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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
IDENTIDADE ÉTNICA DE CRIANÇAS DA TRIBO XOCÓ
Martha Emanuela Soares da Silva 1
Denise de Souza Silva 2
Guilherme Fernandes Melo dos Santos 2
Ana Luiza Sobral Oliveira 3
Fernanda Hermínia Oliveira 3
Marcus Eugênio Oliveira Lima 4
(1. Bolsista Pibic/CNPq, curso de Psicologia, Universidade Federal de Sergipe/UFS; 2. Bolsista COPES/Pibic, curso de Psicologia, Universidade Federal de Sergipe/UFS; 3. Estudante de graduação, curso de Psicologia, Universidade Federal de Sergipe/UFS; 4. Prof. Dr. do Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Sergipe - UFS)
INTRODUÇÃO:
O único grupo indígena encontrado atualmente em Sergipe é o Xocó. Esse grupo vive na Ilha de São Pedro e na Caiçara, na região do baixo São Francisco, pertencente ao município de Porto da Folha. Os Xocós são remanescentes de vários outros grupos indígenas, que devido a fatores como a escravidão e a crescente miscigenação ocorridas nos séculos passados, foram aos poucos perdendo as características culturais e fenotípicas de seus grupos de origem. A luta pela terra entre índios e alguns fazendeiros da região foi uma questão estruturante na história desse povo, tendo sido resolvida a favor dos índios apenas no final do século XX. Os Xocós haviam sido expulsos de suas terras com base na alegação de que, devido à miscigenação, não eram mais índios. Este fator se mostra decisivo no entendimento do modo de vida atual deste grupo indígena, que luta por preservar a identidade, a cultura e as tradições indígenas, em que pese o fato de, no nível do fenótipo, os Xocós se apresentarem em sua maioria como negros ou mulatos. Tendo por base estes aspectos formulamos algumas questões que motivaram este estudo: Que repercussões têm para a identidade étnica de uma criança ser fisicamente negra e política e culturalmente indígena? Quais são os sentimentos/avaliações anexadas pelas crianças Xocós à sua identidade e cultura indígenas?
METODOLOGIA:

Para tentarmos responder a estas questões realizamos um estudo com 40 crianças da tribo Xocó, com idades entre 5 e 12 anos; sendo 26 meninos e 14 meninas. Estas crianças cursavam entre a 1ª e a 7ª série do ensino fundamental. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se um roteiro de entrevista que continha questões sobre a auto-definição da cor da pele, identificação ou não com outras crianças representativas de três grupos étnicos brasileiros (branco, negro e índio), desejo de mudar algo em si mesmas e o quê mudaria, além de questões sobre o sentimento de pertença com relação ao próprio grupo. As entrevistas foram feitas em salas reservadas de uma das escolas localizada na comunidade Xocó. Como material foram utilizadas fotografias de crianças dos grupos étnicos da sociedade brasileira, citados anteriormente, com idade e gênero semelhante aos das crianças entrevistadas.

 

RESULTADOS:
As crianças apresentam 10 denominações diferentes para a sua cor. A maioria se define como “morenas” (16)  ou “pretas” (8); 5 se dizem “brancas” e 3 “negras”. Esse resultado parece refletir a miscigenação que caracteriza os Xocós. Ao solicitadas a escolher dentre três fotos de outras crianças, qual se parecia mais com ela mesma, 18 crianças apontaram a fotografia da criança negra, 12 a da índia e 10 a da branca. Das 18 crianças que escolheram a fotografia da criança negra, apenas 9 afirmaram gostar de se parecer com a criança da foto. Entre as que escolheram a fotografia da criança branca, 3 disseram que gostavam de se parecer com ela, porém das 12 crianças que escolheram a fotografia da criança indígena, todas responderam gostar muito de ser parecidas com ela. Esse dado pode ser reforçado pelas principais justificativas apresentadas pelas crianças que diziam gostar de ser índias, pois estas se referiam a elementos culturais como: “gosto de dançar”, “é bom fazer flecha”, ou até mesmo “porque é bom ser índio”. Quando indagadas se gostariam de ser diferentes do que são, metade das crianças afirma que sim; sendo que, destas 20 crianças, 9 gostariam de mudar a cor da pele, 4 o cabelo e 2 “tudo”. O que parece significar uma insatisfação com a aparência física negra, pois quando perguntados se gostariam de se parecer com outra das crianças das fotografias, das 28 crianças que responderam “sim”, 15 gostariam de se parecer com a criança branca, 10 com a índia e apenas 3 com a negra.
CONCLUSÕES:
A partir disso é possível concluir que existe uma identificação entre as crinças Xocó e a pertença ao grupo dos índios. As respostas que justificavam o sentimento positivo de gostarem de ser índias apontam para uma percepção positiva da criança Xocó com relação a sua pertença grupal. Isso pode significar que o fato das crianças se considerarem índias, vai muito além da sua aparência física, pois a maioria delas é negra. No entanto, os resultados que sugerem que apesar de haver uma identificação cultural com à pertença indígena, existe uma insatisfação com a cor da pele negra e uma identificação racial com a cor da pele branca. Este padrão de resultados parece refletir aspectos mais gerais dos fenômenos do racismo e do branqueamento no Brasil, aos quais os índios também não estão imunes. O próximo objetivo será efetuar uma comparação entre os resultados encontrados neste estudo com a interpretação dos dados de uma pesquisa feita utilizando os mesmos moldes, na qual participaram crianças quilombolas de uma região próxima a Ilha de São Pedro.
Instituição de fomento: PIBIC/UFS, CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: identidade étnica; pertença grupal; sentimento de pertença.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006