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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social

TRABALHADORES MIGRANTES NO SUL DE MATO GROSSO NAS DÉCADAS DE 1960-1970

Nataniél Dal Moro 1
(1. Programa de Estudos Pós-Graduados em História / PUC/SP)
INTRODUÇÃO:

A história do sul de Mato Grosso, território que depois de 11 de outubro de 1977 tornou-se Estado de Mato Grosso do Sul, apresenta o elemento migração populacional de trabalhadores como uma constante, sobretudo a partir das décadas de 1930 e de 1940. No entanto, foi no decorrer das décadas de 1960 e de 1970 que a migração populacional de trabalhadores foi mais significativa, tanto no aspecto numérico como no percentual. Isso se deu porque nesse período de 20 anos houve um aumento considerável de pessoas no sul de Mato Grosso e a concomitante intensificação percentual de habitantes no espaço territorial em questão. A década de 1960 teve ao todo, por exemplo, um crescimento percentual de habitantes de quase 90% em relação à década anterior. Já na década de 1970 houve um crescimento percentual de mais de 70% em relação à década de 1960. Ora essa migração foi empreendida por meio do poder federal, ora do estadual, ora dos municipais, mas também se deu via poder privado, em particular através das chamadas companhias de migração e de terras, além do próprio movimento aleatório de pessoas rumo a outros espaços. Exemplos concretos disso do ponto de vista numérico estão na chegada de aproximadamente 500 mil migrantes, em especial em idade produtiva e, particularmente, do sexo masculino, ao sul de Mato Grosso. Tendo em vista essa constatação objetivei compreender como ocorreu a migração de trabalhadores para o sul de Mato grosso, sobretudo quantitativa e percentualmente.

METODOLOGIA:
Para tanto utilizei a metodologia quanti-qualitativa, que consistiu no levantamento de dados censitários publicados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (FIBGE) e na leitura de textos, em particular das publicações do Governo Estadual de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul e dos textos provenientes de jornais da época em estudo, com destaque para os materiais publicados no Jornal Correio do Estado.
RESULTADOS:
A quantidade de migrantes mais expressiva no sul de Mato Grosso era, em 1980, a dos paulistas: 172.257 pessoas, seguida dos paranaenses: 91.999. A terceira maior quantidade era a de mineiros: 46.407, a quarta a dos baianos: 31.122 e a quinta a dos pernambucanos: 26.597. Os migrantes, na maioria das vezes, não eram sujeitos abastados o suficiente para recuperarem-se de deslizes de ordem econômica. A grande parte deles tinha apenas suas – poucas – economias, ou seja, possuíam dinheiro contado. Era preciso calcular, por isso, muito bem a ação que materializariam, ou poderiam estar fadados à condição de mendigos. Alguns trabalhadores procuravam conhecer, por meio de excursões, já que não havia linha de ônibus, aos Estados de Goiás e de Mato Grosso, a situação das terras que objetivavam comprar. Esta era uma forma de precaução que contribuiu para que fossem estabelecidas, na década de 1970, linhas diárias, devido tamanha necessidade de deslocamento de pessoas, seja no sentido Região Sul-Região Centro-Oeste, ou vice-versa. Mas havia também os migrantes que nem isso podiam fazer, já que suas economias não davam para custear uma viagem desse porte. A solução era, em muitos dos casos, a de simplesmente andar ou ir pedindo carona na direção que rumava para o Oeste, quer dizer, sobretudo para Campo Grande, tal como faziam os nordestinos que não estavam satisfeitos com a realidade do Estado de São Paulo.
CONCLUSÕES:
O principal atrativo estava na busca de uma realidade melhor do que a situação anterior destes sujeitos, particularmente do aspecto econômico. Para alcançarem esta realidade melhor, aproximadamente 500 mil pessoas migraram para o sul de Mato Grosso, principalmente com o intuito de trabalhar em atividades rurais, agricultura e/ou pecuária, ou indiretamente ligadas a estas, pois a maioria dos migrantes era força de trabalho qualificada apenas nestes setores, e não na indústria ou no comércio. Em decorrência dessa migração populacional de trabalhadores houve um acréscimo da mão-de-obra rural e urbana que possibilitou, em parte, um “crescimento significativo da economia”, sobretudo nas culturas agrícolas. No entanto, esse “crescimento significativo da economia”, além de não ter proporcionado o acesso, a permanência e o crescimento econômico dos segmentos menos abastados a terra, também não diversificou/transformou a estrutura produtiva do ponto de vista sócio-econômico, pois em 1976 o setor primário, nesse caso representado pela pecuária (gado bovino) e pela agricultura (lavoura), produzia mais de 90% do valor bruto desse setor, tendo em vista que a mecanização rural causou problemas estruturais, sendo o da relação trabalho-capital um dos mais substanciais.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
 
Palavras-chave: História; História do Brasil; História Social.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006