço de saúde mental composto por uma equipe multiprofissional e inserido na administração pública municipal. c)   O Cuidado e o Cuidador: Esta categoria constitui o segundo agrupamento que diz respeito ao cuidado e à prática de cuidado.
RESULTADOS:
Analisando os conteúdos, buscamos identificar a forma como a doença mental entrou na vida da cuidadora e como se deu a construção do seu conhecimento sobre a doença mental. A sua representação de loucura refere-se a incoerência nas idéias daquela pessoa que está em crise, não havendo distinção entre loucura e doença mental. O processo saúde-doença esteve presente na vida da cuidadora e proporcionou uma produção histórica do saber, ou seja, dentre outros procedimentos a cuidadora reconhece a necessidade da continuidade do tratamento e a conexão entre os aspectos sócio-econômicos e os aspectos do bom funcionamento do corpo e da mente. Sobre o Sistema de Saúde, a cuidadora não distingue papéis dentro da equipe multiprofissional, mas aponta para o acolhimento e a dinâmica do serviço. A cuidadora declarou conhecer alguns trabalhadores do CAPS II, construindo sua representação sobre o CAPS II alicerçando-se apenas em suas experienciações ligadas ao tratamento do marido. A cuidadora define a sua prática de cuidado, como controle de elementos estressores, objetiva idéias e conceitos apresentados a ela no decorrer das suas vivencias com o tratamento do seu marido. Mostra-se voluntária e quando necessário compartilha o cuidado com os filhos. As representações são uma ‘condição das práticas’, e as práticas caracterizam-se como ‘agente de transformação’ das representações. Ou seja, as influências das práticas sobre as representações constituem uma determinação objetiva e propriamente dita.
CONCLUSÕES:
As atuais representações da cuidadora sobre a sua prática de cuidado e sobre o CAPS II obtiveram influência das suas ideologias, das suas experienciações com o processo saúde-doença e apresentam relação com as teorias científicas que constituem as explicações dadas nos serviços de saúde por onde passou. A representação de cuidado inclui o convívio terapêutico que procura não tutelar a pessoa com transtorno mental, baseado no convívio social. A representação da cuidadora sobre a loucura seria o agravamento de um problema de saúde, seus sintomas aparecem no meio social, no convívio entre as pessoas, mas pode ser controlado. A representação da cuidadora sobre o CAPS II não leva em conta os olhares dos vários campos de saber que compõem a equipe multiprofissional e que podem significar o atendimento do maior número de necessidades e especificidades da pessoa com transtorno mental, se compararmos o atual modelo ao antigo modelo hospitalcêntrico. Este aspecto sugere necessidade de melhorarmos as relações estabelecidas entre a equipe do CAPS II e o familiar, tentando ampliar a visão do cuidador sobre o programa municipal de saúde mental. Aos profissionais que trabalham no CAPS II, é de suma importância estenderem seus conhecimentos a todos aqueles que são atendidos pelo serviço, propondo soluções para problemas, orientando cuidadores para uma melhor qualidade de vida, construindo representações sociais, contribuindo para a promoção da saúde desta população e criando multiplicadores.
 
Palavras-chave: Cuidadores; Representações; Saúde Mental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006