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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica

A INTERDISCIPLINARIDADE E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO

Ângela Maria Hartmann 1
Erika Zimmermann 1
(1. Pós-graduação em Educação da Universidade de Brasília)
INTRODUÇÃO:

Com a introdução das diretrizes curriculares apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), em 2000, a interdisciplinaridade passou a ser, oficialmente, um dos eixos norteadores do Ensino Médio (EM) nas escolas públicas do Brasil.

A interdisciplinaridade, por partir do pressuposto que a realidade é una e indivisível e conceber o conhecimento como aberto, com verdades apenas relativas, exige do educador uma maneira de ensinar que desenvolva no estudante a competência de estabelecer relações entre partes e o todo, superando a concepção unidirecional e fragmentada do conhecimento que tem caracterizado sua prática.

O currículo das escolas públicas do Distrito Federal, por sua vez, caracteriza-se pela divisão do conhecimento escolar em disciplinas específicas, agrupando-as por áreas de conhecimento com o objetivo de facilitar sua integração. Cabe aos professores descobrir como manter um diálogo entre elas e desenvolver um ensino capaz de fazer com os estudantes aprendam a relacionar os diferentes segmentos do conhecimento. No entanto, os professores de EM que atuam nas redes de ensino possuem uma formação profissional especializada, um aspecto que diferencia sua formação das exigências pedagógicas atuais.

Essa pesquisa teve por objetivo investigar as mudanças percebidas por professores de EM em sua prática pedagógica devido à realização de atividades interdisciplinares e os elementos da sua formação profissional que lhes propiciam essa adaptação.

METODOLOGIA:

Essa pesquisa constituiu-se de um estudo de caso de uma escola pública de EM do Distrito Federal, que se caracteriza por realizar atividades interdisciplinares mesmo antes das orientações curriculares, contidas nos PCNEM, chegarem às escolas.

Solicitou-se a professores de Física (1), Química (2), Biologia (2), Matemática (1), Educação Física (1), Filosofia (1), História (1), Português (2) que descrevessem, em um questionário aberto, as mudanças observadas em sua prática pedagógica a partir do seu envolvimento com a realização de atividades interdisciplinares. Ao mesmo tempo solicitou-se que descrevessem os elementos de sua formação profissional que os auxiliam a desenvolver uma prática integrada. Seis professores pesquisados fazem parte do corpo docente da escola desde antes de 2000, dois passaram a exercer a profissão em 2000, e outros três foram professores em outras escolas.

O principal objetivo da pesquisa era examinar que mudanças os professores percebem em sua prática pedagógica e os prós e os contras que vêem nessa mudança. Outro objetivo era examinar se, na formação inicial daqueles que concluíram o curso de licenciatura recentemente, existem elementos que facilitam seu trabalho mais do que para aqueles que têm mais tempo de formação e precisam atualizar sua prática trabalhando.

Para cada uma dessas questões foram estabelecidas categorias que unificam as respostas que têm em comum a mesma mudança de prática, os mesmos argumentos e o mesmo tipo de formação pedagógica.

RESULTADOS:

As mudanças percebidas pelos professores no trabalho pedagógico se caracterizam por: 1) maior contextualização do conteúdo; 2) necessidade de planejamento coletivo; 3) realização de avaliações conjuntas; 4) integração de conteúdos estudados normalmente em tempos diferentes pelas disciplinas; 5) postura de abertura para integração com outras áreas do conhecimento; 6) trabalho com projetos coletivos; 7) busca de aperfeiçoamento e atualização.

Os argumentos apresentados pelos professores como favoráveis nessa mudança de prática são: 1) maior motivação dos estudantes; 2) aumento da aprendizagem de alunos e professores; 3) aplicação de conhecimentos de uma disciplina em outra. Os argumentos contra a mudança são: 1) dificuldades de planejar coletivamente; 2) falta de materiais didáticos; 3) medo de trabalhar coletivamente devido à falta de preparo.

Os elementos da formação profissional que auxiliam a realização de uma prática interdisciplinar são: 1) no caso de professores mais recentemente formados: a) ter tido uma formação que envolvia a obrigatoriedade de cursar disciplinas que não estão diretamente relacionadas à sua formação específica; b) cursar disciplinas de formação específica integradas a outras (exemplo: bioquímica); 2) no caso de professores formados há mais de cinco anos: a) ter participado de oficinas de interdisciplinaridade; b) possuir habilidades de observação de como os fenômenos se interligam; c) trabalhar com colegas que já colocavam a interdisciplinaridade em prática.

CONCLUSÕES:

Os resultados da pesquisa mostram que a prática interdisciplinar exige do professor um esforço de atualização e de abertura e, do aluno, uma maior motivação para a aprendizagem. A capacidade de relacionar conteúdos de diferentes disciplinas é um aprendizado tanto para professores quanto para alunos, o que gera uma maneira de ver fatos e fenômenos como interligados e o conhecimento científico como algo vinculado ao cotidiano. Alunos e professores passam a conectar, com outras disciplinas, conhecimentos que antes eram tratados como exclusivos de uma delas.

Apesar dos aspectos favoráveis ao trabalho interdisciplinar, como uma maior motivação do aluno para a aprendizagem, existem resistências por parte do professor devido à falta de formação profissional e de material pedagógico, que auxilie na tarefa de integrar conteúdos. O professor sente-se inseguro e despreparado para um trabalho coletivo em que fica evidente sua falta de formação.

Uma mudança fundamental que se opera na prática, devido à formação insuficiente e às características disciplinares do currículo, é a necessidade que os professores percebem de planejar e executar coletivamente as atividades pedagógicas. Em um trabalho coletivo é necessário ultrapassar duas barreiras: a limitação da formação específica e a do individualismo no trabalho pedagógico. Além da atualização constante, para vencer essas barreiras, duas qualidades são necessárias ao educador: abertura para o novo e a cooperação profissional.

 
Palavras-chave: interdisciplinaridade; formação de professores de Ensino Médio; cooperação profissional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006