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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 4. Línguas Indígenas
ESTUDO SOCIOLINGÜÍSTICO DOS CHIQUITANO DO BRASIL - ACORIZAL E FAZENDINHA - MT
Ema Marta Dunck Cintra 1, 2
(1. Seduc - Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso; 2. Univag - Centro Universitário de Várzea Grande - MT)
INTRODUÇÃO:
Será mostrado, neste trabalho, o resultado de um estudo sociolingüístico das comunidades Chiquitano de Acorizal e Fazendinha. A nação Chiquitano é o resultado de uma mestiçagem cultural entre diferentes povos indígenas e a influência da cultura cristã ocidental, processo que se deu nos redutos jesuíticos da principal Chiquitania (Bolívia), nos séculos XVII e XVIII.  A língua Chiquitano foi estabelecida como língua franca e foi utilizada para evangelizar tribos de origens distintas. Localizadas na fronteira entre Brasil e Bolívia, essas comunidades (com cerca de 270 pessoas) são as primeiras em processo de Delimitação e Identificação de Área Indígena Chiquitano.
METODOLOGIA:
O paradigma metodológico utilizado foi o interpretativista (Moita Lopes, 1996). A análise dos dados pautou-se nos seguintes autores: Bahktin (1988, 2000), Eni Orlandi (1990, 1995, 2001a, 2001b e 2001c), Brandão (2002); Moita Lopes (1996, 2001, 2003), além dos  sociolingüistas Hamel (1998), Romaine (2000), Albó (1988), Braggio (1992 em diante), Pimentel (2001a e 2001b).
RESULTADOS:

O contexto histórico de discriminação provocou nos indígenas uma desterritorialização que afetaria não só a sua ocupação de espaço físico como também a ocupação do espaço sociocultural próprio. Fato  visível na  situação sociolingüística das comunidades, qual seja, silenciamento da língua e cultura. Pela análise das entrevistas, a língua Chiquitano nessas comunidades deixou de ser transmitida aos filhos há mais de cinqüenta. Observamos que na faixa etária entre os 12 e 27 e 30 e 47 anos, a totalidade deles não fala e nem entende o Chiquitano.  Menos da metade das algumas pessoas acima de 60 anos (41,2%) sabe essa língua.

Quando questionados se gostariam de que a língua chiquitano fosse ensinada na escola, 100% dos mais idosos foram favoráveis. Já entre os de 30 e 47 anos, 80% gostariam, com a ressalva de se contar com livro, material escrito, professor. Entre os mais jovens a aceitação está sendo progressiva.

Em virtude do silenciamento que sofreram ou se propuseram a fazer para serem aceitos pela sociedade envolvente, ao serem indagados se eram Chiquitano, as respostas permitiram identificar os seguintes agrupamentos: 25% daqueles entre 12 e 27 anos se dizem Chiquitano e 67% deles  falaram que souberam há pouco que eram indígenas -  não sabiam ou não se consideravam índios; já entre os de 30 e 47 anos, uma parcela deles (20%) não sabiam que eram indígenas. Entre os mais idosos, aqueles acima de 60 anos, 88,8% se consideram Chiquitano.
CONCLUSÕES:
Pôde-se perceber que o conflito de identidade lingüística e territorial está bastante presente no povo. As respostas às entrevistas traduzem sentimentos de inferioridade, diante da rejeição ao serem chamados de bugres, índios, bolivianos. O que tem provocado uma atitude negativa em relação à língua, conseqüentemente o há o uso da língua portuguesa em todos os domínios sociais. Isso revela todo o processo conflituoso pelo qual passou essa nação, fazendo silenciar tanto a língua quanto a cultura Chiquitano.
Instituição de fomento: Seduc / MT - Univag - MT
 
Palavras-chave: sociolingüística; língua indígena; formação de professor/pesquisador.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006