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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
DIAGNÓSTICO DAS REPRESENTAÇÕES E DAS PRÁTICAS SOCIAIS LIGADAS A GESTÃO DA ÁGUA NAS REGIÕES NORTE, SUL, PLANALTO SERRANO E LITORAL DE SANTA CATARINA E REGIÃO DA GRANDE SÃO PAULO
Rafaella Lenoir Improta 1
Scheila Machado da Silveira 1
Guilherme Baldo 1
Fernanda Muller 1
Roberto Moraes Cruz 1
Ariane Kuhnen 1
(1. Laboratório de Psicologia Ambiental/ Departamento de Psicologia/ UFSC)
INTRODUÇÃO:
A percepção que a população tem da natureza da poluição e origem da água que consome, usa e que forma a paisagem, oscila entre uma dimensão muito localizada e reduzida dos problemas e uma dimensão excessivamente generalizada (advinda da percepção mediatizada pelos veículos da imprensa) e por conseqüência, distanciada do cotidiano e insuficiente para mobilizar questões ambientais, já que não lhes concerne diretamente. A pesquisa teve como objetivo investigar os processos subjacentes aos conhecimentos, comportamentos, atitudes e percepções da população relativas ao abastecimento de água tratada. Mais especificamente o estudo da percepção da relação com água enquanto recurso limitado e patrimônio/bem comum, natureza da necessidade de água e as representações que suscitam, as práticas de consumo, a apreciação dos usuários dos sistemas de abastecimento, avaliação da capacidade de sensibilização que atingem as campanhas de informação. Compreender atitudes, comportamentos e percepções da população frente á água fornecida e ao prestador de serviço justifica-se pela possibilidade, necessária, destas fornecerem dados para fundamentar ações tanto de vigilância quanto na definição das políticas e ações dos órgãos competentes. Além de permitir análises do papel de outras variáveis ambientais, como, por exemplo, em relação ao esgotamento sanitário e aos resíduos sólidos e de conhecer a situação de vida caracterizada pelos níveis de degradação ambiental e os modos de gestão pertinentes.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada em 5 cidades do estado de Santa Catarina (Santo Amaro, Rancho Queimado, Santa Rosa de Lima, Joinville e Balneário Camboriú) e 3 cidades da grande São Paulo (São Paulo, Taboão da Serra e Embu). A escolha das cidades partiu dos seguintes critérios: cidades com contextos sociais distintos (rural e urbano), ser abastecida por empresas de abastecimento, participar de comitês de bacias hidrográficas, ter reconhecimento de atuação da sociedade civil e científica com projetos ambientais, e logística viável para os pesquisadores. A amostra se constituiu de moradores das referidas cidades que possuíam suas casas abastecidas por água proveniente de empresas de abastecimento. Como instrumento de coleta de dados foi escolhido um questionário aberto elaborado a partir de 3 eixos temáticos (representação do recurso água, problemáticas de gestão, modos de atenuação dos problemas); desmembrados em 16 categorias e 47 variáveis.  O questionário foi validado por uma aplicação de questionários pilotos e por 2 juízes experts. A partir do ajuizamento alcançou-se um instrumento com 47 questões. Para definição do tamanho da amostra utilizou-se o critério psicométrico de saturação. A meta estabelecida, então, foi aplicar 282 questionários. Optou-se por uma categorização das respostas a partir do campo semântico apresentado. As respostas de cada questão foram agrupadas usando-se o critério de semelhança de conteúdos.
RESULTADOS:
Para a análise dos dados foram escolhidas as categorias que apresentaram alto grau de ocorrência de uma mesma variável nos dois estados (igual ou superior a 60%) e, dentre as 16 categorias, as que apresentam uma expressiva diferença entre as respostas nos dois estados (mais de 20%).  Em termos de representação do recurso água nota-se que 76% dos entrevistados em Santa Catarina percebem a água como um benefício à sua auto-sobrevivência enquanto 65% dos paulistas assim se referem. Sobre problemáticas de gestão destacam-se as possíveis reações quanto a problemas na alimentação da rede. É maior o número de respondentes que não tem problemas com falta de água em SC (25%) comparando com São Paulo (13%). Em Santa Catarina, 51% da população faz referência a algum tipo de mobilização social, já em São Paulo 78% dos respondentes alegam ter esta intenção de comportamento frente ao problema. Semelhantes índices podem ser notados quanto à busca por alternativa quando da falta de água. Entre os modos de atenuação do problema encontrado pela população, 50% dos entrevistados em São Paulo reagem buscando alternativas, enquanto apenas 36% assim procedem em Santa Catarina. Fato notável é que poucos conhecem os comitês de bacias hidrográficas (29% em Santa Catarina e 12% em São Paulo já ouviram falar deles).
CONCLUSÕES:
Atitudes, informações e expectativas dos usuários da água são fundamentais para garantir uma gestão sustentável dos recursos hídricos. Uma forma de envolver os usuários no processo de gestão dos recursos hídricos é entender como percebem e interagem com o ambiente. Nessa pesquisa, percebeu-se a representação do recurso água como algo essencial à vida como predominante na maioria dos entrevistados. Por considerar a água não apenas como recurso, mas como meio de vida, a sociedade apresenta aos gestores seu anseio de ver equacionado o frágil equilíbrio entre as exigências econômicas e a preservação ambiental. A inter-relação de diferentes elementos, pode permitir ao gestor avaliar o peso de suas decisões em função deste tipo de exigência da sociedade. Uma grande parte dos entrevistados possui problemas de abastecimento. Os que possuem esses problemas tem na falta de água um indicador objetivo de insatisfação, apresentando uma intenção maior em articular algum tipo de mobilização social frente ao problema. Co-relaciona-se à percepção do problema, a mobilização e a busca de alternativas para equacioná-lo. A sociedade interpreta o problema como devendo ser enfrentado de forma coletiva, através da mobilização social e, de forma individual, reagindo e buscando alternativas para o abastecimento doméstico. Visto que uma pequena parcela dos entrevistados conhecia os Comitês de Bacias Hidrográficas, pode-se avaliar que a sensibilização das campanhas de informação estão insuficientes.
Instituição de fomento: FUNASA - Fundação Nacional de Saúde
 
Palavras-chave: Água; Políticas Públicas; Psicologia Ambiental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006