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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 10. Teoria Econômica

O MODELO DE CUSTOS IRRECUPERÁVEIS ENDÓGENOS DE SUTTON REVISITADO

Luiz Augusto Finger França Maluf 1
(1. Professor Substituto do Departamento de Economia/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Neste trabalho são apresentados os resultados e implicações da dedução do modelo de custos irrecuperáveis endógenos de Sutton (1992), realizada como parte dos trabalhos de dissertação de mestrado de Maluf (2002). A hipótese subjacente às equações-solução do modelo de Sutton é a de que em estruturas de oligopólio diferenciado que observem um dado nível mínimo de importância econômica, aumentos exógenos no tamanho do mercado devem levar a estruturas industriais mais concentradas. Na dedução do modelo de Sutton, demonstrou-se em Maluf (2002), haver um erro na construção da função de lucro para a firma não desviante, no que se refere à hipótese implícita de relação entre preços praticados pelas firmas desviantes e não-desviantes, o que poderia implicar em mudanças nas trajetórias das equações-solução do modelo. Em Maluf (2002) não foram realizados procedimentos de correção, por terem sido considerados além dos objetivos daquele trabalho. Considerando-se que testes empíricos foram realizados (Ollinger e Cornejo, 1998), confirmando as trajetórias das equações-solução do modelo, aumentaram os incentivos para a sua reconstrução e análise das diferenças encontradas.

METODOLOGIA:

O presente trabalho foi realizado no âmbito do departamento de Ciências Econômicas da UFSC, em que o autor tem desempenhado atividades de professor substituto em disciplinas como Teoria Econômica e Econometria. Para a dedução, reconstrução e análise do modelo de custos irrecuperáveis endógenos de Sutton (1982) foram considerados os fundamentos de teoria econômica, especialmente em teoria microeconômica e teoria dos jogos (Varian, 1994; Chiang, 1982). Utilizou-se também o pacote matemático Maple â , que aumentou sensivelmente a agilidade dos procedimentos de dedução e reconstrução do modelo.

Para a identificação e análise das inconsistências encontradas no modelo proposto por Sutton (1992), o modelo foi deduzido em sete etapas consecutivas: 1) Função utilidade com hipótese de bens substitutos perfeitos; 2) Relação entre qualidade percebida (u) e preços (p) das firmas desviantes (FD) e não desviantes (FND); 3) Quantidade que maximiza o lucro (q*) de FND; 4) Preço que maximiza o lucro (p*) de FND; 5) p* de FD ; 6) q* de FD; 7) Lucro de equilíbrio (LU*); 8) Nível de gastos fixos com diferenciação (Fu) pelo total de firmas incumbentes (N) como resposta à entrada de novas firmas (Ne), dados aumentos exógenos no tamanho do mercado (S); 9) A seqüência de relações causais formada pelo conjunto de equações-solução: i) dNe/dS>0, ii) dFu/dNe>0 e iii) dNe/Fu<0, correspondente à hipótese mais geral do modelo, ao explicar o grau de concentração na indústria.

RESULTADOS:

Procedida a reconstrução do modelo de Sutton, foram apresentadas aqui as diferenças mais sensíveis encontradas entre o modelo original e o reconstruído: 1) A quantidade que maximiza o lucro (q*) das firmas não-desviantes (ND) como uma função da qualidade percebida (u) do produto (q) das firmas desviantes (D) observa quase concavidade estrita com inclinação positiva inicial e um ponto de inflexão, ao invés de convexidade estrita com inclinação sempre negativa; 2) O preço que maximiza o lucro (p*) de ND como função de u de D mantém inclinação sempre negativa e quase concavidade estrita, observando um deslocamento de intercepto para cima; 3) p* de D como função de u de seu produto mantém inclinação sempre positiva mas observa quase convexidade estrita ao invés de quase concavidade estrita; 4) Para um número de firmas incumbentes (N) pequeno, q* de D como uma função de u de seu produto observa inclinação sempre negativa e quase convexidade estrita ao invés de estrita concavidade, enquanto que para N significativos observa inclinação sempre positiva e concavidade estrita, ao invés de inclinação negativa; 5) No conjunto das equações-solução, a inclinação positiva da curva estritamente convexa de gastos fixos com diferenciação por parte das incumbentes como resposta à entrada de novas firmas (dFu/dNe) é ainda mais acentuada do que essa curva no modelo original, o que aumenta a intensidade da relação negativa dNe/dFu.

CONCLUSÕES:

As funções-reação encontradas para o preço e a quantidade das firmas não desviantes sugerem que essas firmas, ao observarem a prática de diferenciação pela firma desviante, reduzem seu preço e aumentam a sua quantidade, de modo a manter seu nível de lucro. Em Sutton, essa função é caracterizada pela redução do preço e da quantidade, o que viola o pressuposto implícito de racionalidade dos agentes, considerando que tal ação não permite a manutenção do nível de lucro anterior à diferenciação.

A função-reação encontrada para quantidade das firmas desviantes, depende do número de firmas incumbentes. Para um número de incumbentes pouco significativo, essas firmas reduzem sua quantidade e aumentam seu preço de forma crescente após a diferenciação. Se o número de incumbentes for significativo, essas firmas aumentam sua quantidade e seu preço, também de forma crescente após a diferenciação. Em Sutton, as firmas desviantes reduzem sua quantidade e aumentam seu preço de forma decrescente após a diferenciação, para qualquer número de incumbentes. Essas diferenças resultam em um deslocamento do intercepto para baixo da curva de gastos com diferenciação das firmas desviantes, e maior intensidade de resposta via diferenciação à entrada de novas firmas, em função de aumentos no tamanho do mercado. Consequentemente, o modelo reconstruído sugere que aumentos no tamanho do mercado tenham impactos ainda maiores sobre o grau de concentração industrial, do que os sugeridos pelo modelo inicial.

Instituição de fomento: Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Economia
 
Palavras-chave: Teoria dos Jogos; Diferenciação; Grau de Concentração.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006