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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

IMAGENS SOCIAIS DOS ÍNDIOS

Denise de Souza Silva 1
Guilherme Fernandes Melo dos Santos 2
Martha Emanuela Soares da Silva 3
Rodrigo de Sena e Silva Vieira 4
Matheus Alves Rolemberg Caetano 5
Marcus Eugênio Oliveira Lima 6
(1. Bolsista COPES/Pibic/UFS, curso de Psicologia, UFS; 2. Bolsista COPES/Pibic/UFS, curso de Psicologia, UFS; 3. Bolsista Pibic/CNPq/UFS, curso de Psicologia, UFS; 4. Voluntário de pesquisa, curso de Psicologia, UFS; 5. Voluntário de pesquisa, curso de Psicologia, UFS; 6. Prof. Dr. do Depto de Psicologia, Universidade Federal de Sergipe - UFS (orientador))
INTRODUÇÃO:

Segundo a FUNAI, no Brasil, vivem cerca de 345 mil índios, distribuídos entre 215 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,2% da população brasileira. No Brasil, graças a aspectos da nossa formação social, como a ideologia do branqueamento e o mito da democracia racial, as relações racializadas ocorrem de maneira muito peculiar. No nível das relações interpessoais o preconceito contra os negros geralmente se manifesta de forma sutil. Embora, no nível institucional o preconceito racial pode ser flagrante. No caso dos índios, os padrões de preconceito e discriminação apresentam modos de expressão menos influenciados pela norma anti-racista e, portanto, mais virulentas. Com efeito, os índios são tornados socialmente invisíveis ou assimilados pela cultura dominante. Ao longo da nossa história eles foram demonizados (Schwarcz, 1996) e excluídos dos espaços sociais e políticos (Alvim, 1998). Essa exclusão e invisibilidade se refletem no reduzido interesse científico por esta temática, o que pôde ser constatado ao pesquisar no SCIELO em janeiro de 2006, no qual aparecem 85 artigos, destes cerca de 75,3% se referem a questões de ordem médica ou epidemiológicas e 24,7% a questões culturais e antropológicas. Nesta pesquisa, analisaremos as imagens sociais dos índios, a partir de uma visão geral da situação histórico-social deste grupo no Brasil, com objetivo de verificar até que ponto as imagens históricas se mostram presentes no imaginário popular ainda na atualidade.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada em dez bairros da cidade de Aracaju (Coroa do Meio, Grageru, Jardins, Santa Lucia, Siqueira Campos, Cirurgia, Luzia, São José, Coqueiral, Sol Nascente) distribuídos uniformemente em cinco setores habitacionais (A, B, C, D e E). Os aplicadores foram previamente treinados e durante os dias 05 a 12 de novembro de 2005 se dirigiram às casas das pessoas onde eram feitas as entrevistas. A técnica utilizada foi a de papel e lápis, sendo o aplicador o responsável por fazer a pergunta e anotar a resposta de cada entrevista feita individualmente. Foram inquiridos 161 moradores, sendo 73 (45,6%) do sexo masculino e 87 (54,4%) do sexo feminino, com idade média de 36 anos e a renda variando entre menos de um salário mínimo (4,4%), entre 1 e 3 salários (22,8%), entre 4 e 5 salários (13,3%), entre 6 e 10 salários (20,3%), entre 11 e 20 salários (24,1%) e mais de 20 salários mínimos (15,2%). Utilizou-se um roteiro de entrevista com dez perguntas fechadas e abertas.

RESULTADOS:

Quando perguntamos “Que palavras, sentimentos ou pensamentos vêm primeiro à sua mente quando você ouve a palavra índios?” Verificamos diversas categorias de associações como “Primitivo” (31) referindo-se a primeira ocupação do país, “Sofredor” (21) referindo-se a desamparo, pobreza; “Cultura” (23) categoria que engloba também as palavras dança, ensinamentos e costumes; “Violento” (15) que se refere a selvagens, revoltados, “Igual” ou “normal” (11), “Natureza” (13) que engloba mata e floresta, “Respeito” (11) inteligentes e criativos, “Tribo” (11) associado à oca, aldeia e similares; Comportamento (4) que se refere a viver nus, indolentes. As palavras que dizem respeito a um suposto modo de ser indígena (caçador, pacato, inocente, violento, entre outros) somaram 30,13% das associações e ainda foi citado o desconhecimento em relação aos índios somando 5,2%. Para a pergunta “Quais os espaços (lugares, locais, ambientes, etc., físicos ou sociais) que estão mais relacionados ou próximos do grupo dos índios?” A maior parte das respostas se refere a um lugar isolado como florestas, matas, aldeias (74,9%). As respostas que aproximaram o índio das cidades somam 10%, ainda que associem esta categoria social à periferia e a venda de artigos da agricultura.

CONCLUSÕES:

Objetivo geral desta pesquisa foi estudar as imagens sociais ou representações que os Aracajuanos possuem sobre os índios e os eventuais preconceitos e estereótipos sobre os mesmos. Os resultados demonstram que ainda é forte no imaginário popular a imagem do índio como pessoa isolada com uma cultura distante da ocidentalidade e que por esse motivo não pode fazer parte do povo brasileiro. A maior parte das palavras se refere a um passado cultural ou a uma imagem que se perpetuou durante muitos anos na história do Brasil sobre como os índios são, ou que características físicas, sociais e até mesmo psicológicas deveriam ter, ressaltando a cultura, o “viver na mata”, serem “selvagens”, viverem nus, pescar, serem curandeiros etc, bem como a situação social de desamparo e de pobreza que conduz a um imaginário de sofredores. As associações feitas aos espaços são muito significativas para confirmar o que falam diversos autores sobre a segregação da figura indígena da realidade social brasileira, e como ele ainda é socialmente invisível. Sendo colocados à margem tanto pelo desinteresse e desconhecimento, como pela imagem ainda vigente dessas pessoas. Por tudo isto, observa-se uma tendência à manutenção de uma imagem estereotipada deste grupo. Imagem que se apresenta tanto nos espaços sociais quanto nas referências cientificas ou do senso comum aos Índios, bem como na percepção de traços de personalidade que eles poderiam ter.

Instituição de fomento: COPES/PIBIC/UFS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: índios; imagens sociais; racismo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006