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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo

DINÂMICA, DIVERSIDADE E RIQUEZA. UM DIAGNÓSTICO FÍSICO, TERRITORIAL E SOCIAL DO BAIRRO DA LEVADA, MACEIÓ- AL.

Joyce Fontan de Abreu  1
Airton Rocha Omena Júnior 1
Gabriella Vasconcelos Peixoto 1
Lívia de Oliveira Martins 1
Regina Coeli Marques 1, 2
Taís Normande Acioly 1, 2
(1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas; 2. Orientadora)
INTRODUÇÃO:

Um diagnóstico superficial descritivo é insuficiente para formar um quadro da realidade sobre a qual se deseja intervir. Tampouco, convém exigir que a realidade simplesmente seja modificada à luz de um modelo normativo fechado e acabado. Cabe, ao iniciar o presente artigo, ressaltar a importância de se conhecer profundamente a complexa e mutável paisagem urbana.

Este artigo trata de um estudo urbanístico do bairro da Levada, situado em Maceió-AL. O objetivo foi a produção de um diagnóstico físico-territorial, sócio-econômico e cultural, para subsidiar futuras intervenções neste espaço urbano.

O diagnóstico consistiu na análise dos dados coletados a partir do levantamento dos elementos estruturadores do espaço urbano e do perfil sócio-econômico e cultural traçado da população. Para isto, foram realizadas aulas expositivas sobre os temas abordados, pesquisas em campo, entrevistas a população, levantamentos iconográficos e visitas aos órgãos que abastecem e prestam serviços ao bairro.

Situado à Sudoeste da cidade de Maceió, o bairro é margeado pela Lagoa Mundaú. Sua história é cercada por processos de autoconstrução em um espaço onde a riqueza e a complexidade ambiental desempenharam papel fundamental para a sua consolidação.

A formação do sítio deu-se entre os canais da Lagoa e o Centro Histórico de Maceió. O bairro é, atualmente, um reflexo da carência de serviços públicos. O desinteresse político e ambiental aceita que o bairro seja inadequadamente assistido e ocupado.

METODOLOGIA:

O método adotado apresenta-se resumido em cinco ações principais: i) aulas expositivas, ofertadas pela Disciplina de Projeto de Urbanismo 1 (cadeira obrigatória no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas) para introdução dos conceitos sobre os elementos estruturadores da forma urbana, elaboração de legendas e questionários e assessoramentos dos conteúdos produzidos; ii) levantamento bibliográfico, virtual e iconográfico, nesta etapa foi adotado como base o mapa da MAPLAN Aerolevantamentos S.A. e ESTEIOS Engenharia e Aerolevantamentos S.A. (1998/99), concedido pela Prefeitura Municipal de Maceió, através da Unidade Executora Municipal (UEM); iii) levantamento de campo, o qual consistiu em visitas a órgãos/ instituições públicas e ao bairro para coleta de dados e observação da realidade, produção de material imagético (croquis e fotografias), construção do mapa base e aplicação de questionários; iv) sistematização dos resultados através da junção, catalogação e compatibilização das informações obtidas, elaboração de organogramas, fluxogramas, tabelas, cálculos estatísticos e de relatórios parciais; v) produção do diagnóstico, esta etapa consistiu na análise dos dados através dos relatórios parciais e construção de mapas que destacavam: a) evolução urbana, b) impactos ambientais, c) costumes e hábitos da população, d) tipologias, uso e ocupação do solo predominantes, e) problemas identificados e f) potencialidades apontadas.

RESULTADOS:

Cerca de 45% do território do bairro constitui-se de aterros. Esta região apresenta elevados índices de degradação ambiental, alagamentos, problemas geotécnicos e propagação de doenças. Fauna e Flora devastadas pelos processos de aterramento. Áreas de risco e de interesse ambiental indevidamente ocupadas, contaminando lençol freático. Lagoa como destino final de grande parte do lixo e dejetos produzidos.

A ocupação do bairro é predominantemente residencial e leitura horizontal. Foram identificadas quatro manchas de tipologias arquitetônicas. A primeira apresenta área inferior a 20 m², constituída em material reciclado, a segunda, edificações geminadas em alvenaria, área inferior a 200 m². O terceiro tipo são edificações com recuos em alvenaria com área média de 300 m², a quarta tipologia constitui edificações com área superior a 500 m².

A área comercial é bem delimitada, compreendendo o Mercado da Produção e proximidades. O uso misto é de pequeno porte ligado à residência. Pouca incidência dos demais usos.

O bairro apresenta população jovem com baixa escolaridade, 29,1% possuem nível fundamental incompleto. Parte significativa dos habitantes, 39,1%, sobrevive com uma renda familiar inferior a 1 salário mínimo.

O bairro apresenta carências quanto a alguns equipamentos urbanos, 95% dos habitantes concordam que não há opção de lazer no espaço, enquanto que 75% acreditam que a segurança pública é ineficiente. Quanto aos estudantes, 69% freqüentam escolas em outros bairros.

CONCLUSÕES:

A infra-estrutura e os serviços urbanos são insuficientes, acelerando o processo de perda do patrimônio ambiental e paisagístico. O baixo índice de desenvolvimento humano somado a ineficiência da segurança pública transformam-no em um local marginalizado, apesar de ser vizinho ao centro da cidade. O bairro não oferece espaços públicos de lazer e apresenta edificações com baixo nível de salubridade em regiões de grande adensamento populacional.

As tendências, caso não haja iniciativas sérias, são: o agravamento do desequilíbrio ambiental, esvaziamento das residências nas proximidades do Mercado da Produção devido à insegurança e ao fluxo constante de ambulantes e automóveis, e o crescimento do comércio informal em decorrência do elevado índice de desemprego. Perda da identidade cultural por ausência de incentivos ao folclore e aos costumes locais e do patrimônio arquitetônico do final do século XIX devido às intervenções indiscriminadas.

Apesar dos problemas e tendências apontados, o bairro apresenta um enorme potencial paisagístico, ambiental e cultural oferecido através da proximidade com a Lagoa Mundaú. O Mercado da Produção e do Artesanato comporta-se como significativa fonte de renda para a população e pode tornar-se uma importante centralidade. A proximidade com o Centro facilita o acesso aos serviços e equipamentos urbanos. Existe ainda, a possibilidade de utilização do Emissário Submarino, minimizando os impactos causados pela falta de esgotamento sanitário.

 

 
Palavras-chave: urbanismo; diagnóstico; Levada.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006