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G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura

A Metodologia da Pesquisa de História e Música em Marcos Napolitano

Vitor Hugo Abranche de Oliveira 1
(1. Departamento de História, Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, UFGO)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa da História da Arte é uma busca constante por paradigmas que encerrem a concepção de construção da realidade do artista, o qual remete a um passado e a uma tradição que são construídas a partir de tendências de pensamentos, influências de ideologias, concepções estéticas derivadas de uma determinada época ou lugar. O passado do artista é uma intenção de formalidade que diverge da história consensual em relação ao determinismo do “monumento” e do fato histórico que tendencia a interpretação através do destaque do “grande acontecimento” determinante da ação na história.

A História da Música não é diferente. O músico é uma referência da construção do cotidiano ao seu redor e prisma de uma sociedade (seja ele, o artista, parte auto-identificadora ou crítica dessa mesma sociedade) que estabelece seus valores através de seu entendimento sobre as relações de realidade.

Para tanto, a pesquisa de História e Música* necessita de um aprofundamento metodológico em suas características para que, enquanto arte, suas características gerais sejam mantidas mas, enquanto música, suas especificidades sejam respeitadas e analisadas enquanto parte integrante do meio social.

O trabalho de Marcos Napolitano propõe uma sistematização da metodologia da pesquisa da História da Música, enfatizando os pontos específicos que a música guarda, diferenciando-a das demais formas de arte e ao mesmo tempo, localizando-a no meio social onde ela foi construída, divulgada, propagada e recebida (e porque não re-construída?). Essa sistematização não é uma síntese de um apanhado de pressupostos metodológicos, apesar da preocupação do autor em situar-se sempre entre uma ou outra tendência extrema de pensamento que poderia levar ao tendencialismo da pesquisa, tornando-a exclusivamente por mecanismo de movimentação de ideologia. Esta sistematização é uma indicação dos caminhos que podem ser tomados ao se pesquisar música; uma notável intenção de explorar cada vez mais horizontes que estejam associados à musica, e, ao mesmo tempo, uma necessidade de aprofundar as questões que fazem da música uma especificidade na abordagem da História da Arte.

METODOLOGIA:

A metodologia da pesquisa foi baseada na bibliografia História e Música de Marcos Napolitano e relacionada com autores que pesquisam música popular e seu conteúdo social, como Adorno e Horkheimer. Foi escolhida esse tipo de metodologia por situar o autor central no âmbito da história da arte e posicioná-lo conforme a sua abordagem dentro de determinada seqüencia de pensamento e a possibilidade de analisá-lo dentro de diversas perspectivas.

RESULTADOS:

A pesquisa da música como objeto histórico, para Napolitano, é uma busca aos movimentos polissêmicos assim como uma inserção do mesmo documento através de métodos que não sufoquem a livre interpretação e a pluralidade de sentido da arte. O autor usa conceitos de Arnaldo Contier para estabelecer parâmetros temáticos que permitam aprofundar a análise. A música popular é composta de dois elementos que tem contato direto com o ouvinte: os parâmetros verbo-poéticos e os parâmetros musicais. A partir desse conceito Napolitano aborda apropriação social da música, por parte do ouvinte, a relação entre compositor, intérprete e público ouvinte.

O autor analisa a questão da performance carregando uma gama de valores musicais e as formas com que a canção é veiculada a partir do momento que se compreende que cada forma possui uma característica diferente em relação ao significado social, à determinada classe social, ao momento sócio histórico que o veículo se encontra.

Napolitano analisa também a “articulação entre os paradigmas de criação, as instituições de formação técnica e o gosto musical” com a intenção de atentar para métodos historiográficos que analisam a música sem perceber o contexto concreto que influencia o trabalho do artista.

A análise histórica da canção e a relação das composições artísticas com o conceito de passado, tradição e herança cultural é preciso ser abordada, segundo o autor, de forma diferenciada de uma tradicional “linha-do-tempo”. A história da música popular é formada de ‘esferas’ de estilos, compostas por uma infinidade de carga sócio-cultural e estética, acessíveis para o compositor, que recorre a elas como fonte de novas experiências estéticas. Para o historiador, essas esferas de pensamento musical compõem um labirinto por onde a pesquisa fará emergir as razões sociais na estruturação de cada esfera de pensamento.

 A questão da escuta da música é seguida pelo autor no entendimento da pluralidade dos ouvintes. A massa heterogênea é definida pelo autor por três modos em relação à escuta: o modo aurático, o crítico e o modo cotidiano.

Esses modos destacam a subjetividade do ouvinte, no entanto essa subjetividade deve ser entendida até o limite de uma inserção social do ouvinte para não cair numa infinidade de interpretações. A análise da escuta deve ser vinculada entre a subjetividade do ouvinte e a esfera pública que ele compõe.

CONCLUSÕES:

A metodologia proposta por Napolitano, por pretender abordar em amplo legue de possíveis instâncias que incidem sobre a música, desde a sua criação, produção, gravação divulgação, recepção e reprodutibilização, adquire um caráter conjunturalista, pois o autor não define as estruturas que cercam a canção como construtoras, do tipo causa e efeito, de uma composição. A pesquisa conjuntural, além de admitir várias possibilidades de influencia, remete à idéia de que essas estâncias influentes nem sempre tem o mesmo peso na concepção final das canções.

Dessa forma, concluímos que o autor propõe uma análise ímpar de cada música (ou obra musical, caso o sentido desta esteja vinculado a um disco, a uma ópera ou mesmo à possibilidade de toda uma carreira artística), o que indica também uma especificidade de cada momento histórico e as características daquele músico frente ao momento, e assim, um infinito aprofundamento para cada direção que o pesquisador escolher.

Quando se permite que a música (ou obra musical) adquira seu espaço único na história, o seu poder de enraizamento nos ajuda no tratamento da canção como documento histórico, condensado análise do contexto onde a obra é formada e admitindo as sobreposições que incidem sobre o alcance social que encontramos na análise final da canção.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Música; Metodologia; Napolitano.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006