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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA DA ESCOLIOSE EM CRIANÇAS DE 7 E 8 ANOS DA CIDADE DE AMPARO/SP
Patrícia Jundi Penha  1
Sílvia Maria Amado João 2
Marina Baldini 3
(1. Mestranda, Depto. de Fisioterapia, Fonoaudilogia e Terapia Ocup./Fac. de Medicina USP/FMUSP; 2. Profa. Dra. Depto. de Fisioterapia, Fonoaudilogia e Terapia Ocup./Fac. de Medicina USP/FMUSP; 3. Graduanda, Depto. de Fisioterapia, Fonoaudilogia e Terapia Ocup./Fac. de Medicina USP/FMUSP)
INTRODUÇÃO:
A escoliose caracteriza-se por um desvio lateral da coluna vertebral, podendo ser encontrada na região cervical, torácica ou lombar. O crescimento tem papel definitivo sobre o aparecimento desse desvio postural, sendo que a incidência é maior durante as fases onde o crescimento é mais acelerado: antes dos 3 anos de idade e durante o estirão da puberdade. Além disso, as crianças, em fase escolar, estão sujeitas a uma série de interferências - como transporte excessivo e incorreto do material escolar e utilização inadequada dos mobiliários escolares - as quais podem propiciar o desenvolvimento da escoliose. Em estudo prévio publicado (Clinics 60(1):9-16, 2005), avaliamos qualitativamente diversos desvios posturais em meninas e encontramos importante incidência de escoliose nesse grupo - 36% aos 7 anos, 45% aos 8, 52% aos 9 e 48% aos 10 anos  (amostra de 132 meninas). No entanto, não há, na literatura, uma descrição quantitativa do padrão escoliótico de crianças saudáveis. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi caracterizar quantitativamente a incidência e amplitude da escoliose em crianças em fase escolar inicial, com o intuito de se formar um banco de dados a respeito desse desvio postural.
METODOLOGIA:
Foram avaliadas 135 crianças - 40 meninas e 28 meninos de 7 anos; e, 39 meninas e 28 meninos de 8 anos – das Escolas Municipais da cidade de Amparo/SP. A amostra constituiu-se de crianças saudáveis com Índice de Massa Corporal (IMC) menor que o percentil 85th e que não praticavam esporte institucionalizado ou exercício físico numa freqüência maior que 2 vezes e/ou 3 horas por semana, além da Educação Física da escola. A análise da escoliose foi feita através de fotografia no plano frontal (vista posterior) dos indivíduos em posição ortostática. Mediu-se o ângulo da escoliose com auxílio das linhas guias traçadas com o software CorelDraw v. 10.0. Para tal medida, traçou-se uma linha horizontal – com o auxílio da linha-guia do simetrógrafo - passando na altura da pelve e uma linha vertical alinhada com a linha-guia do simetrógrafo. Na altura da vértebra mais superior alinhada à linha vertical, foi traçada uma segunda linha horizontal. A intersecção entre elas é o vértice do ângulo formado entre a linha vertical já traçada e uma segunda linha vertical que passa pelas apófises espinhosas marcadas, medindo-se o ângulo escoliótico. Os instrumentos de estatística utilizados para análise dos dados foram: média, desvio padrão, quartil e porcentagem.
RESULTADOS:

O IMC médio foi: 15,81±1,44 kg/m2 para meninas e 14,50±1,15 kg/m2 para meninos de 7 anos, 16,08±1,67 kg/m2 para meninas e 16,42±1,50 kg/m2 para meninos de 8 anos. A média do ângulo da escoliose foi: 3,58º±1,91 para meninas e 3,92º±2,42 para meninos de 7 anos, 3,81º±2,36 para meninas e 3,48º±1,81 para meninos de 8 anos. A freqüência de escoliose alcançou quase a totalidade das crianças: aos 7 anos, 92,5% das meninas e 85,72% dos meninos; e, aos 8 anos, 84,62% e 96,43%, respectivamente, apresentaram algum tipo de escoliose. No entanto, a maioria apresentou escoliose em “C”: 87,5% de escoliose em “C” e 5% em “S” nas meninas e 78,58% em “C” e 7,14% em “S” nos meninos de 7 anos; e, 82,06% em “C” e 2,56% em “S” nas meninas e 92,86% em “C” e 3,57% em “S” nos meninos de 8 anos. Além disso, os ângulos pertencentes ao 2º quartil foram os que mais apareceram na amostra para todos os grupos. Assim, aos 7 anos, 52,63% dos ângulos encontrados variaram de 2,1º a 4º nas meninas; e, 30,77% de 2,26º a 4,5º (2º quartil) e a mesma incidência também para o 3º quartil (de 4,6º a 6,75º) nos meninos; já aos 8 anos, 47,37% dos ângulos variaram de 2,75º a 5,5º nas meninas e 51,85% de 2,26º a 4,5º nos meninos. As incidências de crianças com ângulo de escoliose igual a zero foram pequenas: 7,5% das meninas e 14,28% dos meninos de 7 anos; e 15,38% das meninas e 3,57% dos meninos de 8 anos não apresentaram escoliose.

CONCLUSÕES:
Os grupos estudados mostraram-se semelhantes entre si em relação ao IMC e ao ângulo escoliótico. A baixa freqüência de crianças com ângulo escoliótico igual a zero demonstra que o índice de simetria para escoliose na população infantil é pequeno e que o padrão postural encontrado, além de ser assimétrico, não condiz com o padrão de referência descrito na literatura. Além disso, a grande incidência de escoliose em crianças pode estar relacionada com a influência do ambiente escolar no desenvolvimento postural: transporte incorreto do material escolar – mochilas carregadas em um ombro só; e, uso inadequado do mobiliário escolar – ausência de apoio para pés, sentar-se lateralmente nas cadeiras e inadequação da antropometria em relação às dimensões do conjunto cadeira-mesa. Outros fatores importantes a serem considerados quando se trata de escoliose são a dominância e a prática de esportes assimétricos. No entanto, a angulação encontrada na avaliação fotogramétrica foi pequena (3,58º±1,91 para meninas e 3,92º±2,42 para meninos de 7 anos, 3,81º±2,36 para meninas e 3,48º±1,81 para meninos de 8 anos) quando comparada com aquelas comumente encontradas pelo Método de Cobb (avaliação radiográfica). Futuros estudos precisam ser realizados para se estabelecer uma correlação da angulação encontrada na fotogrametria com a da radiografia. Além disso, também são necessários estudos que correlacionem os aspectos ambientais e físicos com o desenvolvimento da escoliose em crianças.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) - Número do processo: 2005/01850-1
 
Palavras-chave: Escoliose; Crianças; Fisioterapia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006