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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
ASPECTOS ETNOECOLÓGICOS DA TARTAGUGA-DA-AMAZÔNIA Podocnemis expansa (SCHWEIGGER, 1812) (REPTILIA, CHELONIA, PELOMEDUSIDAE) NA REGIÃO DO MÉDIO XINGU, PARÁ
Solange Henchen Trevisan 1
(1. Professora da Universidade Federal do Pará/UFPA - Campus de Altamira.)
INTRODUÇÃO:
As comunidades ribeirinhas da Amazônia, tradicionalmente alimentam-se da carne e ovos de quelônios, tendo como hábito o consumo e a comercialização de tartarugas, que assume na cultura desse povo uma importante fonte alimentar e econômica. Historicamente a captura/consumo de tartarugas avivou-se desde o período de colonização do Brasil, onde os portugueses coletavam os ovos para obtenção de óleo, que eram utilizados na iluminação ou na culinária. As fêmeas eram coletadas e armazenadas em grandes currais para servirem de alimento na época da cheia dos rios enquanto a pesca tornava-se difícil. Com a construção da BR 230 (Rodovia Transamazônica), e a conseqüente ocupação e utilização dos recursos naturais sem um planejamento adequado, intensificou a captura indiscriminada e o comércio ilegal da fauna e flora local. Desse modo, tanto a etnoecologia, como a educação ambiental tem o papel fundamental - o desafio de consolidar a ponte entre os conhecimentos convencional e tradicional, ao mesmo tempo em que deve contribuir para conciliar as prioridades, aparentemente antagônicas, de conservar e subsistir. Pois o envolvimento sustentável quer um desenvolvimento com eficiência econômica, prudência ecológica e justiça social. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo identificar a relação dos ribeirinhos do Médio Xingu com a Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa).
METODOLOGIA:
O estudo está fundamentado numa abordagem qualitativa, tendo como suporte o estudo de caso, que é um método de investigação social. Realizou-se observações diretas nas áreas, com participação em eventos para proporcionar maior aproximação e estabelecer uma relação de confiança com as pessoas a serem entrevistas. A pesquisa abrange os municípios de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, onde apresentam um número expressivo de pessoas intimamente relacionadas ao consumo/comércio de tartaruga na região, pois a pesca é a maior atividade econômica desses municípios, sendo também habitat natural de vários quelônios e local de nidificação da Podocnemis expansa. Foram entrevistados de forma aleatória 35% das famílias que moram na comunidade de Vila Nova, banhada pelo rio Tamanduá, afluente da margem direita do rio Xingu, e 100% dos moradores das ilhas do rio Xingu nos municípios de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu.
RESULTADOS:
Por ser a pesca o meio de sobrevivência dessa população, eles estão intimamente ligados ao rio, habitat natural das tartarugas, logo o contato direto com esses quelônios é inevitável. Entre os entrevistados, 25% concordam que o rio Xingu tem um grande número de tartaruga, 25% responderam que existe em quantidade razoável e 50% consideraram pouca a quantidade de tartaruga que habita o rio. Desses, 20% afirmaram não capturar tartarugas e 80% afirmaram seu consumo, entre os que consomem 14% relatam capturar tartarugas apenas para o consumo e 86 %, além do uso na alimentação também costumam vende-la. Entre os que afirmam a venda eventual, somente 14% disseram fornecer diretamente a um atravessador. A banha tem importância medicinal entre todos os ribeirinhos. Entre os instrumentos de pesca, os mais utilizadas na captura de tartarugas são: anzol, zagaia, espinhel, malhadeira, sendo que o tapuá e o cacurí são instrumentos construídos para captura, também é muito utilizado a captura no mergulho. A P. expansa fêmea é popularmente conhecida por tartaruga, o macho é capitari e as pequenas são chamadas de cunhã, os entrevistados consideram as pequenas mais saborosas. Há unanimidade em considerar benéfica a atuação do IBAMA na preservação durante o período de nidificação.
CONCLUSÕES:
A P. expansa é um recurso da fauna silvestre de fundamental importância medicinal, econômica e alimentar na cultura da população ribeirinha do médio Xingu. Destacam-se três categorias básicas entre as pessoas que capturam P. expansa, são elas: a) os que eventualmente capturam para complementar a alimentação e não praticam a venda; b) os que capturam para complementar a alimentação e esporadicamente efetua a venda em sua residência ou arredores, mediante encomenda; c) o que sobrevive do tráfico da tartaruga, vendendo a um atravessador, que acaba por exercer um papel de “patrão” sobre essa pessoa, que não respeita os períodos de nidificação, capturando P. expansa ao longo de todo o ano. O presente estudo aponta a necessidade da conservação do complexo habitat e espécie, uma vez que a atuação do IBAMA na fiscalização da Tartaruaga-da-Amazônia na região favoreceu razoavelmente nos últimos anos a manutenção da espécie, muito embora a fiscalização ocorra somente na época da reprodução e preferencialmente nos locais de nidificação, pois a falta de recursos humanos e equipamentos impedem uma maior atuação dos técnicos na estratégia de conservação da espécie. Desse modo, ações em Educação Ambiental devem se constituir como ferramenta de fundamental importância para manutenção do equilíbrio ambiental, promovendo condições que viabilizem políticas públicas voltadas a uma vida ecologicamente sustentável e socialmente mais justa para os ribeirinhos da região estudada.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Pará / UFPA
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Etnoecologia; Podocnemis expansa; Xingu.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006