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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 5. Enfermagem Pediátrica
PRÁTICAS POPULARES NOS CUIDADOS À SAÚDE DA CRIANÇA
Marcus Antônio de Souza  1
Maria Alves Barbosa 1
Karina Machado Siqueira 1
Cleusa Alves Martins 1
Márcia Borges de Melo 1
Raul Soares Silveira Júnior  1
(1. Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás / FEn-UFG)
INTRODUÇÃO:

O avanço técnico-científico obtido nos serviços de saúde se deu concomitantemente à desumanização na assistência e tem aumentado, de forma significativa e preocupante, a distância entre profissional e paciente.  

O atual sistema de saúde adota o modelo cartesiano no pensar e agir. Este modelo introduziu a gradativa reorientação nos princípios e práticas que caracterizam a medicina tradicional ocidental. O que se verifica, porém, é que, na busca de recuperação da saúde e restabelecer o equilíbrio biopsíquico, o indivíduo utiliza recursos naturais e práticas existentes em seu meio social para o alívio e cura de seus males.

Os chás caseiros são oferecidos às crianças desde os primeiros meses de vida, com a intenção de resolver ou amenizar situações de desconforto ou doença. No entanto, a Organização Pan-americana de Saúde recomenda que as crianças recebam como alimento exclusivo, o leite materno até os seis meses de vida, mas esta não é uma prática freqüente.  Outro fator preocupante no que diz respeito aos cuidados com a saúde infantil é o tétano neonatal. Pesquisas demonstram que o uso de substâncias não recomendadas por profissionais de saúde, com o intuito de mumificar o coto umbilical, pode ocasionar sérios problemas aos recém-nascidos.

Os objetivos deste estudo foram analisar a percepção da população quanto à credibilidade nas práticas populares utilizadas nos cuidados das crianças e identificar os principais recursos populares adotados na solução de problemas de saúde infantis.

METODOLOGIA:

Trata-se de estudo de natureza descritivo-analítica com abordagem qualitativa, desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), situada no município de Firminópolis - GO. Este município é um campo de prática no qual atuam acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia da Universidade Federal de Goiás. 

Foram abordados aleatoriamente e conforme disponibilidade, vinte pais e/ou responsáveis de crianças de 0 a 1 ano de idade, atendidas por acadêmicos de Enfermagem no período de julho a novembro de 2004. A amostra foi definida durante a coleta de dados, adotando o critério de saturação dos dados.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas, norteadas por um roteiro semi-estruturado e gravadas com aquiescência dos sujeitos. As questões se referiam à credibilidade e utilização de práticas populares, assim como, sua inter-relação com o tratamento instituído pelo profissional de saúde.

Quanto aos aspectos éticos, o projeto referente à pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, além disso, todos os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os dados foram analisados segundo a técnica de “Análise de Conteúdo”, modalidade temática, permitindo a identificação das unidades de significado e os temas, que compuseram os discursos dos depoentes
RESULTADOS:

Recursos populares e suas repercussões na saúde infantil. Todas as pessoas entrevistadas referiram utilizar algum tipo de recurso popular no intuito de resolver ou amenizar problemas de saúde de seus filhos ou outras crianças próximas. O ser humano busca, fora do serviço de saúde, outras soluções fornecidas por seu meio e que estejam a seu alcance para a resolução de seus problemas. Foi destacado o uso de chás caseiros desde os primeiros dias de vida da criança e de alguns recursos nos cuidados com o coto umbilical do recém-nascido.

Práticas Populares e Medicina Alopática: o convívio entre saberes distintos. Alguns participantes do estudo demonstram a questão da hegemonia do saber médico, referindo que esse profissional tem o conhecimento necessário para decidir o melhor tratamento para seu problema de saúde. Algumas pessoas dizem confiar mais nos recursos populares do que nos remédios prescritos pelos médicos. 

Todas os sujeitos que referem preferência por práticas populares na resolução de seus problemas de saúde relatam, como motivos para tal opção o menor custo, a frustração com o tratamento médico, devido ao insucesso do mesmo, ou pela sensação de alívio que o recurso popular proporciona. Alguns sujeitos demonstraram preocupação quanto à possibilidade de o uso de práticas populares trazerem malefícios para a criança. A maioria afirma confiar tanto nos recursos populares quanto na terapia alopática recomendada pelos profissionais de saúde.

CONCLUSÕES:

As práticas populares continuam a fazer parte do cotidiano de mães ao cuidarem de suas crianças. A permanência desse comportamento ocorre porque existe uma experiência empírica vinculada a esse tipo de recurso popular, que está pautada na vivência, na experimentação e na avaliação do sucesso ou insucesso de sua adoção diante de problemas de saúde. Existe também uma intensa troca de informações, especialmente por parte daquelas pessoas com mais experiência, com autoridade moral diante de determinada comunidade, sobre quais remédios caseiros tomar, simpatias que podem ajudar ou até mesmo curar as enfermidades.

Entre a população estudada, existem pessoas que acreditam e utilizam recursos populares nos cuidados infantis, enquanto outros os utilizam concomitantemente à alopatia. Há ainda aqueles que só utilizam os recursos da alopatia.

Desse modo, torna-se necessário que profissionais, ao lidarem com questões relativas aos cuidados primários em saúde, se conscientizem de que o compartilhamento da doença, por parte do doente com os familiares, amigos, vizinhos e conhecidos, significa mais do que a simples troca de informações. Acredita-se que quanto maior o conhecimento de profissionais acerca de recursos populares adotados em práticas de saúde, maiores serão suas possibilidades de atuar conscientemente, prestando uma assistência condizente com a realidade em que vivem seus clientes.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cuidados infantis ; medicina tradicional; recursos populares.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006