A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um segmento da população representado por um universo grande de cidadãos sem acesso e permanência escolar e não tem tido a devida atenção, especialmente  no preparo e formação dos professores que atuam com esses alunos, para que possam desenvolver a capacidade de selecionar conteúdos, utilizar procedimentos e criar alternativas que possibilitem uma atuação voltada de forma mais adequada ao aluno trabalhador.

 Os dados aqui apresentados, ainda que constituam uma pequena amostra dos problemas a serem enfrentados nesse campo de atuação (e de pesquisa) permite constatar, de um lado, a ausência de especificidade na formação dos educadores de EJA, que vem sendo identificada como um dos principais problemas dessa área e de outro lado permite  problematizar o processo de formação do educador de jovens e adultos.

No entanto, à interferência de fatores como condições de trabalho, orientação qualificada, disponibilidade e adequação de recursos (espaço, tempo, materiais didáticos), acredito que os professores podem ser considerados os principais agentes na viabilização das mudanças pretendidas nessa modalidade de ensino. Assim, a formação, inicial ou continuada, desses profissionais constitui tema  relevante a demandar novos estudos e pesquisas.

A coleta de dados foi realizada no período de 2004 a 2005, por meio de procedimentos metodológicos que incluíram: a) realização de entrevistas (com auxílio de roteiro construído e testado com essa finalidade) com 01 profissional da Secretaria Municipal de Educação responsável pela coordenação dos Cursos, 02 professoras formadoras em exercício nos Cursos e 12 das 60 professoras de EJA que participaram dos cursos; e b) realização de análise documental envolvendo a legislação atual norteadora da Educação de Jovens e Adultos no Brasil e documentação especifica produzida para e pelas formadoras e professoras participantes dos cursos alvos deste estudo.

Este pôster tem como objetivo caracterizar a visão que as  professoras participantes dos Cursos de Formação Continuada de Educação de Jovens e Adultos, expressam sobre as dificuldades que enfrentam e vivenciam com seus alunos em situação de sala de aula.

 A análise dos dados (coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas com os professores) permitiu a composição de um quadro da visão desses professores, fornecendo indícios da construção das relações de identidade de professores e alunos de EJA. Assim, os resultados obtidos com a análise dos depoimentos dos professores entrevistados permitiram a organização dos dados a seguir:

As dificuldades docentes em relação ao trabalho com esses jovens e adultos, decorrem também do próprio despreparo que as professoras reconhecem, em sua formação, para o trabalho específico a ser realizado com alunos dessa faixa etária, cujas características desconhecem e com os quais não foram formadas para trabalhar. 

Os itens apresentados a seguir, reúnem e detalham os depoimentos das professoras e o conjunto de informações que expressam sobre as dificuldades de seu trabalho na Educação de Jovens e Adultos. Vejamos:

Referências à precariedade das condições de funcionamento do Curso e ao descaso da     política  municipal  e da própria escola que cede o espaço físico para o Curso:

“Os problemas que temos são de estrutura, o aluno não consegue chegar até certo horário... às vezes eles trabalham até tarde...  o portão da escola fecha e ele não pode mais (Prof. 8 ).

 Há muitas restrições quanto à utilização de materiais alternativos (o principal obstáculo é a falta de recursos financeiros) e principalmente quanto ao uso do  espaço físico da escola pelos alunos do EJA... (Prof. 6)

 Referências à importância da aprendizagem da leitura e da escrita para melhoria das condições de     vida dos alunos:   

 “As empresas estão  exigindo que eles tenham uma escolaridade para continuar a trabalhar”  (Prof. 14).

 “A maioria vem do Norte e Nordeste... assim que chegam aqui procuram a escola para acabar de aprender a ler   e escrever sem isso eles, não vão encontrar emprego decente “(Prof. 11).

Do conjunto de reflexões aqui realizadas é possível pôr em destaque algumas idéias.  A primeira refere-se à proposição de que a Educação de Jovens e Adultos, entre outras coisas, requer que o professor tenha uma visão ampla, direcionada a desenvolver a integração e o conhecimento a partir da diversidade cultural e da heterogeneidade dos adultos com os quais atua. Trata-se de uma compreensão mútua, isto é, que também pode e deve ser desenvolvida pelos alunos, contra a exclusão ou preconceito, respeitando o conhecimento que cada indivíduo traz consigo adquirido ao longo da vida.

Entender melhor o processo de construção do campo da formação continuada de alfabetizadores de EJA é outra idéia a ser posta em destaque. Trata-se de conceber esse campo como um espaço de atuação docente do formador de professores de EJA, bem como um campo específico de pesquisa. Isso pode se constituir num passo, pequeno, mas necessário, para a busca de construção de ações coerentes com as especificidades do processo de educação de jovens e adultos, bem como da formação de seus profissionais e de seus principais beneficiários: os alunos.

Finalmente, é possível pôr em destaque também a idéia de que o desenvolvimento profissional do professor de EJA e seus saberes são construídos num processo contínuo, que tem início antes de sua formação inicial e que avança durante o desenvolvimento de suas atividades, tratando-se, portanto, de uma formação considerada permanente.