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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 4. Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo

TRAMAS DE BAMBU E TERRA CRUA : BAIXO IMPACTO NA PRODUÇÃO DE  ELEMENTOS DE VEDAÇÃO

Leonardo Menezes Xavier  1
José Luiz Mendes Ripper  2
Fernando Betim Paes Leme  3
Giulliano Balsini da Fonseca  4
Patrick Stoffel  4
Bianca Segredo da Fonseca  5
(1. Doutorando em Design – Departamento de Artes e Design / PUC – Rio; 2. Orientador – Departamento de Artes e Design / PUC – Rio; 3. Professor – Departamento de Arquitetura / PUC – Rio; 4. Graduandos em Design – Departamento de Artes e Design / PUC – Rio ; 5. Graduanda em Geografia – Departamento de Geografia / PUC – Rio )
INTRODUÇÃO:

A sociedade pós-industrial, em seu esforço por agir economicamente, potencializa o processo de degradação ambiental, na medida em que a natureza não se submete ao lucro. SCHUMACHER (1976) propõe uma abordagem budista da economia, de forma a tentar humanizá-la, considerando outras categorias que não as econômica e anti-econômica. Dentro desse contexto, coloca a questão das tecnologias intermédias como as que produzem menor impacto ambiental (em relação aos grandes emprendimentos agro-industriais), fomentando ainda a utilização de mão-de-obra local, numa perspectiva de sustentabilidade sócio-ambiental.

Entre as técnicas de baixo impacto, podemos citar como exemplo a taipa, sistema construtivo característico das zonas rurais e populações tradicionais brasileiras, amplamente disseminado pelo território nacional (VASCONCELOS, 1979). Reexaminar esta técnica, e também o processo de mutirão que se estabelece, é contribuir para a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades, haja vista as excelentes propriedades da terra crua como matéria-prima para a construção do abrigo (HOUBEN & DOAT, 1983).

No Laboratório de Investigação em Living Design (LILD) da PUC – Rio, vem sendo realizados estudos sistemáticos direcionados à aplicação do bambu, da terra crua, e das fibras vegetais em construções de baixo impacto. O objetivo do presente trabalho foi verificar o inter-relacionamento de tramas de bambu associadas à terra crua, como alternativa sustentável do ponto de vista sócio-ambiental, para produção de elementos de vedação.

METODOLOGIA:

A produção material dos povos tradicionais conhecida como taipa (ou pau-a-pique) foi o referencial para o desenvolvimento de alguns experimentos de vedações combinando colmos de Phyllostachys aurea (espécie de bambu originária da Ásia), fibras de sisal (Agave sp.) e terra crua.

No primeiro experimento, foram preparados dois bastidores triangulares feitos de ripas de madeira, com tramas de fitas retilíneas de bambu cruzadas em duas direções, formando uma retícula losangular, sobre os quais foi aplicada a terra crua. Na trama do primeiro bastidor, as fitas ficaram encostadas na região de seus cruzamentos, enquanto no segundo bastidor as fitas foram separadas, por espaçadores cilíndricos produzidos com o próprio bambu (especificamente com os nós), nos seus cruzamentos.

No segundo experimento, foi produzida uma fôrma triangular de madeira, dentro da qual foram colocadas terra crua com fibras de sisal e as tramas de bambu. No primeiro modelo, foi utilizada a trama descrita acima sem espaçadores, enquanto no segundo modelo foi utilizada a trama convencional, formada pelos paus-a-pique (elementos verticais) e envaros (elementos horizontais).

Foi desenvolvida ainda uma planilha de avaliação de desempenho físico dos protótipos, que consistiu na verificação, por inspeção visual, das fissuras, descolamentos e eflorescências, tendo como referência os trabalhos de BARBOSA et al. (2000), para a Coletânea Habitare, que trata de normalização e certificação na construção habitacional.

RESULTADOS:

Com relação ao primeiro experimento (bastidores), no que tange ao acabamento, a trama sem espaçadores, em função do próprio método de fixação ao bastidor, obteve uma superfície mais homogênea, apresentando ainda um menor consumo de terra crua, em relação à trama com espaçadores, fato desejável qundo tratamos de recursos não-renováveis. A ocorrência de rachaduras foi equivalente em ambos os casos, enquanto o descolamento de placas foi observado apenas na trama sem espaçadores.

No segundo experimento (fôrmas), foi verificada uma diferença considerável no consumo de terra crua. Enquanto no modelo com a trama tradicional a amostra atingiu uma espessura de 08 cm, no modelo com a retícula losangular o consumo de barro diminuiu consideravelmente, ficando a amostra com 04 cm de espessura, em função da diminuição do número de planos da trama ( de 03 para 02 ). A adição de fibras vegetais à terra crua, agente conhecido por evitar a formação de fissuras, favoreceu a diminuição das trincas e reduziu o peso da estrutura, ocasionando conseqüentemente uma economia no processo de produção e transporte.

O menor peso favoreceria a pré-fabricação, na medida que o consumo energético e de materiais diminuiria consideravelmente (da ordem de 50 %, pelo menos). A inércia térmica do material diminuiria com espessuras menores, propiciando um desempenho mais adequado aos trópicos, que exige vedações leves e de baixa condutibilidade térmica, em função das altas temperaturas e umidades do bioma atlântico.

CONCLUSÕES:

Compósitos baseados em terra crua, associados a tramas de bambu, apresentam além das conhecidas vantagens face suas excelentes propriedades térmicas, grande potencial de utilização na indústria da construção, em função da baixa quantidade de energia utilizada no processo de produção, fácil assimilação por mão-de-obra não-especializada, além de flexibilidade quantos aos potenciais tipos de solo.

A utilização das tramas estudadas abre novas perspectivas no processo de produção do sistema de taipa de sopapo ou pau-a-pique, na medida que se trata de elemento que pode ser pré-fabricado, em locais pré-determinados para este fim, com materiais provenientes de outras localidades ainda, sendo posteriormente transportado para que se efetue o acoplamento do barro in loco.

Dentre as vantagens sócio-ambientais identificadas, estão a valorização da cultura local, o fomento e preservação do processo de mutirão, além de um consumo significativamente menor tanto de terra quanto de bambu no processo de produção.

 

Referências Bibliográficas

 

BARBOSA, M.J.; CARBONARI, B.M.T.; SAKAMOTO, J.; ADACHI, A.Z.; CORTELASSI, E.M.; JÚNIOR, E.B.S.; ZANON, M.V. Aperfeiçoamento e desenvolvimento de novos métodos de avaliação de desempenho para subsidiar a elaboração e revisão de normas técnicas. Rio de Janeiro, Coletânea Habitare, v. 3, Normalização e Certificação na Construção Habitacional, 2000.

HOUBEN, H.; DOAT, P. Tecnologia de Construccion em Tierra sin Cocer. Conescal, n. 59 / 60, 1983.

SCHUMACHER, F.E. O negócio é ser pequeno. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1976.

VASCONCELOS, S. Arquitetura no Brasil: sistemas Construtivos. Belo Horizonte, Ronai Editora, 1979.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Brasil
 
Palavras-chave: Bambu; Taipa; Sustentabilidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006