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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo

A INSERÇÃO DA HABITAÇÃO POPULAR NO TECIDO URBANO DE SALVADOR-BA

Antonio Mateus de Carvalho Soares 1
Cibele Saliba Rizek 2
Carlos Geraldo D’Andrea Espinheira  3
(1. Departamento de Arquitetura e Urbanismo - EESC USP (Mestrando); 2. Departamento de Arquitetura e Urbanismo - EESC USP ( Profa. Livre Docente); 3. Departamento de Sociologia - FFCH UFBA ( Prof. Doutor))
INTRODUÇÃO:

O estudo analisa as últimas políticas habitacionais de Salvador enfocando a relação entre a forma física dos conjuntos habitacionais populares (desenho, arquitetura, volume densidade) e os conteúdos sociais (habitantes e práticas cotidianas). O objetivo deste estudo é analisar a habitação popular enfocando três conjuntos habitacionais de baixa renda, compreendendo os processos de inserção destes aglomerados no tecido urbano da cidade. Os três conjuntos habitacionais estudados foram construídos em períodos e áreas diferentes: 1- Conjunto São Cristóvão ou Loteamento Vale das Dunas, localizado na Av/ Paralela, zona norte. 2- Conjunto Viver Melhor/ Ogunjá, área sudeste da cidade, localizado em adjacência a bairros de classe média. 3- Conjunto Nova Primavera, área oeste, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Os conjuntos foram construídos respectivamente no final de 1980, em meados de 1990, e em meados de 2000, período pós – BNH (1986), estão alocados em áreas geográficas diferentes dando assim uma dimensão maior para as análises do estudo tanto no âmbito da diferenciação cronológica como no tipo da arquitetura utilizada em cada período. Os conjuntos habitacionais estudados são considerados de médio porte (menos de 500 unidades habitacionais); são aglomerados que melhoraram as anteriores condições de moradia dos atuais mutuários, contudo, não obedeceram imparcialmente seus respectivos projetos, o que compromete consideravelmente a qualidade de vida dos moradores.

METODOLOGIA:

O trabalho foi desenvolvido em duas etapas, inicialmente um rastreamento qualitativo e quantitativo dos conjuntos habitacionais, atentando-se para o número de moradias, tamanho, forma, densidade e volumetria; existência de equipamentos urbanos; resistência das unidades/embrionárias ao envelhecimento precoce e as relações que o complexo habitacional mantém com seu entorno.  Na execução desta etapa utilizou-se como técnica metodológica a observação da paisagem comparando-a com o tecido urbano que a circunda e com a configuração espacial da cidade. Nesta etapa acontecerão visitas periódicas aos conjuntos pesquisados com registros iconográficos do local (fotografias, desenhos e medições). Realizou-ze também pesquisas em órgãos públicos com a finalidade de colher dados sobre os conjuntos em estudo. No segundo momento compreendemos as relações entre (universo social) e a forma física do conjunto, com a construção dos instrumentos de pesquisa e sua aplicação. Assim, utilizamos questionários e entrevistas com os moradores, através dos quais levantamos os fundamentos compreensivos das condições de habitabilidade e quais foram às formas de apropriação do espaço no conjunto. Foram aplicados 150 questionários, 50 em cada conjunto habitacional, com o objetivo de se construir um perfil de cada aglomerado e 18 entrevistas, 15 com os moradores dos conjuntos habitacionais e 03 com representantes de órgãos públicos que estavam envolvidos na construção dos conjuntos habitacionais.

RESULTADOS:

Os resultados estão divididos da seguinte forma: I - Levantamentos de dados primários que se constituíram em indicadores para a compreensão dos micros espaços estudados; II -   Confrontamento com dados oficiais, mais gerais dos conjuntos habitacionais da região e da cidade de Salvador. III - Identificação de problemas ligados aos pressupostos da ação governamental em respeito aos discursos oficiais, sobre o “desenvolvimento urbano”. IV – Identificação do processo de transitoriedade dos moradores e da substituição deles, após a remoção/relocalização por outros que adquirem legal ou ilegalmente as moradias. V- Constituição  de uma quadro de referência para o planejamento  urbano/habitacional e o revestimento  em mudanças culturais. VI – Contribuição à bibliografia dos estudos urbanos e dos grupos sociais na perspectiva da análise da sociologia urbana.

CONCLUSÕES:

Em linhas gerais suas localizações são privilegiadas no que se referem à articulação viária com a cidade de Salvador, os três conjuntos se localizam próximos de avenidas estruturantes que facilitam o deslocamento de seus moradores. Contudo, os problemas constatados comprometem a qualidade de vida dos moradores: inicialmente temos uma negação de parte do projeto oficial, muito do que foi prometido não foi executado, tanto na dimensão física (construção de praças, escolas, creches, lavanderias etc.), como na dimensão social (programas comunitários de geração de renda etc.). Algumas casas do conjunto Viver Melhor/Ogunjá e do Nova Primavera racharam e comprometerem a  qualidade de vida das famílias residentes; há uma falta de serviço generalizado nos conjuntos habitacionais ( escola, posto de saúde, áreas de lazer, segurança etc.). Neste quadro, podemos afirmar que os últimos espaços habitacionais populares construídos em Salvador se inserem parcialmente no tecido urbano da cidade e seus conteúdos sociais (habitantes) continuam excluídos do mercado formal da economia sobrevivendo do improviso. Os plenos direitos, do emprego, da educação, da saúde ainda não foram conquistados pelos habitantes destes conjuntos, que ainda continuam excluídos do que poderíamos chamar de sociedade formal – do pleno direito.

Instituição de fomento: FAPESP – Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de São Paulo.
 
Palavras-chave: cidade; habitação popular; tecido urbano.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006