G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia |
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RELIGIÃO E SAÚDE POPULAR EM FLORIANÓPOLIS: BENZEDEIRAS, "FEITICEIROS" E AS ESTRUTURAS DO PODER |
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(1. NÚCLEO MOVER - CENTRO DE EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA/UFSC) |
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INTRODUÇÃO: |
Na antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, as práticas alternativas de saúde estão na raiz das práticas religiosas afro-brasileiras. Estudos iniciais indicam a destas com a ação terapêutica, tanto no sentido físico-corporal quanto psico-social. Este aspecto prático ressalta imediatamente quando examina-se as raízes históricas de seu surgimento. Somente mais tarde será possível entender sua relevância espiritual e sua lógica religiosa e filosófica.
Entretanto, curandeiros, benzedeiras e todos aqueles envolvidos com alternativas populares de saúde além de perseguidos fisicamente, foram alcunhados, pela Medicina Oficial e demais setores de elite à época, indiscriminadamente como "charlatães" e rejeitados ora como "feiticeiros", ora como praticantes de "curandeirismo indígena" e "falsa medicina". Em contraposição, como redenção para os males da ignorância e ingenuidade populares proclamou-se a "verdadeira medicina", praticada na Academia, hegemônica, calcada no cientificismo racionalista ocidental, formadora das concepções da elite médica. Nos debates acadêmicos sobre o tema que ocorreram em todo o Brasil nas primeiras décadas do século XX, posições antagônicas resultavam em tratamentos diferenciados a respeito da questão. Em Santa Catarina, e especificamente em Florianópolis, o tema da contribuição cultural dos negros em várias áreas do conhecimento dividirá opiniões e incentivará pesquisadores. |
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METODOLOGIA: |
Investigação realizada junto a quarenta e seis lideranças e vinte e três casas de culto das religiões afro-brasileiras Umbanda, Almas e Angola e Candomblé; entrevistas abertas e pesquisa documental; registro audiovisual e observação participante em rituais e cerimônias religiosas. |
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RESULTADOS: |
Observou-se que, desde a época da antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, as práticas alternativas de saúde estão na raiz das práticas religiosas afro-brasileiras locais. A cura procurada e exercida pelos pobres que não podiam arcar com os custos da medicina alopata, será o principal motor pelo qual, surgem, afirmam-se e crescem as práticas religiosas que, mais tarde, irão se afigurar com sua feição abertamente afro-brasileira institucionalizando-se como centros de Umbanda, Almas e Angola e Candomblé. Estas tem, em seus primórdios, as benzedeiras, em geral mulheres das classes baixas e média-baixas da população, que possuíam grande prestígio pelo poder a elas atribuído, de cura espiritual e física com o auxílio de rezas e ervas, numa clara mistura de terapêutica corporal e espiritual. |
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CONCLUSÕES: |
As religiões afro-brasileiras na Grande Florianópolis originaram-se principalmente nas práticas alternativas de saúde de benzedores, curandeiros e "feiticeiros" dos finais do século XIX até a década de 40 do século XX. Estas representaram, para as classes populares da época, um das poucas alternativas de organização social e de busca de saúde física e espiritual. Suas práticas foram combatidas pela Medicina oficial hegemônica e pela chamada "higienização modernizadora" levada a cabo nas primeiras décadas do século XX em Florianópolis, ambas portadoras de uma concepção excludente, que marginalizou negros e pobres, os mentores culturais das religiões afro-brasileiras. Este quadro resultou na acirrada estigmatização destas, que viram-se na contingência de permanecer no anonimato, impedidas de dar visibilidade a suas ações, restringindo-se praticamente ao espaço privado das residências dos próprios praticantes ou consulentes para, somente décadas mais tarde, ocupar espaços públicos. |
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Palavras-chave: religião afro-brasileira ; saúde popular; Grande Florianópolis. |
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Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |
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