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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
DISTORÇÕES ENCONTRADAS NOS OBJETIVOS DE ENSINO  PROPOSTOS POR PROFESSORES DE PSICOLOGIA COMO OBJETIVOS DE ENSINO
Carmen Lucia Arruda de Figueiredo D’Agostini 1
Sílvio Paulo Botomé 2
(1. UNOESC; 2. UFSC)
INTRODUÇÃO:
Os cursos de graduação objetivam desenvolver capacidade de atuação nas diversas circunstâncias da vida profissional, alunos necessitam preparar-se para realizar a atuação necessária ao exercício profissional e à cidadania na sociedade. No entanto, a relação entre curso de graduação e exercício profissional precisa ser constantemente aferida. Nesse sentido, é relevante avaliar se o que caracteriza o exercício profissional aparece nos planos de ensino dos professores de Psicologia. Quais aprendizagens os professores de Psicologia estão propondo nos seus planos de ensino? Para responder a essa pergunta, é pertinente estabelecer relações entre concepções sobre a profissão, sobre o profissional e sobre a formação para capacita-lo. Investigar quais as aprendizagens que os professores de Psicologia estão propondo em seus planos de ensino, pode auxiliar a elucidar essas concepções e aumentar a visibilidade sobre decisões do que precisa ser ensinado para que o psicólogo seja um profissional que capaz de intervir em situações profissionais e sociais complexas. Preparar profissionais para enfrentar essas situações envolve examinar diferentes situações e necessidades sociais, estabelecer o papel social das Instituições de Ensino Superior, a função dos cursos de graduação e, a partir disso, definir o tipo de profissional a ser formado. Como e se essa definição ocorre parece ser um relevante objeto de pesquisa. O Ensino Superior tem a responsabilidade de constituir profissionais capazes de transformar o conhecimento científico em condutas profissionais e pessoais que deverão constituir sua capacidade de atuação. Esta, por sua vez, é definida como aquilo que alunos precisarão estar aptos a fazer. Tendo desenvolvido tais capacidades, o profissional psicólogo poderá decidir sobre o que fazer, como intervir e definir critérios de avaliação das decorrências desse fazer. Isso exige do professor uma capacidade específica de planejar as condições para que tais aprendizagens ocorram. Vale a pena verificar se isso acontece.
METODOLOGIA:
A coleta de dados foi feita por meio do exame dos planos de ensino dos professores de Psicologia de duas universidades comunitárias situadas no meio oeste do estado de Santa Catarina. Foram observadas expressões gerais e específicas, ocorrência de expressões múltiplas, amplas ou vagas, quantidade de objetivos, tipos de verbos usados em cada objetivo, problemas existentes na formulação dos objetivos e a relação entre verbo e complemento em cada unidade de proposição dos professores sobre o que o aluno precisava aprender. Ainda foi observado a respeito de que cada objetivo fazia referência: atividades de ensino, atividades do aluno, do professor, intenções do professor, assuntos ou competências do profissional que precisava ser formado.
RESULTADOS:
Dos 39 objetivos gerais encontrados, 15 (83,34%,) são de natureza múltipla, neles há  71 unidades de objetivos encobertas e misturadas como se fossem unidades; das 71 unidades há 14 (19,72%) com expressões amplas e vagas; 25 (35,21%) aparecem como intenções do professor; oito (11,27%) como ações do professor; 11 (15,49%) como atividades do aluno e 13 (18,31%) como atividades de ensino. Dos 112  objetivos específicos três são múltiplos e, desses, há sete unidades de objetivos, 26 (23,20%) são amplos e vagos; 27 (24,55%) são intenções do professor e atividades do aluno;16 (14,29%) são atividades de ensino.
CONCLUSÕES:

Mesmo quando as proposições apresentadas iniciam por um verbo, elas referem-se a uma multiplicidade de distorções do conceito de objetivo de ensino. Há objetivos propostos como unitários e permitem possibilidades diversas de entendimento pela variedade de objetivos específicos que contém em uma única expressão. Ou são tão vagos que não permitem a percepção de quais aprendizagens o aluno deve desenvolver em decorrência do ensino. Há também, proposições sob a forma de “atividades de ensino”, indicando o aluno como agente ativo da aprendizagem, porém, na maioria das vezes aparecem de forma confusa, revelando mais “atividades-meio” (o que é feito nas situações escolares) do que “atividades-fim” (aquilo que caracteriza a aprendizagem relevante para o exercício profissional. Outras proposições de objetivos aparecem indicando “atividades do professor” e são pouco esclarecedores porque não indicam o que o aluno deve aprender, mas, o que o professor faz em sala de aula. Às vezes as informações são apresentadas como “conteúdos” (o que já revela um sério problema a respeito do papel do conhecimento na aprendizagem) que auxiliam aluno a ser capaz de fazer algo a partir deles, mas não explicitam o que ele deve ser capaz de fazer em relação a tais categorias de informações. Se, para ensinar, é necessário descrever objetivos que especifiquem o que o aluno deverá ser capaz de fazer a partir do ensino, os dados mostram que a formulação dos objetivos nos planos de ensino dos professores não atendem a esse pré-requisito mínimo para atender ao conceito de objetivo de ensino. Menos ainda eles atendem às exigências sociais ou as recomendações para o ensino  superior (por exemplo, o que é recomendado pela Conferencia Mundial sobre ensino superior) e pouco esclarecem as aprendizagens que estão sendo propostas para a  formação de psicólogos.

 
Palavras-chave: Objetivos e Planejamento de Ensino; Formação Profissional; Análise do comportamento profissional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006