IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

ANÁLISE DAS INFLUÊNCIAS DE UMA COMUNIDADE AMPLIADA DE PESQUISA NA LUTA DOS PROFESSORES PELA PROMOÇÃO DE SÁUDE NAS ESCOLAS DA REDE DE ENSINO PÚBLICO DA REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA-ES

Fernando Pinheiro Schubert 1
Cyrus Augusto Marcondes Ferrari 1
Maria Elizabeth Barros de Barros 1
(1. DPSI, Psicologia, UFES)
INTRODUÇÃO:

Entre o período de julho de 2004 e julho de 2005, a equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Subjetividade e Política (NEPESP) implantou o Programa de Formação em Saúde e Trabalho (PFST) com o objetivo de discutir as condições de saúde dos professores da rede de ensino público da região da Grande Vitória- ES. Trata-se de um dispositivo de formação e pesquisa-intervenção em rede, que articula um programa de formação, pautado na ação, com um programa de pesquisas, buscando contribuir para que os trabalhadores possam “aguçar” o olhar (ATHAYDE, 1996) e a escuta para o que faz adoecer, o que faz sofrer nas escolas, assim como encontrar estratégias para sair dessas situações e construir locais de trabalho favoráveis à saúde e a afirmação da vida. Para isso, procuramos estabelecer um espaço de diálogo e confrontação entre os pólos dos conceitos das disciplinas científicas e o da experiência prática dos professores, formando o que denominamos Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP). Após um ano de término do primeiro Curso de Formação, fez-se necessário investigar, com esses professores, tudo aquilo em que a CAP foi eficaz (e no que ela não foi), para que os próximos cursos possam ampliar e potencializar os movimentos de resistência já em curso no cotidiano escolar. Assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar que transformações ocorreram na forma como os professores estão inseridos nas lutas por promoção de saúde na escola onde estão lotados.

METODOLOGIA:

O PFST foi realizado com 30 professores da rede de ensino público – municipal e estadual – da região da Grande Vitória-ES. Após um ano de término do curso, realizamos um Grupo Focal com 5 participantes e entrevistamos outros 6 professores, procurando focar, nas perguntas, as transformações percebidas por eles e por seus colegas nos seus modos de serem educadores. Tudo foi gravado em fitas K-7, transcrito e analisado. A entrevista, semi-estruturada, continha as seguintes perguntas: 1) Após a participação na CAP, você identifica alguma transformação na sua forma de lidar com o trabalho docente? 2) Você percebe alguma transformação na sua forma de estar inserido na escola? Houve uma mudança no seu olhar sobre esse cotidiano de trabalho? Houve uma mudança de sua postura na escola? 3) Seus colegas fizeram algum tipo de comentário sobre a sua forma de ser ou estar na escola? 4) Houve tentativas de implementação de algum projeto na sua escola? Você conseguiu realizá-lo? 5) Você percebeu algum contágio nos seus colegas de trabalho? 6) Você percebeu/sentiu alguma transformação na escola? 7) Qual a contribuição da CAP na sua forma de lidar com o trabalho? 8) Quais os entraves e maiores dificuldades encontradas durante o Curso de Formação, quando nos reuníamos para discutir os temas saúde, trabalho, gestão, CAP e gênero? 9) Você teria alguma sugestão/proposta para melhorar o Curso? Seja em relação ao tempo (dos horários e da duração), ao espaço, à forma (metodologia), aos temas, etc...

RESULTADOS:

Os resultados encontrados sinalizam que a experiência na CAP permitiu uma sensível transformação na forma dos professores estarem inseridos na escola: “Hoje eu estou muito mais atenta! Quando falta alguém eu já fico preocupada, quando eu vejo alguém com um jeitinho diferente, mancando ou com o rosto transformado... Quer dizer, pra mim foi muito legal isso porque me trouxe muito mais sensibilidade pra lidar com esse dia a dia dentro da escola, que às vezes a gente acha que a pessoa ta mal-humorada, mas ela ta mesmo é adoecida!”. Outras falas apontaram para uma mudança de olhar e de postura sobre a saúde, o próprio cotidiano de trabalho e os relacionamentos entre os educadores produzidos e advindos daí: “O contato com a CAP me fez observar a escola, não só olhar a escola! Me fez observar o que está errado nas condições de trabalho, naquelas condições que promovem o adoecimento... E me fez conseguir intervir nisso! Porque hoje eu olho, vejo que ta errado e vou lá buscar uma forma de melhorar aquela condição que ta colocada!”. Dentre outros, o que nos apareceu de mais relevante foi a afirmação do saber docente para longe do medo e submissão as hierarquias, assim como a incorporação do conhecimento formal da academia. Foi possível notar no discurso dos professores como os conceitos discutidos na CAP permitiram a afirmação de uma postura de enfrentamento, questionamentos e reivindicações, que contribuem para a invenção de outras formas de trabalho nas escolas.

CONCLUSÕES:

Os dados colhidos sinalizam para movimentos de transformação na forma como os professores estão inseridos nas lutas por promoção de saúde na escola onde estão lotados. Diversas falas apontam para uma mudança de postura frente às adversidades do meio e para uma intolerância com tudo aquilo que fere a autonomia do trabalhador. Lutas que apareceram, porém, mais freqüentemente de forma reativa a situações de precarização e desqualificação do trabalho docente. Há insurgências esporádicas e tentativas de mobilização coletiva, porém, tais tentativas esbarram nas condições atuais do trabalho que parecem engolir e sugar os movimentos instituintes para si, o que pode dificultar uma análise e ação coletiva. Entretanto, mesmo em tempos de um narcisismo doentio e de um individualismo exacerbado, os professores não desistiram de lutar pela promoção da saúde e inserir esta temática na sua escola: “Agora, toda conversa que tem, eu aproveito pra fazer esse debate: Por que nós estamos adoecendo? Até onde nós somos co-participantes dessa situação? Por que nós permitimos que aquilo que nos adoece continue nos adoecendo?”. Os professores, portanto, parecem estar agindo como multiplicadores no próprio local de trabalho, criando estratégias para isso, seja através de enfrentamentos ou sensibilização dos diretores para a questão da situação da escola e a produção de saúde/doença, seja dando início à construção de uma rede de discussão com os colegas, abrindo-se um debate sobre as relações saúde/trabalho.

Instituição de fomento: CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Saúde; Formação; CAP.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006