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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
FLORA E FITOSSOCIOLOGIA DO ESTRATO HERBÁCEO DE UMA RESTINGA NO NORDESTE DO BRASIL
Murielle Andreo Olivo 1
Carmen Silvia Zickel 2
Eduardo Bezerra de Almeida Jr. 1
(1. Departamento de Biologia - UFRPE; 2. Departamento de Biologia - UFRPE / Dra. Orientadora / zickelbr@yahoo.com)
INTRODUÇÃO:
As restingas compreendem uma estreita faixa de vegetação que recobrem cerca de 79% da costa brasileira e tem como principais características a presença de depósitos sedimentares da Formação Barreiras, falésias e arenitos de praia e extensas áreas com dunas de grande porte. É marcante a presença do estrato herbáceo nas restingas que chama atenção por sua variedade de espécies e poucos estudos destinados a este estrato principalmente em restinga, contudo um estudo pioneiro dá início à valorização do componente herbáceo para florestas neotropicais. Em Pemambuco há poucas áreas remanescentes de restingas, sendo os estudos expressivos de coletas e boas identificações realizadas pelo grupo de Botânica da UFRPE que executaram uma compilação de dados das restingas do Nordeste, mostrando o estágio atual, constituindo assim um suporte teórico para entender a biodiversidade e fornecer informações para o manejo do ecossistema. A estrutura de herbácea é um componente importante dentro das fisionomias da restinga, e não existem trabalhos nesta linha de pesquisa. Apesar de se constatar que muitas espécies podem ter um importante papel para o desenvolvimento sustentável regional devido ao seu valor forrageiro, medicinal e apícola. O estudo tem como objetivo realizar a florística e a estrutura do estrato herbáceo ocorrente em uma restinga no estado de Pernambuco, obtendo assim informações para caracterizar as fisionomias da restinga e contribuir para o manejo da área.
METODOLOGIA:
A área de estudo situa-se na RPPN da Nossa Senhora do Outeiro de Maracaípe -Ipojuca -PE, com cerca de 70 ha de restinga, sob as coordenadas 08°31'48"S e 35°01'05" W. Os diferentes tipos fisionômicos ocorrentes nesta restingas foram denominados como CAMPO: Com o predomínio de plantas herbáceas e FLORESTA: predomínio de árvores, com três estratos diferenciados. O estudo do estrato herbáceo foi realizado no período de 2003 a 2005 para a coleta florística e análise estrutural. As coletas florísticas foram realizadas nas duas fisionomias, coletando apenas material fértil. Para o estudo fitossociológico, realizado nas fisionomias de campo e floresta, foi realizado o método de amostragem de parcelas, sendo designado como estrato herbáceo às plantas que apresentassem acima de 15cm até 1m de altura. Para cada fisionomia foram plotados cinco transectos paralelos de 100m (distante 10m entre eles); onde foram demarcadas 10 parcelas, em cada transecto, de 1 x 1m distribuídas altemadamente a linha do transecto. Todos os indivíduos amostrados na parcela foram coletados e medidos altura e diâmetro. Foram analisados os parâmetros fitossociológicos, o índice de diversidade de Shannon e o índice de equabilidade de Pielou para as famílias e espécies, utilizando o pacote FITOPAC. O material herborizado foi depositado no Herbário IPA.
RESULTADOS:
Para a flora foram listadas 65 espécies, 49 gêneros distribuídas em 28 famílias. Dentre as espécies encontradas destacaram-se Hippeastrum aullicum, Hohenbergia aff. ramageana, Chamaecrista repens, Costus spiralis, Eleoclaris genicola, Pycreus polystachyos, Fuirena umbellata, Fimbristylis spatacea, Rynchospora barbata, Bulbostylis capillaries, Clidemia hirta, Paspalum maritimum, Panicum pilosum, Setaria vulpiseta e Pappophorum mucronulatum como primeira citação para as restingas do Nordeste. Para o estudo fitossocilógico foram encontradas 46 espécies, distribuídas em 20 famílias. As espécies que apresentaram maior IVI foram Paspalum maritimum (13,44%), Stigmaphyllon paralias (11,66%), Cuphea flava (10,73%), Eleoclaris genicula (8,67%), Anthurium affine (7,25%), Rynchospora barbata (6,55%) e Stylosanthes viscosa (5,32%). As espécies mais representativas quanto à densidade relativas foram: Paspalum maritimum (20,98%), Stigmaphyllon paralias (22,38%) e Rhynchosphora barbata (10,25%). Quanto a freqüência Paspalum maritimum (11,27%), Stigmaphyllon paralias (10,78%), Stylosanthes viscosa (8,33%) e Borreria verticillata (6,86%) foram mais representativas. A flora herbácea apresentou diâmetro médio 0,67cm e altura média 38,3cm. A diversidade de Shannon para espécie foi de 2,59 nats/ind. e a equabilidade de 0.679. O maior número de indivíduos foram encontrados nas famílias Poaceae, Cyperaceae e Malpighiaceae.
CONCLUSÕES:
Os dados obtidos mostraram que o estrato herbáceo possui uma grande riqueza, ligado principalmente as Lilliopsida, que tem características de pioneiras e necessitam de alta luminosidade. Levando assim a uma predominância de indivíduos no campo. Quanto às formas de uso, algumas espécies destacaram-se pelo potencial ornamental, alimentício e medicinal. A distribuição das espécies nas fisionomias da restinga mostrou uma freqüência maior de indivíduos jovens das espécies lenhosas na floresta, já as herbáceas não lignificadas nessa fisionomia, teve como representante a espécie Anthurium affine, que é comum no sub-bosque da restinga e floresta atlântica. Entre as moitas, são comuns herbáceas eretas como Stemodia foliosa, Stygmaphyllum paralias e Staelia galioides e herbáceas cespitosas, como Rhynchospora riparia, Cyperus flavus, Eriocaulon palustris e Paepalanthus bifidus. A vegetação estudada apresentou a predominância de poucas espécies nas fisionomias. Este resultado pode estar ligado a anterior interferência antrópica ou devido aos fatores abióticos (luminosidade, nutrientes), influenciado assim, na distribuição das espécies. Como não existem estudos fitossociológicos do estrato herbáceo para as restingas do Nordeste fica difícil ter um comparativo de parâmetros da estrutura. Desta maneira, mostra-se necessário mais estudos de estrutura deste estrato para que se tenha um panorama geral sobre o arranjo estrutural do estrato herbáceo nas restingas.
Instituição de fomento: CNPq - PIBIC / FACEPE
 
Palavras-chave: fitossociologia; restinga; herbácea.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006