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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
A linguagem falada em Camapuã e no Pantanal do Nabileque
Juliana Cristina Fresqui 1
Dercir Pedro de Oliveira 1
(1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa está centrada na heterogeneidade lingüística, isto é, parte do pressuposto de que as línguas são heterogêneas, variam constantemente, condicionadas por fatores de ordem interna como de ordem externa. Este trabalho tem por objetivo descrever a modalidade falada no Estado de Mato Grosso do Sul, nas localidades de Camapuã e Pantanal do Nabileque, com base nos estudos Semântico-Lexical do questionário proposto pelo ALMS (Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul), que são: fenômenos atmosféricos, flora, fauna, homem e doenças mais comuns, lendas, mitos, aparições e causas. É importante ressaltar o resgate da identidade cultural do Estado, pois ele possui configurações históricas, geográficas e etnoculturais propícias ao convívio de variantes lingüísticas típicas de uma colonização vinda das mais diferentes regiões do país.

METODOLOGIA:

Em se tratando da metodologia, informamos que os estudos com base no aspecto semântico-lexical do questionário do ALMS (Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul), tem por base entrevistas com quatro informantes de cada localidade, sendo a seleção com base nas variáveis: naturalidade, grau de instrução, sexo e idade, com as faixas etárias de 18 a 30 anos e de 45 a 70 anos com a condição de terem nascidos e resididos na localidade desde os 08 anos de idade. O informante deve ser analfabeto ou ter estudado até a quarta série do ensino fundamental. Após o levantamento das unidades lexicais apontadas pelos informantes, com base no programa computacional SPDGL (Sistema de Processamento de Dados Geolinguísticos), elaboramos estudos de acordo com a etimologia e conceito do dicionário, em relação a lendas, mitos, aparições e causas, os estudos serão organizados de acordo com a realização no contexto da resposta do informante.

RESULTADOS:

Por meio da seleção de 16 variantes lexicais dos subitens fenômenos atmosféricos, flora, fauna, homem e doenças mais comuns, obtivemos resultados embasados na colonização e no contexto histórico do Estado de Mato Grosso do Sul. Por exemplo, de acordo com o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete, a lexia cuiudu ou colhudo: adj. e s.m. (chul.) que tem colhões (grandes). Bras. Sul – cavalo inteiro; garanhão, pastor. C.f. Roque Callage. Vocabulario Gaúcho, p.45. No item 148 do questionário do ALMS a resposta na qual se esperava do informante era ranho, no entanto, a resposta obtida foi catarru. Ao consultarmos o Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, 1968 constatamos que catarru: s.m. secreção da mucosa nasal e brônquios. Gr. Catarrous de catarrêo, escorrer. Lat. Catarrhus. Derivs.: catarroso, lat. Catarrhosus; catarral, catarreira. Já na lexia subacu, o Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, 1968, nos informa que subacu ou sovaco: s.m. axila, parte inferior do braço na junção com o ombro. Origem desconhecida. Var. sobaco.

CONCLUSÕES:

Pudemos constatar a influência da convivência com o elemento nativo, o índio, do negro e de migrantes, não pode ser desprezada, uma vez que,  não deixou de exercer um papel de certo modo relevante para o perfil sociocultural do Estado. Assim sendo, por meio das análises lexicais, foram encontradas variantes de origem guarani: bagual, variantes diretas do Latim: pestana, (do tema do verbo pistare) e variantes de origem africana: banguela, bem como variações de origem desconhecida, popular e onomatopaica como: beiçu, cangote e gogô. Há também, lexias originárias de migrações como espada de São Jorge ou língua de sogra, muito utilizado na Bahia. Com esses dados verificamos que a linguagem sul-mato-grossense esta em constante evolução e possui dados concretos de uma colonização ampla, sendo assim as variantes encontradas evidenciam a identidade regional e sociocultural peculiar dos usuários de uma mesma língua seja por influências lingüísticas ou extralingüísticas vindas de migrantes ou imigrantes. 

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologico
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: lexico; variação; dialeto.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006