IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
FESTAS RELIGIOSAS NA GRANDE CÁCERES: SIGNIFICADOS DA FESTA NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COLETIVA NOS DIFERENTES GRUPOS SOCIAIS
Beleni Saléte Grando 1
Denildo da Silva Costa 2
(1. Profa. Dra. Orientadora / COEDUC/UNEMAT; 2. Bolsista Aluno VI Semestre de Pedagogia / COEDUC/UNEMAT)
INTRODUÇÃO:
Cáceres-MT, é um município com 227 anos e historicamente marcado por conflitos territoriais. Primeiro com as disputas entre as colônias Portuguesa e Espanhola, hoje nas disputas entre fazendeiros paulistas e chiquitanos, pelo território de fronteira com a Bolívia.  A Igreja Católica imperou politicamente no Brasil por mais de 5 séculos; o culto aos santos europeus ao se aproximar da religiosidade nativa mistura-se às simbologias indígena e africana. (SIQUEIRA, 2002). A festa é uma ação coletiva que representa uma das mais antigas manifestações que o homem realiza na humanidade. Ela marca a passagem do tempo simbolicamente, é realizada por vários povos em todas as partes do mundo, geralmente marcadas pelas estações do ano, o calendário, a sociedade e as religiões. (ITANI, 2003). Em Cáceres, podemos afirmar que a cultura do colonizador impõe-se ao povo nativo, mas é nele que a fé adquire a força da religiosidade transformada para se compor como estratégia de mediação e de constituição de uma identidade coletiva reconhecida nesse espaço de “fronteiras” (BARTH, 1969).  Visando compreender como se estabelecem os significados das festas no processo de constituição das identidades coletivas, a pesquisa busca identificar, analisar e registrar as festas, dando ênfase aos processos que marcam as maneiras de realizar o ritual. 
METODOLOGIA:
Como pesquisa participante de cunho etnográfico, iniciamos com as leituras e a realização de uma festa no campus da UNEMAT, em 8 de dezembro, com a participação de aproximadamente 50 cururueiros e rezadeiras de várias comunidades urbanas e uma rural. A partir desta elaboramos um diagnóstico para as visitas para entrevistar as autoridades locais: cururueiros, rezadeiras, festeiros/as, promesseiros/as. Registramos 86 festas com imagem e som todo o ritual, aliando os estudos sobre a história de Mato Grosso e do processo de colonização desta região de fronteira geográfica com a República Boliviana. Os conceitos de cultura, festa e identidade, tendo como interlocutores autores como Geertz (1989) Novais (1993), Tassinari (2003) e Grando (2004), nos seminários do grupo de pesquisa. Foram coletados dados com o registro das festas em loco e as confirmadas em entrevistas com festeiros em 30 comunidades (uma na zona rural). Após a elaboração de um calendário anual, registramos 86 festas; os meses mais festivos em Cáceres são janeiro e junho. Participamos da maioria das 27 festas realizadas em janeiro e em junho registramos 17 festas descritas por festeiros.
RESULTADOS:
Das festas registradas, 64% mantêm o ritual tradicional cacerenses: a reza do santo do dia, a ladainha em latim popular; o Cururu, dança realizada pelos cururueiros que em duplas, tocando a viola de cocho e o ganzá com cantos em louvor ao santo homenageado, orienta as diferentes fases da festa, em que entram em cena seus personagens: rei, rainha, juiz, juíza, embaixador e outros, na procissão para o levante do mastro, o beijo à bandeira, a coroação, etc., e geralmente, a dança de São Gonçalo onde todos participam numa coreografia de louvor. 50% destes rituais resultam em baile, abrindo a festa para danças e músicas regionais atuais, como o Rasqueado mato-grossense, a dança não religiosa tradicional, que estava presente em 21% das festas pesquisadas. Do total, 19% não realizam o tradicional, mas têm a reza, e dessas a maioria termina com o baile.
CONCLUSÕES:
Podemos concluir que a dança expressa uma identidade coletiva comum na maioria das festas, e a diversidade étnica e cultural, faz parte do contexto das festas religiosas na Grande Cáceres expressa nos elementos do ecletismo religioso presente no catolicismo popular. As identidades partilhadas fortalecem o próprio grupo que participa da festa e contribui para que as autoridades constituídas sejam reconhecidas no grupo e fora dele. Estas, reconstroem na fé, a história da família e comunidade, educando os mais jovens em seus valores, formas de pensar, interagir e fazer.
Instituição de fomento: UNEMAT / CNPq (PIBIC)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cultura Popular; Identidade; Festa Religiosa.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006