| G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social |
|
SUBJETIVIDADE E TRABALHO DOCENTE NA CONTEMPORANEIDADE |
|
| Samira Meletti da Silva Goulart 1 |
| Sabrina Barbosa da Silva Nigri 1 |
| Deise Mancebo 1 |
|
| (1. Departamento de Psicologia Social e Institucional da UERJ/ DPSI-UERJ) |
|
|
| INTRODUÇÃO: |
A presente pesquisa visou analisar o trabalho docente sob o viés dos processos de globalização em curso, considerando as novas ordenações políticas, econômicas e sociais que têm afetado a universidade, privilegiando a produção de novas subjetividades no campo específico do trabalho docente. A partir da década de 1970, verificou-se uma crise no modo de produção capitalista, fazendo emergir novos processos de trabalho com a flexibilização da produção, dentre outros aspectos. Nesse novo contexto de globalização, experimenta-se uma multiplicidade de conseqüências sociais, geradas ou reforçadas por esse processo desigual, como o aumento da exclusão social e espacial, a concentração de renda, o achatamento salarial, o incremento do desemprego estrutural, a flexibilização dos direitos sociais e o aumento do sentimento de insegurança no trabalho. As instituições de educação superior foram visceralmente atravessadas pelos processos decorrentes da globalização e pelas mudanças ocorridas na esfera do trabalho, surgindo uma nova maneira de gerenciamento das mesmas; acarretando redefinições, de ordem objetiva e subjetiva. Pretendeu-se com a pesquisa uma maior compreensão da universidade, visto que ela é um espaço privilegiado de construção e expressão das subjetividades e seu estudo pode contribuir para o entendimento da complexidade subjetiva contemporânea. |
|
| METODOLOGIA: |
Para o desenvolvimento da investigação foram utilizados tanto métodos quantitativos quanto qualitativos, dependendo do que se apresentou em foco em cada fase da pesquisa. A primeira etapa consistiu em um levantamento bibliográfico em torno da temática aqui desenvolvida, iniciando-se com uma visão mais abrangente sobre trabalho, até chegarmos à análise de documentos referentes à educação superior brasileira, passando pelo estudo de textos sobre processos intersubjetivos mobilizados pelo trabalho docente. A metodologia teve por base a análise de conteúdo, o que possibilitou a sistematização do corpus analítico do trabalho e sua classificação em temáticas significativas, tendo em vista a compreensão do trabalho docente no atual contexto. Após o processo de consolidação do referencial teórico, foi iniciada a pesquisa de campo, norteada por levantamentos estatísticos, já existentes, referentes à Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foram realizadas entrevistas individuais, semi-dirigidas, com docentes da referida universidade. Os participantes foram escolhidos de acordo com a posição que ocupam em relação à universidade, dando-se preferência para aqueles com contratos temporários. A metodologia consistiu na análise sistemática e detalhada das situações de trabalho e saúde dos docentes da UERJ, considerando fatores como sexo, faixa etária, número de empregos, situação funcional, carreira, jornada, condições de trabalho, organização do trabalho e tipos de gestão. |
|
| RESULTADOS: |
Foi possível observar que o trabalho do professor universitário não passou imune às transformações na esfera laboral, trazidas pela globalização. Houve uma precarização do trabalho docente, na qual proliferaram as (sub)contratações temporárias de professores, com a conseqüente intensificação do regime de trabalho, aumento do sofrimento subjetivo, neutralização da mobilização coletiva e aprofundamento do individualismo. Além disto, houve uma flexibilização do trabalho que acarretou uma transfiguração das atividades docentes consideradas básicas: ensino, pesquisa e extensão. O ensino se flexibilizou, através de cursos de curta duração, ensino à distância, além da diminuição da carga horária exigida. Verificou-se a acentuação da velocidade, com imediatismo das pesquisas, a formação de mais alunos em menos tempo, dentre outras práticas. Observou-se, ainda, que o tempo fora do trabalho confunde-se com o tempo de trabalho, fazendo o docente trabalhar em tempo integral. Constatou-se, também, que a qualificação acadêmico-científica apresenta-se bastante diversificada, com grande diferença no que consiste ao salário e direitos empregatícios, em relação aos funcionários públicos e aos contratados. Além disto, notou-se uma significativa diferença entre o trabalho docente realmente realizado e o trabalho docente prescrito. |
|
| CONCLUSÕES: |
De acordo com os resultados obtidos pôde-se observar que as transformações ocorridas vêm afetando as rotinas de trabalho, acelerando a produção acadêmica, aumentando a superficialidade das comunicações e dos produtos acadêmicos. Tudo isso desencadeia um conjunto de insatisfações pessoais, além de stress e outras doenças. Ainda neste contexto, a dimensão interrogativa e crítica do trabalho docente é subtraída e as referências éticas são deixadas de lado, havendo desvalorização da produção de conhecimento e da destinação social do trabalho feito na universidade, que se torna submisso às demandas do mercado. Como conseqüência, existe o risco das áreas de menor comerciabilidade e de maior potencial crítico serem marginalizadas. Avaliações são realizadas com freqüência, com publicações hierarquizadas de resultados, o que acarreta maior competição entre docentes, grupos e institutos, demandando uma busca incessante por resultados. Tudo isso gerou mudanças nos modos de ser dos docentes, que, de certa maneira, reproduzem ainda mais as tendências individualista e competitiva exigidas atualmente, repercutindo nas suas relações dentro (e fora) da universidade. Verificou-se que o trabalho compromete o corpo biológico, mas também a dimensão afetiva e subjetiva, e a universidade, de fato, mostrou-se um campo fértil para a análise das subjetividades, podendo elucidar grandes questões e problemas contemporâneos. |
|
Instituição de fomento: CNPq, UERJ, FAPERJ.
|
|
Trabalho de Iniciação Científica
|
|
Palavras-chave: subjetividade; trabalho docente; ensino superior. |
|
| Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |
|