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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
CULTIVO DE Gymnotus carapo (GYMTOTIDAE, SILURIFORMES-TELEOSTEI) E LEVANTAMENTO DE ITENS ALIMENTARES E POTENCIAIS PREDADORES DE MATRIZES E ALEVINOS
Thales Simioni Amaral 1, 2
Luiz Eduardo Aparecido Grassi 2
Clayton Marcos Pereira Bezerra 1, 2
Vanessa Bellucci Vergílio 1, 2
(1. Programa de Iniciação Cientifica PIBIC/UEMS; 2. Curso de Ciências Biológicas-UEMS, Unidade de Dourados)
INTRODUÇÃO:

O cultivo de espécies nativas no Brasil vem se mostrando necessário para o equilíbrio das populações naturais, pois a constante retirada destes animais de seu meio causa grandes impactos no ambiente, assim como o gradativo aumento da pesca esportiva no país, reduzindo as populações de espécies utilizadas como isca-viva sendo Gymnotus carapo uma das espécies de peixe mais comercializadas, representando importante parte do contexto econômico nacional. Apesar da importância para a pesca, pouco se sabe sobre a biologia reprodutiva de G. carapo, fator fundamental para o manejo em cativeiro, sendo relevante os aspectos ecológicos como alimentação, sanidade e predação. O cultivo dessa espécie, aproximando-se à condição natural, requer a presença de fitoplâncton, zooplâncton, e espécies de invertebrados, obtendo-se assim, condições para a manutenção de exemplares adultos e alevinos de G. carapo, não sendo necessário o fornecimento de alimentação externa. Esta alimentação natural é justificável por se tratar de cultivo destinado à reprodução sendo indicada, portanto, a menor interferência possível. Este estudo objetivou manutenção em cativeiro, elaboração de técnicas de manejo adequadas à produção e acompanhamento da reprodução, além da identificação de espécies presentes no ambiente de cultivo para estabelecer relações nutricionais e de predação sobre matrizes e alevinos de Gymnotus carapo.

METODOLOGIA:

Os animais foram capturados em córregos da região de Dourados-MS, e dispostos em tanques de lona plástica com dimensões de 10x5x1m, sendo feita a introdução de espécies de macrófitas aquáticas, fito e zooplâncton, efetuada com material proveniente do Rio Miranda, da região do Pantanal e do Rio Iguatemi, havendo posteriormente permuta de material entre os tanques com o objetivo de uniformização em relação às espécies, fito e zooplanctônicas. Estes procedimentos visaram iniciar o povoamento por organismos aquáticos, para a obtenção de características próximas das naturais incluindo a oferta de itens alimentares para a espécie. Após um período de maturação (4 meses) foram introduzidos os exemplares de G. carapo divididos em dois lotes, o primeiro contendo 60 indivíduos e o segundo contendo 240 indivíduos, além de outras espécies de peixes da região para o controle de predadores de alevinos no ambiente. Um outro lote foi mantido isolado em aquário para avaliar a taxa de crescimento em comparação aos indivíduos presentes nos tanques de cultivo. A coleta de insetos, outros invertebrados e anfíbios foi feita através de captura com um puçá de malha fina (1mm) junto ao fundo e à vegetação. Os animais coletados foram fixados em formol 4% e conservados em álcool 70% para posterior identificação e classificação.

RESULTADOS:

Após quinze dias da introdução de G.carapo nos tanques observou-se desova na raiz de aguapé. os ovos encontrados apresentavam ±2 mm de diâmetro e coloração alaranjada e translúcida, aderidos às raízes na forma de um cordão. Coletaram-se ainda, alevinos (±15mm) comprovando desova anterior. Coletas posteriores demonstraram 4 classes de tamanho sugerindo desovas distintas de Gymnotus carapo. Observou-se em lote isolado (aquário) a taxa de crescimento médio dos alevinos que foi de 0,10mm/dia, sob dieta composta por fito e zooplâncton. Alevinos mantidos em tanques-rede (tanque de cultivo) apresentaram crescimento médio de 0,28mm/dia, sob dieta de insetos aquáticos. Posteriormente, foram coletados alevinos com ±20mm, sugerindo que o período reprodutivo da espécie na região, sob condições de cultivo, estende-se de outubro a maio. Dentre as espécies de invertebrados encontraram-se espécimes da Ordem Odonata com exemplares de Aeshnidae, Libellulidae, Calopterigidae sendo os principais predadores de alevinos; espécimes da Ordem Homoptera com exemplares de Delphacidae; espécimes da Ordem Hemiptera com exemplares de Belostomatidae; e um parasita do Filo Arthropoda, Argulus sp., que, em grandes concentrações causa severos prejuízos à piscicultura,  sendo observado mais freqüentemente no inverno. Do Filo Mollusca foram encontrados espécimes da Classe Gastropoda com exemplares da Subclasse Prosobranchia e Pulmonata, além da presença de anuros e aves predadoras. Não foi detectada influência da variação sazonal no número de espécies de insetos aquáticos coletadas nos tanques de cultivo.

CONCLUSÕES:

Este estudo indica que apesar da grande disponibilidade de itens alimentares e condições favoráveis para a reprodução e desenvolvimento dos alevinos, a presença de espécies predadoras (insetos aquáticos) influenciou negativamente o processo de desenvolvimento sendo observado uma drástica redução do número de alevinos. Estes dados indicam que um ideal desenvolvimento de alevinos de Gymnotus carapo em cativeiro, requer o isolamento dos tanques de cultivo, considerando a susceptibilidade dos alevinos aos predadores encontrados.

Instituição de fomento: PIBIC/UEMS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: produção; predação; Gymnotus carapo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006