IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
"MENINOS(AS) DE PÁTIO": AMBIENTE X APRENDIZAGEM
Adão Alécio Nardon 1
Adão Marcio Bordgnon 1
Fernanda Bastide 1
Marcia Ferrari Roos 1
Marcia Iara da Costa Dornelles 1
Nitielli Oliveira 1
(1. Universidade da Região da Campanha - URCAMP/Alegrete)
INTRODUÇÃO:

As escolas convivem, sistematicamente, com alunos que não permanecem em sala de aula, preferindo o pátio, a frente ou as esquinas dos educandários. Indagações sobre os porquês desse comportamento são freqüentes entre os professores e equipes pedagógicas, no entanto, não se tem, na comunidade, uma leitura das verdadeiras razões que os levam a assim proceder. Com o objetivo de investigar algumas das causas que levam estes jovens a terem esta postura e, também, de como percebem a necessidade do conhecimento é que se desenvolveu esta investigação. A analogia do título com os meninos de ruas deve-se as características que ambos os grupos têm em comum. A pesquisa aconteceu através de um estudo exploratório, por um período de três meses, em que estagiários do Curso de Matemática conviveram com o ambiente de alunos das séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Para melhor analisar os resultados, lançou-se mão da Teoria das Inteligências Múltiplas e de Proposta de Projetos Interdisciplinares como forma de abordagem dos conteúdos. As constatações decorrentes de observações, entrevista e interferências apontam para uma insatisfação, por parte dos alunos entrevistados, do modelo de ensino proposto e, também, para o pouco prestígio dos valores que, segundo eles, são importantes para a formação de um cidadão mais crítico e conscientes de seus deveres.

METODOLOGIA:

No período em que ocorreu a pesquisa, os acadêmicos interagiram com alunos na faixa etária de 13 (treze) a 23 (vinte e três) anos de idade, de escolas da municipais e estaduais do município de Alegrete. Nesta fase, os estagiários permaneceram no ambiente (pátio, frente ou esquinas das escolas), numa relação de aprendiz/pesquisadores/professores/amigos, fazendo observações, bate-papo, entrevistas abertas e semi-estruturadas, realizando atividades lúdicas; conhecendo os(as) meninos(as) de pátio e detectando as razões que os levam a não gostar da sala de aula. Paralelamente a estas atividades fez-se observações em aulas e entrevistas com os professores. Os dados obtidos com os alunos, com os professores e pelas observações livres, foram analisados e confrontados com o propósito de se ter um verdadeiro entendimento do tema em estudo e, também, como forma de apresentar sugestões de atividades metodológicas que possam resgatar estes alunos.

RESULTADOS:

Os resultados apontam que 79% dos alunos já reprovaram em alguma disciplina; 21% começam o ano/semestre letivo e se evadem, citando como causas: o serviço militar, a mudança de temperatura, o cansaço após o trabalho e a metodologia dos professores. Seus ídolos são: cachorro, grupos de pagode, cantores regionais, Guns N’Rose, Renato Russo. Gostam de dormir, escutar música, ficar com os amigos e tocar instrumentos musicais. Sessenta por cento deles dependem total ou parcialmente da família. Em aula, gostam de conversar e interagir com os professores; não gostam de fazer cálculos, provas e copiar do quadro. As disciplinas que mais gostam são: Matemática e Biologia (14%), Língua Portuguesa (36%) e História, Química e Física (12%), enfatizaram, entretanto, que o gosto por estas disciplinas é pelo bom relacionamento com os professores e não especificamente pela matéria, e as que menos gostam são: Matemática, Biologia, Física e História (35%) e Química, Educação Artística, Sociologia, Filosofia, Geografia (42%); entendem que estas disciplinas "não servem para nada", com conteúdos fora de foco, pouco interessantes e "não vêem aplicação." Já os conteúdos de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira servem para aprender "a se expressar melhor" e porque também é cultura. Descreveram os professores como: "são estúpidos, ditam demais"; "são malas"; não gostam que sentem em grupos; são "caretas", "ditadores", o Brasil é uma democracia, mas não aceitam "nossa opinião".

CONCLUSÕES:

Os resultados apontam que "Os meninos(as) de Pátio" são, de certa forma, excluídos do modelo atual de escola; por outro lado, percebe-se que a metodologia dos professores é determinante para a conquista intelectual dos alunos, sendo que o significado atribuído aos conteúdos promove o desejo de aprender. Pelas respostas dos entrevistas sobre o modelo de aula que gostariam de ter, evidencia-se a necessidade de uma percepção holística e global da construção do conhecimento, fazendo de diferentes ambientes, espaços de aprendizagem. Há que se tentar atingir os educandos em suas diferentes inteligências, fato constatado, pelas interferências com alunos do Ensino Fundamental por meio de jogos realizados em ambiente aberto nas escolas pesquisadas. Por outro lado, pela análise das entrevistas com os professores, percebe-se que muitos não conhecem os alunos que têm, quer seja pelo grande número de turmas e de alunos, quer seja pela falta de um diagnóstico prévio. Enfatiza-se a importância do domínio do conhecimento específico, aliado a uma proposta metodológica plural, a qual contemple as diferentes realidades da sala de aula, consubstanciando a estes fatores, o entendimento da(s) teoria(s) que dão suporte a prática do professor(a) de cada professor(a) e da escola.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ensino; Metodologia; Aprendizagem.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006