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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
A LITERATURA DE CORDEL COMO REPRESENTAÇÃO DA CULTURA NORDESTINA: VISÕES DE MUNDO INTERCULTURAIS NA APROXIMAÇÃO DO PRESENTE COM O PRETÉRITO 
Jeane dos Santos 1
Geralda Medeiros Nóbrega 1
(1. Departamento de Letras/ Universidade Estadual da Paraíba/ UEPB)
INTRODUÇÃO:
A literatura de cordel esteve sempre ligada aos romances tradicionais e fatos circunstanciais, nas suas origens. Apesar de enfrentar certa resistência pelas elites burguesas sempre despertou o interesse de pesquisadores, imbuídos de uma visão de mundo popular. Esta pesquisa, que tem como objeto o entendimento do imaginário poético e visões de mundo do poeta de cordel, se detém num acervo de temas tradicionais e temas circunstanciais, distribuídos em temáticas variadas. No entanto, convém lembrar que a literatura de cordel está passando por um processo de adequação a novas perspectivas, uma vez que, atualmente, os folhetos de cordel não são elaborados apenas por poetas pouco escolarizados, mas por qualquer pessoa que domine saberes e vivências que não os ligados ao campo de percepção do mundo popular. O presente trabalho objetiva descrever o imaginário social dos folhetos, relacionando-os com a visão crítica da realidade, examinar os folhetos tradicionais e folhetos da atualidade para averiguar se eles perdem a sua singularidade quando têm como autor pessoas bem escolarizadas. A relevância desta pesquisa consiste em, além de informar, permitir que o cordel se torne uma fonte de subsídios prazerosa, associada a uma vertente de conhecimento que amplie visões de mundo de uma cultura em transformação. Uma pesquisa desta natureza, além de formar o pesquisador, o põe em contato, com variados vieses da cultura, possibilitando enveredar por epistemes antes desconhecidas.
METODOLOGIA:
Este estudo de caráter exploratório se deteve numa pesquisa bibliográfica, o que possibilitou, através de um corpus selecionado, fazer um estudo centrado na visão de mundo dos poetas cordelistas. Para isso, utilizamos um ponto de vista fenomenológico. Os folhetos, bem como os textos teóricos, depois de lidos foram fichados; em seguida, antes de submetermos os folhetos de poetas de bancadas e de poetas eruditos ao método comparativo, analisamos cada folheto, comparando o discurso de cada poeta estudado, com base na sua visão de mundo. A partir disto, após compararmos as diferentes percepções da realidade apresentada pelos folhetos e considerando a época de origem, grau de instrução do autor, entre outras, elaboramos o relatório parcial das atividades.
RESULTADOS:
De acordo com a análise dos folhetos de cordel, antigos e contemporâneos, constatamos que com o transcorrer do tempo houve mudanças dos costumes e dos hábitos da sociedade. Com o avanço tecnológico, que possibilitou, simultaneamente, a conexão entre as mais longínquas regiões da terra, criaram-se novos valores e surgiram novas identidades _ o que Hall denominou “crise de identidades”. No contexto atual, há uma necessidade muito grande de lidar com múltiplas linguagens, e na correria do dia-a-dia o homem tem-se robotizado. Desse modo, as produções cordelistas têm inovado quanto aos temas, não com a mesma velocidade das mudanças sociais. Isso se explica pelo fato da literatura de cordel ser mais popular na região Nordeste, onde as mudanças ocorrem num ritmo mais lento, em função do grande atraso em relação às regiões sul e sudeste. Mas como, além de tradicionais, o folheto de cordel engloba assuntos atuais, é natural o surgimento de novas temáticas. Além disso, poetas de formação erudita começaram a produzir essa modalidade de literatura. Com esta análise, observamos que a visão de mundo de poetas não escolarizados e poetas cultos não são a mesma, uma vez que a visão de mundo erudita diverge da visão de mundo popular, que não está filtrada por epistemologias diversificadas. Tudo isto veio à tona como resultado da pesquisa empreendida.
CONCLUSÕES:

Com a produção de folhetos de cordel por poetas de formação erudita e a comprovação das diferenciações de visões de mundo destes poetas com os poetas populares, propriamente ditos, constatou-se que a literatura de cordel, além de entretenimento, é informação, é denúncia que envolve as classes oprimidas e excluídas _ enfim, é porta-voz do povo independente do poeta que represente a realidade. Sendo assim é necessário que esse bem de origem popular, germinado e regado no seio das classes mais empobrecidas, não seja retirado do meio do povo e nem manipulado pelas elites. É essencial que se tenha conhecimento sobre a literatura de cordel, para que se valorize suas peculiaridades, e que se tenha o cuidado de não elitizar essa modalidade literária, com fácil acesso às pessoas menos privilegiadas, na aquisição dos bens de consumo. A divergência entre visões de mundo e a concepção do desenvolvimento de novas temáticas estão em sintonia com a pós-modernidade e a arte (aqui se inclui a literatura de cordel) não se pode ficar estagnada, sendo, pois, necessário acompanhar as mudanças que se manifestam como um caleidoscópio que aponta para várias direções.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: FOLHETOS DE CORDEL; CULTURA POPULAR ; VISÕES DE MUNDO.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006