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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
MUDANÇAS E TENDÊNCIAS DAS ASSOCIAÇÕES E SINDICATOS DE TRABALHADORES EM BLUMENAU (1920 - 2000)
Vera Herweg Westphal 1
Josué de Souza 2
(1. Dra. Orientadora, Profa. Serviço Social da Universidade Regional de Blumenau; 2. Acadêmico do Curso de Ciências Sociais da Universidade Regional de Blumenau)
INTRODUÇÃO:

Percebendo a relevância do estudo acerca do associativismo civil de Blumenau, o Núcleo de     Estudos, Pesquisas e Extensão em Movimentos Sociais - NEPEMOS- vem realizando uma série de  pesquisas sobre este tema. A presente pesquisa é a sistematização de um estudo qualitativo sobre as mudanças e tendências dos sindicatos e associações de trabalhadores no município de Blumenau no período entre 1920 e 2000. Objetivou-se identificar e analisar as mudanças e tendências dos Sindicatos e Associações de Trabalhadores, relacionando-as com as mudanças institucionais, históricas e conjunturais, tanto da sociedade local como da brasileira. Além disso, pretendeu-se analisar sua dinâmica associativa considerando as categorias de classe, gênero e etnia.

Nesta pesquisa os sindicatos de trabalhadores são definidos como “associações permanentes de trabalhadores (com vínculo empregatício) que atua em todas as áreas que possam ser consideradas de interesse do trabalhador com o intuito de manter ou melhorar suas condições de vida e de trabalho” (Scherer-Warren, 2004, p. 37). Na análise buscou-se embasamento em Antunes (1991 e 1999), Cattani (1996), Leite (1997), Serpa (1999), Alves (2000), Cardoso (2002), Silva (2001). Em Bortoloto (2001) encontraram-se relevantes considerações jurídicas acerca do sindicalismo do Brasil. A compreensão e análise da categoria associativismo civil está ancorada em Scherer-Warren (2004) e de esfera pública em Costa (2002).
METODOLOGIA:

A pesquisa constituiu-se de pesquisa documental e de pesquisa empírica. Inicialmente foi realizada análise documental, a partir do Banco de dados do NEPEMOS, no qual constam as Associações e Sindicatos de Trabalhadores registrados no Cartório de Registro Civil de Blumenau. No período considerado nesta pesquisa (1920-2000) houve o registro de 53 Associações e Sindicatos de Trabalhadores. Realizou-se a análise de jornais locais, teses/monografias relacionadas ao objeto desta pesquisa. Em relação aos jornais locais, analisou-se o jornal “A Cidade” e posteriormente “Jornal de Santa Catarina”. No primeiro analisaram-se os dias de sua publicação (quarta e sábado). Nas notícias foram levantadas as seguintes informações: a) data; b) associação noticiada, com a referência às categorias classe/raça/gênero e c) assunto/conteúdo, coletando as tendências e mudanças do movimento associativo dos trabalhadores.

Realizou-se pesquisa empírica, sendo o instrumento de coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas. Foram aplicados 16 questionários, possibilitando levantar dados acerca da organização interna, da inserção destas associações na esfera pública de Blumenau e os rebatimentos das mudanças do mundo do trabalho na práxis associativa dos trabalhadores de Blumenau.
RESULTADOS:

No período estudado houve um crescimento quantitativo das associações e sindicatos de trabalhadores. O maior crescimento acontece nos anos 1930 (11%), no período Getulista, e nos anos 1980 e 1990 (55%), no período da abertura política e redemocratização do Brasil.Com o deslocamento dos trabalhadores do campo para a cidade e a industrialização crescente, a organização dos trabalhadores desenvolveu-se à partir  das indústrias e passando a ser posteriormente no comércio e serviços.

Na trajetória histórica dos grupos, consta-se a inexpressiva participação de mulheres em cargos diretivos: 275 homens e 74 mulheres, este dado concorda com o índice de gênero dos/as entrevistados/as: 75% são homens.

Os pesquisados afirmam que houve mudanças nas práticas sindicais/associativas nos últimos 20 anos. Enquanto 31,25% dos entrevistados afirmaram que houve um decréscimo na participação dos associados, 37,50% considera a participação aumentou, 50% considera que as lutas centraram-se melhoria de salário e condições de trabalho e 68,75% destacou outras mudanças, entre as quais, o crescimento de prestação de serviços.

Quanto à interação, 81,25% dos entrevistados relatam que articulam-se com outras associações/sindicatos, apesar de 75% não ter vinculo com central sindical. 62,50% não participam em conselhos municipais.Quanto à realização de greves, há que se destacar que 12,5% não declararam sobre este tema, 25% afirmou terem organizado e participado de greves e 62,5% respondeu negativamente.
CONCLUSÕES:

A trajetória organizativa dos grupos pesquisados confirma a mudança associativa do campo para a cidade. Historicamente, a pauta de lutas volta-se para a efetivação de direitos legais colocados, ou seja, se o Getulismo tornou os sindicatos num braço do Estado, as mudanças do mundo do trabalho direcionaram a prática sindical para que direitos  consolidados fossem concretizados.

Se nas duas últimas décadas houve o crescimento quantitativo formal de associações e sindicatos de trabalhadores, o que foi facilitado inclusive por aspectos legais advindos com a Constituição de 1988, o rol de ações destes grupos volta-se para garantir minimamente o que já está posto pela legislação trabalhista. Os grupos tornaram-se mais reativos que pró-ativos, mais condescendentes aos interesses patronais do que reivindicatórios para a ampliação de novos direitos sociais e trabalhistas. Exemplo desta realidade é a diminuição significativa de greves nas duas últimas décadas.

A inserção dos grupos na esfera pública se realiza mais para a defesa dos interesses de seus associados, do que para uma ampliação de direitos sociais e de cidadania de todos os grupos sociais. Os grupos associativos dos trabalhadores são mais de natureza endógena, do que de fato, perpassados pela consciência de solidariedade para com toda a classe trabalhadora.
Instituição de fomento: Pipe/Art.170/FURB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Sindicalismo; Associativismo; Mundo do trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006