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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 4. Planejamento Urbano e Regional
TURISMO, CULTURA E INTERDISCIPLINARIDADE NO PLANEJAMENTO URBANO EM SALVADOR (BA)
Marília Flores Seixas de Oliveira 1, 2
Orlando J. R. de Oliveira 1, 2
Roberto Bartholo 2, 3
Joaquim F. Seixas de Oliveira 4
(1. Depto,de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH-UESB; 2. Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenv.Sustentável - CDS-UnB; 3. Laboratório de Tecnologia e Desenv.Social - LTDS-UFRJ; 4. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU-UFBA)
INTRODUÇÃO:
De forma geral, a atividade turística está atrelada ao desejo de contemplação estética do homem, voltando-se tanto para o patrimônio cultural (compreendido como construto humano produzido em determinada circunstância social e simbólica e dentro de uma comunidade interpretativa específica) quanto para o patrimônio ambiental (ligado ao sentimento de busca de contato com a natureza). O turismo é hoje uma das maiores atividades econômicas do mundo e, de acordo com o World Travel and Tourism Council, gera aproximadamente o equivalente a 6% do Produto Nacional Bruto mundial. O ecoturismo atualmente é considerado como um campo em processo de desenvolvimento, que deve ser pensado de forma interdisciplinar e analisado também sob o ângulo do planejamento urbano e regional, pois envolve a gestão do ambiente e do espaço territorial onde se localizam não apenas as áreas protegidas mas as paisagens e comunidades objetos de visitação. Muitas destas paisagens e áreas protegidas se encontram localizadas próximas ou mesmo inseridas em contextos urbanos, reforçando a necessidade da incorporação de âmbitos culturais, sociológicos e interdisciplinares na formulação de políticas de planejamento urbano e regional. Esta pesquisa discute tais elementos no contexto turístico da cidade do Salvador (Bahia), analisando a importância da cultura local na construção dos lugares turísticos ligados à natureza, a partir da análise do Parque Metropolitano do Abaeté e de sua visitação turística.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada por professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia que desenvolvem estudos de pós-graduação nas áreas de Cultura Brasileira e Desenvolvimento Sustentável no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, com a participação local de um estudante de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Inicialmente foi feita ampla revisão bibliográfica sobre os temas afins (planejamento urbano e regional, turismo, pertencimento cultural, história social, meio ambiente e desenvolvimento sustentável), em paralelo a pesquisa de campo no sítio urbano de Salvador para definição de um lugar turístico como objeto de análise. Foram visitados os Parques de São Bartolomeu, Pituaçu, Abaeté e da Cidade, todos localizados no perímetro urbano e objetos de legislação de proteção específica, sendo escolhido o Parque do Abaeté, compreendido como patrimônio natural e cultural, testemunho da dinâmica social da população local e portador de atributos simbólicos expressivos. Na análise de elementos interdisciplinares que envolvem natureza, cultura, planejamento urbano / regional e turismo sobre o Parque do Abaeté, utilizou-se, além de dados municipais e fontes bibliográficas, a iconografia histórica do lugar, incluindo fotografias, cartões postais, pinturas e desenhos (de Pierre Verger, Pancetti, Carybé etc.) e a produção lítero-musical, como as canções de Dorival Caymmi.
RESULTADOS:
Marcada historicamente pela diferença e etnicidade, a cidade de Salvador, até 1950, conservou a tradicional coesão espacial colonial: era a Bahia do "enigma baiano" (Pinto de Aguiar), das estórias de pescadores, amores mestiços e deuses africanos (Jorge Amado), da etnografia visual de Verger e das canções de Caymmi. A partir de 1950, a Bahia começa a mudar, entrando na era do capitalismo moderno, via processo modernizador de redefinição espacial da economia brasileira que alterou padrões de produção e consumo do Nordeste, sob patrocínio estatal. O projeto de atualização histórica, entre 1950 e 1960, resulta dos processos de industrialização, de planejamento urbano e de modernização cultural. Salvador se define, então, como um espaço urbano extraindustrial, cujo fator fundamental da vida econômica centra-se na economia do lazer, organizada em 3 vertentes: a economia do turismo, a economia do simbólico e a economia do lúdico, conforme esquema de Antonio Risério. A infra-estrutura para fixação de Salvador como pólo turístico nacional iniciou-se em 1970, atraindo fluxos crescentes de turistas para seus produtos: natureza exuberante, história, culinária típica, cultura popular exótica e muitas festas. Tal processo, se trouxe crescimento econômico e desenvolvimento regional, também desconfigurou ambientes e reduziu culturas a produtos turísticos: a transformação do lugar em turístico, comandada pela lógica do mercado, gera estereótipos e forja identidades turísticas dos lugares.
CONCLUSÕES:
Uma abordagem preliminar do turismo envolve: o planejamento urbano e regional; a reflexão crítica sobre o caráter massificador/massificante dos produtos turísticos, a exploração predatória de recursos naturais e humanos e a mercantilização da cultura e da natureza; bem como a compreensão das inter-relações dos aspectos econômico, social e ambiental da atividade, requerendo abordagens interdisciplinares. O Parque do Abaeté, atualmente enquadrado como Parque Metropolitano (225 ha de área envolvendo as dunas e a Lagoa do Abaeté), é uma paisagem turística constituída por um conjunto de elementos naturais (geomorfologia, vegetação, hidrografia) e artificiais (arquitetura, urbanismo e sistema viário, implantados pela política pública de turismo), além de locus de fenômenos socioculturais singulares, agrupados numa forma característica, definindo um lugar de interação de vários fatores de transformação que são coletivamente percebidos e representados como memória e imaginário. No momento histórico em que a cidade de Salvador, fazendo interagir processos locais e nacionais com o contexto internacional, se insere no circuito do turismo nacional como uma destinação cuja natureza turística do lugar assume uma configuração singular, a Lagoa do Abaeté, constituiu-se como um lugar turístico privilegiado no sítio urbano de Salvador, acumulando, entretanto, uma descaracterização local, realidade socialmente complexa de tradições inventadas e de artefatos culturais com interesses diversos.
 
Palavras-chave: Turismo; Cultura; Planejamento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006