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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
FAMÍLIAS E EXCLUSÃO SOCIAL NA PARAÍBA
Cynthia de Freitas Melo 1
Eliana Monteiro Moreira 1
Tássia Evenly Angel Leal  1
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho “Famílias e Exclusão Social na Paraíba” está integrado a um dos eixos temáticos do Projeto de Pesquisa “Precarização, Desenraizamento e Desigualdade Social”. No decorrer das discussões empreendidas à medida que avançamos nos levantamentos acerca dos processos de des(enraizamento), a família tem sido evocada pelos sujeitos como núcleo responsável, não só por assegurar a subsistência material de seus membros, mas como espaço de apoio afetivo de pertencimento, assegurando a estes o enfrentar da fragmentação e do desamparo provocado pela vida de privações. Isso reforçou nosso interesse em aprofundar a temática sobre a família, procurando em especial captar de que forma a precarização das condições de vida vem influenciando a reordenação dos papéis familiares, como forma de superaração das dificuldades cotidianas. Verificando se as privações que as famílias tem enfrentado tem levado à secundarização do papel do homem, não só como  provedor da subsistência familiar, mas se atingiu também sua imagem de responsável pelo repasse de valores e normas estruturantes da educação dos filhos. Buscou-se compreender de que forma os jovens reagem à reorganização de papéis que vem ocorrendo no interior dos espaços familiares. Assim como apreender a importância que a família tem para cada um de seus membros, assim como a percepção das transformações que esta vem passando.
METODOLOGIA:

O núcleo de nossas investigações centraliza-se em compreender a organização e as transformações observadas nas famílias residentes nas comunidades São Rafael e Padre Hildon; procurando também apreender que programas e/ou ações do Estado vem sendo desenvolvidas nessas áreas de invasão/ ocupação situadas no centro da cidade de João Pessoa. Paralelamente, foram feitas visitas sistemáticas às comunidades para conhecermos a realidade desses espaços, e termos uma aproximação com seus moradores, a fim de gerar um clima de confiança e estabelecer contato com as famílias que seriam entrevistadas, momento fundamental no resgate de elementos que enriqueceram o conteúdo dos roteiros de entrevistas. O estudo exigiu um “mergulho na situação”,  nos fornecendo sempre aspectos novos e relevantes das sociabilidades; o dia-a-dia das áreas, seus contos e conflitos existentes. Foi contemplado o uso do diário de campo, um “arquivo de informações” de grande utilidade, sendo nele registradas as observações feitas e as informações obtidas pelos moradores. Foi escolhido para nossos levantamentos a entrevista com roteiro semi- estruturado pelo fato de acreditarmos ser o instrumento que dá ao entrevistado liberdade de expressar mais espontaneamente sua subjetividade, suas imagens, opinião e sentimentos. Como critério básico, em se tratando de uma pesquisa qualitativa, optamos por um número não extenso de unidades familiares (6), para assegurarmos um nível de aprofundamento das questões perseguidas.

RESULTADOS:
Podemos perceber a importância que continua ter a família, mesmo exposta à situação de forte precarização, e que as mudanças ocorridas ou vivenciadas pelas unidades familiares não tem se expressado tanto em rompimentos freqüentes, ou dissolução das uniões. Verificando também que a educação dos filhos, não se trata mais de uma responsabilidade exclusiva da mãe.  Podemos verificar que a mulheres e os jovens vem assumindo, cada vez mais, posições antes destinadas exclusivamente aos homens. Mulheres que têm procurado as formas mais diversificadas de atividade para assegurar o básico para o sustento familiar. Muitas delas, trabalham fora de casa, ou utilizam o espaço da casa para trabalharem, por exemplo, como lavadeiras, e mercearias  o que faz com que  possam conciliar as  atividades domésticas, ao lado de ocupações que assegurem alguma entrada suplementar de dinheiro, para ajudar nas despesas. Percebemos que para estes homens perder sua condição de provedor exclusivo da família  é algo  ainda  de mais  difícil aceitação, pois embora a realidade diária seja outra, as divisões tradicionais de papeis são bem fortes para eles. Contemplando em especial que essas mudanças vêm se dando mais internamente no que tange a secundarização dos homens nas responsabilidades material da casa, sem que isto implique a perda do “comando” moral disciplinador dos membros jovens, mesmo com a entrada desses no participar das despesas domésticas juntamente com a mãe.
CONCLUSÕES:
Nossas buscas têm mostrado com evidência os rebatimentos que a desigualdade sócio-econômica tem provocado sobre os sujeitos das comunidades Padre Hildon e São Rafael no que diz respeito as mais diversas condições de trabalho. O desemprego, as dificuldades de reinserção no mercado de trabalho, a dependência, por conta dessas atividades e/ou virações intermitentes e de tudo desqualificadas, tem indicado constituir a realidade enfrentada pelas famílias visitadas. Levando em consideração  as condições que caracterizam uma região como a do Nordeste e, mais diretamente, a realidade paraibana aí situada, a questão das modificações internas, das novas atribuições e das responsabilidades, refletem exatamente as reverbações de uma condição econômica que vem atingindo mais diretamente os segmentos mais pauperizados de nossa sociedade. Pelo que temos observado, os jovens também buscam alguma forma de assegurar uma certa colaboração, por pequena que seja, mas que represente alguma ajuda pra a casa, tendo em vista que, agora, pelo que as informações apontam, só as mulheres parecem estar conseguindo “segurar a barra”, saindo dos espaços domésticos , onde sempre estiveram confinadas, para assumir o mercado de trabalho. Contemplando que, embora secundarizados nas responsabilidades material da casa, devido à participação dos outros membros nas despesas domésticas, o homem não perdeu seu papel de “cabeça” da família. Percebendo o respeito que existe dos jovens para com o pai, “chefe da família”.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológio
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Exclusão-social; Família; Papéis-familiares.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006