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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

INDISCIPLINA ESCOLAR: CONCEPÇÕES DOS ALUNOS

Leila Maria do Amaral Campos Almeida 1
Adriana Lopes Garbim 1
(1. Curso de Psicologia; Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho é parte de um projeto que estuda interações inapropriadas entre professores e alunos. Mais especificamente, o comportamento de indisciplina do aluno, de contestação à autoridade cientifica do professor, de agressão verbal e física, incompatíveis com a aprendizagem. Dados produzidos com professores sugeriram ampliar a análise, envolvendo alunos. A referência teórica do estudo é a da Análise Experimental do Comportamento, que compreende o comportamento como multideterminado probabilisticamente; como a relação entre o que o organismo faz e o ambiente em que o faz. Estudar uma interação social caracterizada como indisciplina, supõe considerar como variáveis determinantes também as concepções e juízos dos componentes dessa relação, professores e alunos. Como a compreensão do professor foi tema de projeto já concluído, foi objetivo deste trabalho analisar e descrever o modo como os alunos julgam situações hipotéticas de indisciplina na sala de aula e quais procedimentos de intervenção consideram mais adequados ao seu enfrentamento. Os resultados obtidos junto aos alunos, e no estudo que envolveu os professores, serão devolvidos às escolas participantes em oficinas de trabalho sobre o fenômeno da indisciplina para contribuir com mudanças que minimizem os efeitos deletérios das relações interpessoais hostis e se construam novas relações, de respeito, entre os atores da escola, favorecedoras da interação saudável, necessária à aprendizagem acadêmica e social.

METODOLOGIA:

Sujeitos: 80 alunos de três escolas públicas de 4ª, 6ª e 8ªséries do Ensino Fundamental e 1ª e 2ª séries do Ensino Médio. Os dados foram coletados na escola. Materiais: protocolo para registro de dados pessoais e das respostas; folha com a descrição de seis situações hipotéticas de indisciplina (adaptadas de Caldeira e Rego, 2001) representando as funções que desempenham para o aluno: esquiva, obstrução e contestação. O aluno deu as respostas por escrito. Analisou, uma à uma, as seis situações de indisciplina classificando-as quanto a gravidade numa escala de 1 a 4: (1) nada grave; (2) pouco grave; (3) grave; (4) muito grave. Depois identificou que fatores mais contribuíram para cada uma das situações, considerando as variáveis de influência: personalidade do aluno; características da classe; o modo como o professor conduz a aula; as normas e os valores vigentes na escola e as características da família. Aqui também o aluno seriou as variáveis referidas atribuindo 1 à situação de menor influência e 5 à situação mais influente. Por último, identificou a maneira apropriada para resolver as situações apresentadas – considerando as variáveis anteriores recebeu cinco possibilidades de intervenção: a intervenção focalizada no aluno, na classe, na modificação do comportamento do professor, na alteração das regras da escola e das características da família, hierarquizando o grau de influência de cada uma.

RESULTADOS:

A análise dos dados verificou que os sujeitos consideram mais graves: a situação de esquiva em que o aluno atrapalha a aula mostrando para os colegas objetos que traz de casa (situação 2); situação de obstrução, em que dois alunos se agridem fisicamente (situação 5); e ambas as situações de contestação (situações 3 e 6), as quais envolvem conteúdos de agressão verbal e ameaça de agressão física- em uma o aluno desafia o professor a fazer ele mesmo as tarefas de casa, se as considera tão importantes, e, em outra, ameaça o professor com uma cadeira ao tentar separar alunos que se agridem. A situação 1, em que o aluno monopoliza a atenção do professor, atrapalhando o andamento da aula, e a situação 4, em que o aluno fica no "mundo da lua", sem produzir, foram consideradas irrelevantes. Quanto aos fatores de maior influência aos comportamentos de indisciplina, pode-se verificar que os alunos localizam fortemente na personalidade do aluno e nas características da família a causa dos comportamentos indisciplinados. As variáveis referentes às características da escola e modo como o professor conduz a aula foram pouco mencionadas como fatores de influência relevante. Desta forma, sustentam que as intervenções que se façam necessárias, deveriam iniciar pelo aluno, focalizando desta maneira, a intervenção sobre a sua personalidade. A modificação do comportamento do professor e a alteração das regras da escola foram pouco mencionadas como variáveis a sofrer intervenções.

CONCLUSÕES:

Os dados indicam que os alunos esmaecem a responsabilidade do professor e da escola na produção e enfrentamento de situações de indisciplina, assumindo-as para si. Trata-se do mesmo discurso dos professores, evidentemente aprendido pelos alunos. O enfrentamento da indisciplina é tarefa do professor, pois é quem possui as condições de planejar condições adequadas ao ambiente de ensino, por estar diretamente em contato com o aluno. Ele pode planejar contingências para suprimir comportamentos de indisciplina já instalados e reforçar comportamentos adequados, possibilitando a construção de comportamentos mais saudáveis nos alunos. A escola pode - através da construção de um sistema de regras claras e contingentes - amparar as decisões dos professores no enfrentamento dessas situações. Desta forma, torna-se imperativo que as escolas reavaliem seu sistema de normas e regras e que o professor resgate o seu papel de autoridade no cotidiano escolar. Ressalta-se que é preciso que a escola não adote esquemas considerados como aversivos para todos os alunos – como pedir para que o aluno saia das aulas, ou suspensões - que podem, inclusive, funcionar como esquema reforçador fortalecendo o comportamento inadequado por ele emitido. A escola deve ensinar novos repertórios ao aluno para impedir o aparecimento de comportamento não apropriado, sem se fixar no erro, e sim na apresentação de possibilidades de novos comportamentos sociais saudáveis e no reforçamento daqueles que já são emitidos.

Instituição de fomento: Fundo de Apoio à Pesquisa - UNIMEP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: comportamento de indisciplina; indisciplina escolar; concepção do aluno sobre indisciplina.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006